Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
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“Estamos desperdiçando metade dos recursos humanos disponíveis ao não oferecer oportunidades iguais a homens e mulheres”, lamenta Fernanda Carvalho, coordenadora do grupo de pesquisa do Observatório da Cidadania no Brasil e pesquisadora do Ibase. “Não há explicação lógica para isso”.
Enquanto na Suécia o Índice de Eqüidade de Gêneros chega a 89 pontos, numa escala que vai até cem, no Brasil ele alcança 68. Na América Latina, estamos atrás de Colômbia, Panamá, Argentina e Uruguai.
O Brasil apresenta os piores índices nos quesitos ligados ao empoderamento das mulheres. Apenas 11,4% dos cargos de decisão política e ministérios são ocupados por elas. Na Suécia, mais da metade; na Colômbia, 35,7%. No parlamento, a situação nacional é ainda pior. Apenas 8,6% das cadeiras ficam com elas. No país líder, 45%, quase metade. “Para piorar, esse foi o único índice que piorou em relação ao último ano”, diz Carvalho. Em 2005, 13% dos cargos de decisão eram de mulheres. “É preciso investir mais nas candidaturas femininas”, completa a pesquisa. Até 2005, nenhum partido ou coligação havia cumprido a cota estabelecida por lei que manda disponibilizar ao menos 30% das candidaturas a mulheres.
De acordo com Cristina Buarque, pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco e redatora do capítulo sobre gênero e desigualdades no Brasil, o empoderamento das mulheres é o item de maior peso no índice. “Esses [itens: participação parlamentar e em cargos de decisão], na atualidade, são, sem dúvida, os pontos cruciais para a elevação ou rebaixamento do índice de equidade de gênero em grande parte dos países”, escreve no relatório.
Outro item que contribuiu para a posição intermediária no ranking foi a atividade econômica, apesar das melhoras verificadas. Entre 1993 e 2005, o pagamento feito a elas em comparação com aqueles feitos aos homens não evoluiu nada. As mulheres continuam a ganhar 43% do que recebem os homens. Por outro lado, a participação feminina no mercado de trabalho cresceu. Hoje elas representam 46,9% da mão de obra nacional. A diferença entre gente no mercado e salários se deve, de acordo com Fernanda, ao fato de as mulheres ocuparem profissões menos valorizadas. “É um fenômeno internacional. Onde as mulheres são maioria e o salário é menor. E, em geral, são as profissões que deveriam ser mais valorizadas, pois geralmente lidam diretamente com pessoas”.
A origem desse problema, segundo Buarque, está na educação sexista. O país possui bom desempenho no que se refere ao ensino superior, utilizado como parâmetro para a construção do índice mundial. As mulheres são maioria nas salas de aula universitárias, com 32% mais matrículas do que os homens. Porém, escreve a pesquisadora, em geral elas estão mais presentes em cursos ligados aos papéis tradicionais. “Tais desigualdades se revelam na presença minoritária das mulheres nas carreiras técnicas e tecnológicas e dos homens na maioria das outras carreiras, mantendo um desequilíbrio na relação mulheres/homens perante o mercado de trabalho”, analisa. A esperança da pesquisadora é que a maior presença feminina na universidade ajude a aumentar a equidade entre gêneros a médio prazo.
A pesquisa foi feita em 149 países e tem como tema "Arquitetura da exclusão", na tradução do relatório para o Brasil. Seu objetivo é analisar por que a atual estrututa financeira não beneficia os países pobres e propor soluções. Além da questão de gênero, receberam destaque as políticas raciais e de financiamento no Brasil. Há ainda artigos sobre assuntos relevantes em Argentina, EUA, Índia, México, Moçambique, Peru e Quênia. O relatório completo, em inglês ou espanhol, pode ser obtido em www.socialwatch.org, onde também podem ser consultados os informes indivuduais de cada país.
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