Centro de referência para os erês maranhenses

Autor original: Mariana Hansen

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Mostra cultural de grafite dos Erês

O bairro de João Paulo, localizado na periferia de São Luís (MA), apresenta uma concentração expressiva da população negra da cidade. É uma comunidade de famílias de baixa renda, onde muitos jovens não têm acesso a políticas públicas e atividades formativas e educativas. É nesse contexto que o Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN-MA) realiza seus projetos, desde 1979, e o Projeto Sonho dos Erês, desde 1995. O objetivo é dar a esses jovens, e mesmo as suas famílias, oportunidades de um futuro melhor.

O Sonho dos Erês é fruto da intervenção ativa de jovens e adolescentes da região em busca de alternativas para a inserção no mundo do trabalho e da necessidade de ajuda para construção de seus projetos de vida. Atualmente, 112 jovens, com idade entre 15 e 21 anos, participam de oficinas de formação profissional de serigrafia, grafite e confecção de instrumentos. Para freqüentar as aulas no CCN, precisam não só estar matriculados na escola, mas também freqüentá-la regularmente, apresentando o boletim de aprovação no final do ano letivo. A entidade também oferece oficinas temáticas e passeios culturais.

Segundo a coordenadora do projeto, Carla Ferrão, “a idéia é garantir que eles freqüentem a escola e que alguns retornem para ela. Se preciso, intercedemos para garantir sua vaga na escola”. O acompanhamento escolar não é feito de forma sistemática ainda, e os profissionais do CCN captam essas informações com os próprios jovens ou junto aos familiares durante as reuniões de formação familiar.

Com as famílias, o projeto as convida para reuniões regulares, pelo menos uma vez por mês. “Nós não queremos só que eles venham, mas que venham e acompanhem o que seus filhos estão fazendo. Nessas reuniões explicamos o que é o projeto, as atividades que ele oferece e o que acontece durante o tempo que os jovens estão aqui”, explica Carla. Também durante essas visitas, são debatidos problemas do cotidiano dos jovens como a violência doméstica, drogas e a gravidez precoce.

Nem todos os casos familiares conseguem ser resolvidos dentro do âmbito do Sonho dos Erês. Para isso, o CCN é integrante da Rede Amiga da Criança, que conta com 24 entidades maranhenses que atuam nas mais diversas áreas de atendimento à criança. “A Rede facilita as ações. Nós identificamos e encaminhamos para quem tem mais respaldo e competência para tratar do assunto. A Rede garante um atendimento mais amplo e com profissionais capacitados”, esclarece Carla.

Há três anos, com o apoio do Programa Petrobras Fome Zero, o Projeto Sonho dos Erês pôde dar um salto qualitativo no seu atendimento. O que garantiu que o projeto atendesse mais jovens além dos 90 previstos no início. Os cursos oferecidos têm duração de um ano e envolvem jovens de toda a ilha de São Luís e até de municípios vizinhos, como São José de Ribamar.

As possibilidades oferecidas pelo Sonho dos Erês faz com que muitos jovens queiram retornar ao projeto, mesmo aqueles que já passaram da idade máxima para participar das oficinas ou já completaram um ano de atividades. Carla explica que o CCN procura atender, dentro do possível, toda essa demanda, e conta com jovens até 24 anos em suas aulas. “Às vezes a falta de outra oportunidade faz com que eles queiram permanecer aqui. Através desse projeto eles criam um vínculo não só com o CCN, mas com a sua própria comunidade, pois aqui eles também aprendem a ser protagonistas juvenis”, analisa Carla. Ela ainda acrescenta que os jovens encaram o projeto como um ponto de referência. “Queremos que eles se sintam sujeitos de direito, atuantes e com propósitos”, conclui a coordenadora.

Manter o sonho é o objetivo e expectativa do CCN, continuando com a profissionalização desses jovens para inserção no mercado de trabalho e ainda torná-los sujeitos sociais e articulativos. Hoje, o trabalho dos Erês pode ser encontrado à venda em uma loja na Praia Grande. “No futuro, vamos organizar uma cooperativa onde eles possam produzir e comercializar seus produtos. Vamos garantir não só trabalho, mas renda também”, planeja Carla.

Mariana Hansen