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Alimentando sonhos

Autor original: Joana Moscatelli

Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor








Uma das mais conhecidas campanhas brasileiras de fim de ano mudou de foco. O Natal Sem Fome, criado há 13 anos pelo sociólogo Herbet de Souza, o Betinho, passou a se chamar Natal Sem Fome dos Sonhos e quer levar cultura e educação para crianças. A meta agora é lutar por uma educação de qualidade, problema estrutural do país, segundo Maurício Andrade, coordenador executivo da Ação da Cidadania, ONG que executa a campanha.

Ao invés de alimentos, a campanha arrecada agora brinquedos e livros infanto-juvenis. Os brinquedos serão doados a crianças de 700 comunidades carentes, na véspera do Natal. Até o dia 23 de dezembro, eles serão entregues aos líderes comunitários da Ação Cidadania que se encarregarão de distribuí-los.

Embora a arrecadação esteja muito abaixo do esperado, Maurício Andrade espera que até o fim da campanha as doações aumentem. Segundo ele, nos últimos dez dias as doações triplicaram e a tendência é que elas cresçam ao se aproximarem do prazo final.

No entanto, ele critica a pouca participação das indústrias de brinquedos e das editoras de livros infanto-juvenis. “Principalmente, as empresas de brinquedos, que faturam muito nessa época do ano, deveriam assumir essa responsabilidade social, contribuindo mais com a campanha”, defende Andrade. A parceria com essas empresas está sendo estimulada para que a campanha consiga chegar perto da meta de 210 mil brinquedos, a quantidade necessária para distribuição em 23 municípios.

Os livros irão fazer parte dos Espaços de Leitura, bibliotecas móveis que irão estimular o gosto pelos livros junto a crianças e jovens em suas comunidades. A organização desses espaços será feita pelos coordenadores dos comitês da Ação da Cidadania durante o próximo ano. Até o momento, foram arrecadados 25 mil livros, o suficiente para construir 125 Espaços de Leitura com 200 livros cada. A meta original é criar cerca de 2 mil espaços, o que proporcionaria mais de 7 milhões de acessos aos livros, em 2007. Além dos empréstimos de livros, serão promovidos eventos literários, concurso de poesia e desenho e fórum de debates. Os livros continuarão a ser recebidos pela Ação da Cidadania durante todo o ano de 2007.

Para Andrade, brinquedos e livros podem ser instrumentos de cidadania na medida em que estimulam o lado lúdico da criança e permitem que ela sonhe. “O brinquedo tem uma simbologia muito grande, principalmente nos maiores bolsões de pobreza do Brasil, onde a realidade injusta impede que crianças possam exercer o seu direito de sonhar. Enquanto o livro é a base da formação do indivíduo e dá estímulo ao aprendizado. É a base para a transformação social”, defende.

No que se refere ao combate à fome, a Ação Cidadania passou a exigir uma maior transparência na administração e distribuição de programas de transferência de renda, como o Bolsa-Família, carro-chefe do governo federal. De acordo com dados da organização, o número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza é menor do que o número de beneficiados pelos programas de transferência de renda da gestão Lula. Mesmo assim, ainda existem famílias que precisariam dos benefícios sem recebê-los. Para Andrade, estaria havendo problemas na administração das prefeituras e alguns vereadores estariam se apropriando desses recursos para beneficiarem famílias em troca de votos para se elegerem ou reelegerem.

Além dos postos fixos de recolhimento de brinquedos e livros, a campanha irá montar tendas móveis de coleta em praças públicas do Rio de Janeiro. A idéia é incentivar o aumento das doações. A lista completa de postos em todo o Brasil pode ser vista no site da Ação da Cidadania - www.acaodacidadania.com.br - ou conferida pelo telefone 0800 20 2000. A intenção, em última instância, é mostrar que, além de comer, criança também tem direito a brincar, ler e sonhar.

Joana Moscatelli

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