Autor original: Marcelo Medeiros
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Neste Dia Mundial de Luta contra a Aids, 1º de dezembro, o secretário geral das Nações Unidas, Kofi Annan, e o diretor geral da Unesco, Koichiro Matsuura, escrevem sobre 25 anos de luta contra a doença. Para Annan, essa batalha "supõe que cada um de nós ajude a tirar a aids das sombras e a difundir a mensagem de que o silêncio equivale à morte". Veja as mensagens.
Mensagem de Kofi Annan
Durante os 25 anos que se sucederam ao primeiro relato, a aids mudou o mundo. Matou 25 milhões de pessoas e infectou mais de 40 milhões. Transformou-se na principal causa de morte entre mulheres e homens de 15 a 59 anos. Causou o maior revés na história do desenvolvimento humano. Ou seja, transformou-se no maior desafio de nossa geração.
Durante muito tempo, o mundo viveu na negação. No entanto, nos últimos dez anos, as atitudes mudaram. O mundo começou a assumir a luta contra a aids com a seriedade que merece.
Recursos financeiros estão sendo empenhados como nunca tinha sido feito, as pessoas estão tendo acesso ao tratamento antiretroviral como nunca antes, e diversos países estão lutando para controlar a propagação da doença. Agora, como o número das infecções continua crescendo, necessitamos mobilizar a vontade política como nunca antes foi realizado.
A criação do Unaids, há uma década, reuniu as forças e os recursos das diferentes partes da família das Nações Unidas e marcou a transformação da maneira como o mundo respondia à aids. E, há cinco anos, todos os Estados-membros da ONU alcançaram um marco importante ao adotarem a Declaração de Compromisso – contendo diversos alvos específicos, de longo prazo e com datas estabelecidas para lutar contra a epidemia.
Naquele mesmo ano, ao fazer do HIV/aids uma prioridade pessoal do meu trabalho como secretário-geral, pedi a criação de um fundo adicional de sete a dez bilhões de dólares por ano. Hoje estou muito orgulhoso de ser o patrono do Fundo Global de Combate à Aids, à Tuberculose e à Malária, que arrecadou mais de 2,8 bilhões de dólares para programas em todo o mundo. Recentemente, temos visto um aumento significativo nos fundos de doadores bilaterais, de tesouros nacionais, da sociedade civil e de outras fontes. Os investimentos anuais no combate à aids nos de países de renda baixa e média totalizam agora mais de oito bilhões de dólares. Claro que ainda muito mais é necessário; em 2010, um total de 20 bilhões de dólares ao ano será preciso para combater a doença de forma eficaz. Mas pelo menos já começamos a obter os recursos e a desenvolver as estratégias necessárias.
Porque a resposta começou ganhar um “momentum” real, os perigos são mais elevados agora do que foram antes. Não podemos nos arriscar a deixar os avanços que foram alcançados se perderem; não devemos prejudicar os esforços heróicos de muitas pessoas. O desafio agora é cumprir todas as promessas que foram feitas – incluindo o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio, que todos os governos do mundo se comprometeram a cumprir, de deter a propagação do HIV/aids e começar a inverter a propagação do HIV até 2015. Líderes em todos os níveis reconhecem que deter a propagação da aids é também um pré-requisito para alcançar a maioria dos outros Objetivos, que, em conjunto, foram o projeto aprovado pela comunidade internacional para construir um mundo melhor no século XXI. Os líderes devem manter a palavra -- e sustentar a promessa diante de todos nós.
Prestação de contas – o tema deste Dia Mundial de Luta contra a Aids – exige que todo presidente e primeiro-ministro, cada parlamentar e político decida e declare que “a aids foi detida por mim”. Isso requer que lutem e protejam todos os grupos vulneráveis – sem se importar que sejam pessoas infectadas pelo HIV/aids, pessoas jovens, trabalhadores do sexo, usuários de droga injetáveis, ou homossexuais. Isto exige um trabalho em conjunto com grupos da sociedade civil, que são indispensáveis ao esforço. Exige um trabalho real, mudanças positivas que darão mais poder e confiança às mulheres e meninas, e que possam transformar as relações entre mulheres e homens em todos os níveis da sociedade.
Mas a prestação de contas aplica-se não somente àqueles que detêm posições de poder. Aplica-se também a todos nós. Requer que líderes empresariais trabalhem para a prevenção do HIV no trabalho e nas comunidades, e se preocupem com os trabalhadores afetados e suas famílias. Requer que trabalhadores da área da saúde, líderes comunitários e grupos religiosos ouçam e se preocupem, sem julgar. Requer que pais, maridos, filhos e irmãos dêem apoio e sejam a favor do direito das mulheres. Requer que professores alimentem os sonhos e as aspirações das meninas. Requer que homens ajudem a assegurar que outros homens assumam sua responsabilidade -- e compreendam que a verdadeira masculinidade significa proteger os outros do risco. E requer que cada um de nós a ajude a tirar a aids das sombras, e espalhar a mensagem de que o silêncio é a morte.
Logo estarei deixando o cargo de secretário-geral das Nações Unidas. Mas enquanto tiver forças, seguirei divulgando essa mensagem. Essa é a razão de o Dia Mundial de Luta contra a Aids ser sempre especial para mim. Neste dia, vamos manter esta promessa – não somente neste dia, ou neste ano, ou no ano seguinte, mas diariamente, até que a epidemia seja vencida.
Mensagem do diretor-geral da Unesco, Koïchiro Matsuura
Este ano faz 25 anos da primeira vez que se ouviu no mundo a sigla aids. Desde 1981, nós testemunhamos grandes avanços nas respostas à epidemia – desde indivíduos e comunidades locais até em âmbito global. Diferentes públicos se uniram para enfrentar um desafio comum. Houve descobertas científicas importantes (em particular, no desenvolvimento do tratamento anti-retroviral), níveis jamais vistos de mobilização de recursos, e progresso na coordenação e na melhoria da eficácia da resposta.
Apesar desses avanços, entretanto, aproximadamente 40 milhões de pessoas estão vivendo com HIV hoje; estima-se que 8.500 novas infecções ocorram diariamente e somente uma em cada 10 pessoas têm acesso aos serviços de tratamento e prevenção, incluindo a prevenção da transmissão de mãe para filho e o acesso à terapia anti-retroviral. As mulheres jovens e as meninas são desproporcionalmente vulneráveis ao HIV devido às desigualdades e aos papéis tradicionais de gênero; os jovens com idade entre 15 e 24 anos compreendem 50% das novas infecções; e lamentavelmente populações vulneráveis continuam sem atendimento adequado pelas ações nacionais, incluindo trabalhadores do sexo, homens que fazem sexo com homens e usuários de drogas injetáveis.
Não pode haver espaço para complacência quando se fala do HIV e da aids. Uma forte ação é requerida, particularmente por meio de esforços de prevenção maciçamente expandidos e intensificados ao lado de atividades que visam ampliar o acesso ao tratamento e à assistência. Caso contrário, a epidemia continuará a avançar e ameaçará o desenvolvimento duramente conquistado e as perspectivas futuras para o desenvolvimento sustentável. Respostas coordenadas, estratégicas e intensificadas são necessárias para o mundo impedir uma maior propagação do HIV e para proteger indivíduos, famílias, comunidades e nações do impacto da aids.
Este ano, o Dia Mundial da Luta contra a Aids é dedicado ao tema da responsabilidade. É um tema que abarca a responsabilidade individual, solidariedade entre indivíduos e grupos de diferentes países, além de compromissos feitos pelas principais organizações globais e por governos nacionais. Em muitos casos, a responsabilidade se resume em saber se os compromissos estão sendo honrados e as promessas estão sendo mantidas. Neste sentido, existem indicadores encorajadores de que o mundo está disposto a enfrentar o desafio atualmente apresentado pela epidemia. Os governos comprometeram-se a acelerar a luta contra a epidemia na Sessão Extraordinária da Assembléia Geral das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Ungass), em 2001, um compromisso que foi reafirmado na Cúpula Mundial das Nações Unidas, em 2005, e também na Reunião de Alto Nível sobre Aids deste ano. Nos anos seguintes à Ungass, houve uma ação reforçada em todos os níveis, com o fortalecimento dos compromissos e das lideranças com mais recursos e melhores serviços para a prevenção ao HIV, ao tratamento e à assistência. Alguns países também relataram progressos nacionais em relação a direitos humanos e envolveram a sociedade civil no desenvolvimento, na execução e na avaliação das ações nacionais.
Por sua parte, a Unesco empreende seu trabalho no contexto de um esforço organizado mais abrangente com o Unaids em direção a um acesso universal à prevenção, ao tratamento e à assistência. A prioridade que a Unesco deu à educação é baseada na evidência de que a educação contribui para o conhecimento e a obtenção de habilidades pessoais essenciais para a prevenção do HIV, e protege indivíduos, famílias, comunidades e nações do impacto da aids. A educação ajuda a superar as circunstâncias que facilitam a propagação do HIV, incluindo a pobreza, falta de saúde, violência e abusos, particularmente contra meninas e mulheres. Além disso, a educação pode criar as condições de compreensão e tolerância que contribuem para reduzir o estigma e a discriminação contra as pessoas vivendo com HIV.
Em 2004, a Unesco aumentou seu engajamento ao estabelecer seu papel principal de liderança no Educaids, a Iniciativa Global na Educação em HIV/Aids, que é uma diretriz da instituição, apoiando ações de grande alcance do setor de educação. Trinta países estão atualmente engajados no Educaids e outros mais demonstram interesse. Além disso, todos os setores da Unesco, institutos e escritórios de campo contribuem para o trabalho da organização em HIV/Aids, que está atraindo um maior reconhecimento e sustentação.
Para refletir as prioridades do Acesso Universal e do papel da Unesco dentro do Unaids, no início deste ano eu iniciei uma revisão e atualização da estratégia do Unesco em HIV/aids. Isto está sendo conduzido por meio de um processo extensivo de consulta por toda a Unesco e, quando terminado no fim deste ano, fornecerá a estrutura que guiará nossas ações pelos próximos anos. O objetivo global dessa estratégia permanece o de assegurar que os Estados-membros tenham a resposta a mais eficaz ao HIV e à aids em todos os setores relevantes ao mandato de Unesco. A prioridade deve ser a de impedir a propagação do HIV através da educação e proteger os sistema de educação dos piores efeitos da epidemia, contando com as forças e os recursos de todos os setores do Unesco.
Além das atividades da Unesco em âmbito programático, nós demos passos significativos em fazer da organização um lugar de trabalho mais seguro e protetor. Uma política recentemente atualizada para o ambiente de trabalho da Unesco sobre HIV/aids busca continuamente gerar consciência entre a equipe da Unesco por meio de sessões do treinamento devotadas ao assunto. A Unesco é um parceiro ativo no Programa Coletivo das Nações Unidas "UN Cares", que visa fornecer educação, cuidado e apoio para os que trabalham na ONU em todo o mundo. Além disso, máquinas de venda automáticas de preservativos serão instaladas na sede da Unesco até o fim do ano para permitir acesso a estes itens que salvam vidas.
Dessas e de outras maneiras, a Unesco está enfrentando os desafios apresentados pela epidemia de HIV/aids. Eu incito todos a usarem o Dia Mundial da Luta contra a Aids deste ano para renovar nosso compromisso coletivo ao nos mantermos responsáveis pelo sucesso da resposta da Unesco ao HIV/aids.
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