Autor original: Maria Eduarda Mattar
Seção original: Notícias exclusivas para a Rets
O Ibase vem realizando desde 2003 pesquisa sobre os participantes do FSM, na intenção de colher informações básicas que possibilitem o acompanhamento do perfil dos participantes, suas opiniões e avaliação sobre o Fórum. “É uma pesquisa extremamente útil para a nossa memória, mas que não é suficiente, não resolve tudo que é discutido lá. Só nos dá um perfil de quem somos”, avalia o diretor do Ibase.
A pesquisa “Raios-X da Participação no Fórum Policêntrico 2006”, realizada pelo Ibase e pelo Grupo Facilitador Brasileiro do Fórum Social Mundial, entrevistou 4.800 participantes do Fórum Social na Venezuela e no Mali. Para o diretor da organização, o levantamento ajuda não só a conhecer melhor os participantes como a tomar decisões importantes. “Foi com base na pesquisa que criamos o fundo de solidariedade para incentivar a participação popular. Nós vimos que quem vai ao fórum é uma espécie de elite da sociedade civil. E, para facilitar a participação daqueles com menos recursos, temos ampliado esse fundo ano a ano”, afirma Grzybowski.
Ele conta também que, antes, parte dos recursos era destinada a trazer convidados famosos ao Fórum, como intelectuais e ativistas. Hoje, os próprios convidados, têm de correr atrás do financiamento para a viagem, e o dinheiro que antes era destinado a eles passou a ser canalizado para ampliar a participação popular.
A idéia de que a maioria dos participantes do FSM representa a elite da sociedade civil é destacada por Grzybowski. “A escolaridade reforça isso. E essa é uma questão política muito séria para nós: como fazer para termos uma presença popular mais significativa”. Segundo a pesquisa, na Venezuela, cerca de 80% dos participantes tinham, pelo menos, curso superior incompleto. No Mali, a proporção ficou em 70%.
Em termos de faixa etária, os jovens continuam sendo a maioria. “Por esse motivo, decidimos aprofundar a análise sobre o perfil desses jovens, sua visão sobre o FSM, suas demandas, suas perspectivas. E, sobretudo, saber por que privilegiam tanto o FSM como forma de ação política. Porque não é em todos os eventos internacionais que os jovens têm essa presença”, analisa Grzybowski. Na Venezuela e no Mali, mais de 56% de participantes tinham até 34 anos.
O diretor do Ibase lembra que o FSM surgiu contra a agenda da globalização, expressa pelo Fórum Econômico de Davos. Segundo ele, há alguma concordância sobre muitos dos temas, mas nem sempre isso acontece. “Tendemos a ter as mesmas posições, mas às vezes caímos na armadilha que é um dos problemas principais do FSM: a tradução. Nós temos as mesmas preocupações, mas não temos os mesmos conceitos”, afirma.
A legalização do aborto, por exemplo, que é uma bandeira do movimento feminista já consolidada na América Latina, é defendida por cerca de 54% das pessoas que participaram na Venezuela. No Mali, esse número caía para 38%. A união civil entre pessoas do mesmo sexo foi o tema que apresentou a maior variação: na Venezuela, 57% dos participantes eram a favor; no Mali, apenas 17%.
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