Autor original: Joana Moscatelli
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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Não é de hoje que o Grupo Transas do Corpo vem trabalhando questões como sexualidade, aborto, maternidade, relacionamentos e o papel da mulher na sociedade. Apesar de temas extremamente atuais, há 20 anos o Grupo já os aborda buscando reconhecer os direitos das mulheres como direitos humanos. A luta contra o sexismo, o racismo, a homofobia assim como a busca por um estado democrático, pelo direito ao aborto legal e seguro e pelo fim de todas as formas de violência contra a mulher permanecem como seus principais desafios.
Tudo começou em 1987, quando quatro jovens feministas resolveram criar um espaço para reflexão e aprofundamento dessas questões, tão importantes para a vida da mulher ainda hoje. Entre suas principais ações estão a formação de novas lideranças, a articulação com outros atores e movimentos sociais e a produção e a divulgação de conhecimento. Ao mesmo tempo, o Grupo tem promovido importantes iniciativas com objetivo de influenciar a elaboração e aplicação de políticas públicas para as mulheres.
Para Kemle Semerene Costa, educadora feminista e coordenadora geral do Transas, criar o Grupo já no final do década de 80 foi uma ousadia. “Se ainda hoje falar de corpo, sexualidade, feminismo e outras questões que levam as mulheres a questionar o seu papel na sociedade muitas vezes não é bem-vindo, imagine nos anos 80”, lembra. Apesar de consideradas por muitos e muitas como questões banais e desnecessárias, essas "coisas de mulher" são, segundo a educadora, fundamentais quando se trata de desigualdades e injustiças sociais.
Hoje, o Grupo participa de redes, comitês, articulações e fóruns em defesa dos direitos das mulheres e, ao contrário do que muitas vezes é divulgado, Kemle enfatiza que o movimento feminista está cada vez mais “fortalecido e reconhecido como ator político fundamental na democratização das relações sociais”. Em busca de igualdade de direitos entre homens e mulheres, o feminismo, relata ela, vem se articulando com diversos atores sociais, identificando responsabilidades e consolidando parcerias. Mas, afirma, tem enfrentado obstáculos como “campanhas midiáticas contra os movimentos sociais e a pressão para sua criminalização”.
Exemplo das articulações das quais o Transas do Corpo participa foi o encontro realizado em dezembro do ano passado, em Goiânia (GO). Com o lema “Transformar o mundo pelo feminismo” o I Encontro Nacional da Articulação de Mulheres Brasileiras reuniu mais de 500 mulheres de todo o Brasil a fim de discutir a realidade de cada estado e de cada organização e de que forma o movimento continuará se articulando para atingir seus objetivos.
Principais destaques nos últimos anos
Inicialmente, o Grupo enfocava principalmente a saúde da mulher, mas ao longo do tempo, de acordo com as demandas e realidades apresentadas, os projetos foram se diversificando. Entre as ações que mais se destacaram ao longo dessas duas décadas está o projeto “Educação Sexual Não-Sexista: um estudo para a alegria de viver”. Umas das primeiras grandes iniciativas do Grupo, buscava a formação continuada de professores públicos para educação sexual, em Goiânia. Além de um vídeo educativo sobre sexualidade na escola (Sexo, Giz e Apagador - disponível em TVs comunitárias e em kits educativos), o projeto deu origem a iniciativas semelhantes tanto em Goiânia quanto no interior do estado. Graças às experiências do projeto também foi possível realizar em 1997 o I Encontro de Educação Sexual do Estado de Goiás.
A formação feminista de lideranças também teve um espaço grande nesses últimos anos. Desde o ano 2000, o Grupo realizou diversos cursos como: Conversa de Mulher, Multiplicando Feminismos, Nossas Próprias Palavras. A parceria com o Ministério da Saúde resultou também em um importante projeto de formação de lideranças femininas no tema da aids. Além das duas publicações produzidas sobre o tema, a capacitação contribuiu para uma maior aproximação do Grupo com movimentos sociais que tratam da doença.
Outra preocupação do Grupo se refere à formação do adolescente, especialmente através das escolas. Segundo Kemle, o projeto Transas Adolescentes, que contou com a parceria da Secretaria Municipal de Educação de Goiânia, deu origem ao encontro “Vida de Adolescente” e a um novo projeto de formação continuada chamado Grupo Ação e Informação em Sexualidade (GIAS).
O Transas conta também com o Centro de Estudos e Informação (CEI), um espaço multimídia de documentação e informação, com acervo de mais de seis mil exemplares de materiais diversos, entre livros, cartilhas, periódicos e vídeos. A meta para esse ano é estimular cada vez mais as visitas e pesquisas dos jovens ao Centro. Segundo a coordenadora da ONG, o CEI é o único centro especializado nas temáticas de gênero, saúde e sexualidade no estado de Goiás e é totalmente aberto à comunidade.
Para 2007, a perspectiva, apesar da sempre presente luta por recursos financeiras, é continuar o trabalho de formação de lideranças sociais, buscando a garantia do direito à saúde, dos direitos sexuais e reprodutivos, mais especificamente na região metropolitana de Goiânia. O projeto “Articula SUS – movimentos sociais em defesa do direito à saúde em Goiás”, uma parceria com a Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde – ANEPS/Goiás e apoio do Ministério da Saúde, busca realizar alianças estratégicas a fim de garantir o direito à saúde integral. A partir de suas discussões e reflexões, foi elaborada uma carta para a população e às autoridades de saúde do estado relatando os principais problemas enfrentados nessa área. Este ano, o projeto continuará sua articulação com os movimentos (feminista, negro, GLBTs, de saúde, educação popular, estudantil, MST, sem teto) através de seminário sobre o direito à saúde.
No que se refere à questão do aborto, Kemle relata que é grande a articulação pela garantia do direito ao serviço de aborto previsto em lei no Sistema Único de Saúde (SUS), em Goiânia. “Vários eventos foram realizados nesse processo, resultando em um conjunto de publicações, a série Argumentos Feministas [disponível na área de publicações do site da organização]”. Ainda neste semestre também será lançado o terceiro caderno da série Saúde da Mulher, com publicação da pesquisa sobre contracepção realizada em 2006.
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