Autor original: Joana Moscatelli
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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Apesar das amplas vantagens ambientais, econômicas e sociais, a energia solar ainda é negligenciada e subutilizada no Brasil. O país insiste no modelo hidrelétrico de geração de energia, que, além de pressionar a biodiversidade, ameaça a vida de populações ribeirinhas e aumenta os índices de emissão de carbono na atmosfera.
Buscando entender as razões para a não-adoção do sistema solar de energia no país e traçando alternativas para sua popularização, o Instituto Vitae Civilis trabalha desde 2004 no projeto Um Banho de Sol para o Brasil. Além da promoção do mercado de coletores solares, a iniciativa procura fomentar a implementação de políticas públicas de valorização de fontes sustentáveis de energia.
Segundo Délcio Rodrigues, pesquisador associado ao Vitae Civilis e coordenador da Iniciativa Cidades Solares, as principais barreiras à difusão da energia solar no Brasil são o alto custo inicial de instalação, as dificuldades de financiamento, a prevalência de outras tecnologias (hidrelétrica e termoelétrica) e o relativo desconhecimento da tecnologia por parte de arquitetos, engenheiros e projetistas.
Rodrigues lembra, no entanto, que o barato pode sair caro para muitos consumidores. Chuveiros elétricos podem ser comprados por menos de R$ 30, mas são responsáveis por 30% da conta mensal de luz nas residências, além de demandarem investimentos em novas usinas hidrelétricas, linhas de transmissão e distribuição. “Os chuveiros são responsáveis pelo consumo de 6% de toda a energia elétrica gerada no país e também são responsáveis por entre 18% e 15% do pico de demanda do sistema. Sendo assim, são parte significativa da demanda para mais eletricidade, que causa impactos sociais e ambientais graves”, enfatiza.
Segundo Rodrigues faltam políticas públicas de incentivo ao uso da energia solar no Brasil. Para ele, é preciso criar linhas de financiamento específicas para os consumidores e reformular os códigos de obras municipais, para que sejam mais favoráveis ao uso de energia solar. É necessário também incentivar o uso dessa tecnologia na construção de habitações populares, assim como divulgar tanto a energia solar como outras tecnologias sustentáveis entre estudantes de engenharia e arquitetura e empreendedores da construção civil.
Além da publicação de um livro, as pesquisas e entrevistas para o projeto deram origem ao seminário Cidades Solares, proposta do Vitae Civilis e da associação dos fabricantes de equipamentos solares (Dasol-Abrava). A intenção é criar legislações municipais que incentivem o uso de aquecedores solares, em substituição a chuveiros ou aquecedores elétricos ou a gás.
De acordo com o pesquisador, a iniciativa tem sido bem recebida em cidades como São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Florianópolis (SC) e Salvador (BA). “Em todas essas cidades, existem hoje projetos de lei em tramitação ou em elaboração que surgiram dentro da Iniciativa Cidades Solares. Em Porto Alegre, conseguimos já aprovar por unanimidade projeto da vereadora Monica Leal (PP) que cria um programa de incentivos ao aquecimento solar na cidade. O programa está sendo regulamentado pela Prefeitura. Além de Porto Alegre, temos leis em vigor nas cidades de Campina Grande (PB), Varginha (MG) e Birigui (SP)”, relata.
Tem ocorrido também um trabalho intenso envolvendo a aplicação do aquecimento solar na elaboração de projetos para o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Quioto. No entanto, segundo Rodrigues, “o pequeno porte dos projetos solares dificulta enormemente a obtenção desses recursos”. Para ele, a própria maneira como o MDL é regulamentado inviabiliza sua aplicação em projetos descentralizados de geração de energia renovável, como a solar.
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