Autor original: Joana Moscatelli
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
![]() Imagem do Atlas | ![]() |
A Mata Atlântica, o mais ameaçado de todos os biomas brasileiros, está retratada em mais uma edição do Atlas de seus Remanescentes Florestais, produzido pela Fundação SOS Mata Atlântica, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A publicação mostra a situação de cerca de 80 milhões de hectares de floresta em oito estados brasileiros (Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo).
Para Márcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento e coordenadora do Atlas, a grande inovação desta edição é seu caráter público, pois qualquer cidadão que tenha acesso à internet poderá conhecer o estado do bioma em sua cidade. Mapas atualizados dos municípios, das bacias hidrográficas, das Unidades de Conservação e das fisionomias vegetais da Mata Atlântica estão disponíveis nos portais www.sosma.org.br e www.dsr.inpe.br. Neles encontra-se um retrato das florestas, dos mangues e das restingas presentes na Mata Atlântica.
Utilizando os avanços tecnológicos nas áreas de informação, geoprocessamento, sensoriamento remoto e mapeamento, o Atlas revela o estado de desflorestamento da Mata Atlântica no período de 2000 a 2005. Resta menos de 7% da vegetação original do bioma, o que ameaça o abastecimento de água da região e a qualidade de vida da população.
A situação da Mata Atlântica, que já chegou a cobrir cerca de 15% do território brasileiro, não é nada boa. No passado, os impactos de diferentes ciclos de exploração e dos núcleos industriais foram responsáveis pela devastação da Mata. Hoje, a alta densidade populacional permanece e a forte pressão da ocupação urbana e da especulação imobiliária ainda ameaçam o que resta do bioma. No sul do país, onde estão os dois estados que mais devastaram o bioma nos últimos cinco anos, Santa Catarina e Paraná, a pressão das madereiras é enorme, segundo Hirota. “Há um histórico de devastação sem controle nesses estados, com pouca atuação do poder público e desflorestamento de áreas preservadas. Muitas delas sequer foram estudadas”, denuncia.
Para ela, o que está em risco não é só a biodiversidade, mas o nosso patrimônio histórico. De acordo com dados da SOS Mata Atlântica, áreas significativas do bioma são hoje consideradas Patrimônio Mundial pelas Nações Unidas e reconhecidas como Reserva da Biosfera pela Unesco – órgão das Nações Unidas que cuida de educação, ciência e cultura. Além disso, a destruição desse bioma ameaça diretamente a vida de centenas de comunidades indígenas, caiçaras, ribeirinhas e quilombolas. Nem a população urbana está livre dos impactos dessa destruição, pois, como afirma Hirota, a “ausência da floresta compromete as nascentes dos rios que abastecem as metrópoles e cidades brasileiras”.
Esta é a quarta edição da publicação, que já abordou a situação dos remanescentes florestais e ecossistemas associados do bioma Mata Atlântica nos períodos de 1985-1990, 1990-1995 e 1995-2000. De acordo com o último levantamento, o ritmo de desmatamento diminuiu, mas os índices de devastação permanecem altos. Nesse contexto alarmante, a boa notícia é que, após 14 anos de espera, finalmente a Lei da Mata Atlântica, que atribui função social à floresta e estabelece regras para seu uso, foi sancionada pelo governo federal. Entre os principais avanços que a nova lei propõe, Hirota destaca a “criação de um fundo de restauração, a redução de impostos, a facilidade de acesso a linhas de crédito para proprietários de terras com áreas preservadas e, principalmente, a proteção e a conservação do bioma”. Enfim, uma chance para o que restou da Mata Atlântica seja preservado e valorizado tanto pela população e pelo governo atual como pelas gerações futuras.
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