Você está aqui

Relatos de Nairóbi: o que aconteceu no FSM 2007

Autor original: Fausto Rêgo

Seção original:






Direto de Nairóbi: o Fórum Social Mundial

Fórum precisa incluir os de baixo para não repetir padrão de poder


Participantes do FSM 2007 identificam, no interior do movimento altermundista, a reprodução de padrões de poder que se quer combter. Para a escritora e ativista Hillary Wainwright, é preciso renovar urgentemente o conceito de luta política.

Por Maurício Hashizume.
Publicado em
http://agenciacartamaior.uol.com.br

O padrão de poder dominante é um só nos quatro cantos do mundo. E o Fórum Social Mundial na África contribuiu para reproduzir os paradoxos desse mesmo padrão de poder. A perspectiva apresentada pelo sociólogo peruano Anibal Quijano, intelectual de destaque na produção acadêmica contra-hegemônica, sintetiza uma série de manifestações que ocorreram durante esta sétima edição do FSM.

Para Quijano, duas são as características centrais desse padrão (hoje universal) de poder: a colonialidade do poder (ou o colonial moderno), que se fundamenta na idéia de raça, e a escravidão dos trabalhadores, na qual o controle do trabalho tem atingido altos ní­veis sem precedentes. "Não se produz mais emprego, mas desemprego", resume o sociólogo, remetendo à superexploração da força de trabalho que caracteriza o cenário de paradoxo instalado entre Estado e não-Estado, mercado e não-mercado.

"O padrão de poder que faz parte da nossa vida tem muitos paradoxos. A colonização da África se deu no século XVIII. O capitalismo se dá com base na escravidão e na exploração servil. Não se trata de uma seqüência. O sistema foi constituí­do sobre essa base. E é muito interessante que a idéia de raça continue sendo aplicada. Somos atualmente seis bilhões de pessoas no mundo, mais ou menos, da espécie homo sapiens. E o nosso ancestral, o fóssil mais antigo, foi encontrado aqui no Quênia há 200 mil anos", comentou Quijano. "É fascinante estar aqui [no Quênia] de novo, mas é frustrante se dar conta de que não foi possí­vel estabelecer um trabalho e uma comunicação com o povo da África. Pelas condições, ainda existe aqui uma hierarquização muito grande. E o trabalho deveria ter sido muito mais embaixo. Agora mesmo, nesta semana de Fórum Social Mundial, seria preciso descer muito mais. Não há sentido se não for assim. Se o trabalho ficar apenas no ní­vel da burocracia das lideranças, estaremos mantendo a mesma hierarquia que o capitalismo impôs aqui. A única forma de romper com isso é começar a partir dos de baixo". Para Quijano, subverter e destruir a reprodução do padrão de poder é a principal tarefa colocada para as forças polí­ticas progressistas. A chave, segundo ele, não está apenas na organização dos movimentos sociais, mas na aferição dos movimentos de toda sociedade.

Do modo como foi organizado o encontro, enfatiza o peruano, "algo não caminhou". "A primeira coisa que é muito importante é que para entrar no Fórum foi necessário pagar. Não pode ser assim. Foi mantida, na forma de organizar o encontro, a lógica paradoxal do mercado e não- mercado".

A declaração do Comitê Internacional Ndugu, formado por jovens negros militantes do movimento hip hop, coincide com as reflexões de Quijano. O coletivo realça que o povo africano não pode se desenvolver economicamente e politicamente sem que seja restabelecida a fundação cultural e sem que o mesmo povo esteja sustentado nos seus próprios valores. "Infelizmente, nós sentimos que, a despeito do fato de que Fórum Social Mundial tenha ocorrido na África, não foi realizado um trabalho suficiente voltado para as questões particulares da África e do povo africano", coloca o comitê. O Fórum, segundo eles, também impediu a plena participação dos povos africanos cobrando preços altos pela admissão, pela comida e pela água. "Nós resolvemos que temos que organizar imediatamente um Fórum Mundial dos Povos Africanos separado, antes da participação de qualquer outro Fórum Social Mundial".

A esquerda, complementa o sociólogo venezuelano Edgardo Lander, aprofundou durante muito tempo outros padrões de poder como a manutenção da luta do ser humano contra a natureza, por exemplo. Nesse contexto, o padrão de conhecimento europeu - como sujeito único que reduz sabedorias de outras origens como primitivas e inferiores é um dos principais alvos de Lander. O venezuelano defende a multiplicidade de conhecimentos e a autonomia dos povos em prol de um valor fundamental: ser a favor da vida.

Renovar o conceito de luta polí­tica. Essa é a pedra de toque na opinião de Hillary Wainwright, editora da revista Red Pepper. O desafio para os vários atores hoje, discorre, está na multiplicação e não no monopólio e as relações tendem a ser estabelecidas mais por meio de conexões do que nos moldes de uma unidade monolí­tica.

"Diversidade não é fraqueza", adiciona Hassan Lorgat, dirigente da representação da ONG Transparência Internacional na África do Sul. Lorgat ainda identifica um certo purismo e legado de preconceito na disputa entre os diversos setores da esquerda. "Todos exploram a África, inclusive a América Latina", provocou. "Até os que dizem que não são sectários, ainda continuam sendo. Não basta resistir. Temos potencial e podemos agir. Ainda vejo muita idéia pronta".





7° Fórum Social Mundial chega ao fim. Qual o futuro do FSM?


Publicado por Adital, em www.adital.org.br

Concluída a 7a. Edição do Fórum Social Mundial (FSM) em Nairóbi, várias são as temáticas desenvolvidas e é importante destacar a coexistência de vários fóruns em um só, com debates intensos, onde estiveram presentes não somente os grandes eixos tradicionais desses eventos, mas também o componente específico africano.

As relações Europa-África; a dívida, a fiscalização internacional; a terra; a Aids; a luta contra a miséria e a própria existência presente e futura do FSM foram temáticas permanentes nas discussões. Porém, não somente discussões: ao redor acontecia outro fórum, com música, dança e outras expressões culturais, venda de produtos locais e as manifestações internas, se construiu consciência da fraternidade dos povos e dos movimentos sociais.

Um espaço de política, alegria e também de controvérsias

"O Fórum Social Mundial tem desempenhado um importante papel, porém, é uma fórmula que começa a se esgotar", lança quase que como provocação e conhecido intelectual egípcio-senegalês Samir Amin, um dos responsáveis pelo Fórum Mundial das Alternativas. Para ele, o FSM é, hoje, um lugar de exposições e de intercâmbios rápidos que não favorece a construção de alianças entre organizações capazes de converter-se em um movimento. Amin reivindica o conteúdo do Documento de Bamako, subscrito no marco do fórum descentralizado de 2006, em Mali, que, com seus oito pontos, tenta perfilar uma espécie de carta-programa conceitual do que deveria ser o novo planeta a construir.

Muitos teóricos militantes sociais defendem a idéia do fórum como espaço amplo e expressão de uma nova forma de conceber a política, distanciada das concepções da esquerda tradicional. O brasileiro Francisco Whitaker, um dos oito co-fundadores do FSM, é, talvez, a expressão mais sistemática desse pensamento, que se propõe a inovar sobre conteúdos e formas. "O Fórum é um híbrido entre essas duas grandes concepções, na aparência incompatíveis, porém, na prática, convivem desde a fundação do FSM".

Este aparente choque de posições é interpretado como expressão de força, mais do que de debilidade, diz Boaventura Sousa Santos, intelectual português: "Vejo na diversidade atual e no relativo "caos" do Fórum um sinal de fortaleza".

Recordando que as diferenças de pensamento, no essencial, não são novas e "remetem já ao primeiro FSM de Porto Alegre", entre os que o consideravam como um espaço de encontro e intercâmbio e os que propunham chegar a posições comuns únicas e a subscrever documentos finais.

Apesar dessas tensões internas, a contribuição do FSM é um fato inegável, sublinha Sousa e completa: "as instituições internacionais e outros âmbitos de poder têm ido incorporando, nestes últimos anos, certas propostas e reivindicações que se expressaram no FSM".


A íntegra está em www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=26162



FSM cria Semana Global de Luta contra a Dívida

Publicado por Adital, em www.adital.org.br

ONGs e movimentos sociais que trabalham com o tema da dívida externa marcaram a "Semana Global de Luta contra a Dívida" para os dias 15 a 21 de outubro, mesma data em que acontecem o encontro anual do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington. A proposta é que as dívidas sejam canceladas e que os devedores repudiem suas dívidas e planejem auditorias. "É um escândalo que o mundo rico demande do Sul centenas de milhões de dólares todos os dias como pagamento por dívidas que nasceram a partir de relações econômicas injustas que empobreceram o Sul e enriqueceram o Norte", afirma o documento, aprovado nesta quarta-feira (24), no Fórum Social Mundial do Quênia. O texto diz que a dívida é "ilegítima", porque boa parte dela foi feita por governos autoritários ou em momentos históricos conturbados.

A declaração trata a dívida como um problema de ordem política. Usada como um "instrumento de controle", multinacionais aproveitam aproveitam para conseguir melhores condições econômicas, países ricos desenvolvem políticas externa e militar, firmam acordos comerciais e promovem a extração de recursos naturais dos devedores.

O haitiano Camille Chalmes, da Plataforma Haitiana em Defesa de um Desenvolvimento Alternativo (Papda) e do Jubileu Sul, defende a idéia de que os países do Norte devem pagar reparações históricas aos do Sul. Segundo ele, a França cobrou um valor equivalente ao orçamento anual do Haiti na época para conceder a independência do Haiti, em 1804, após uma vitoriosa revolta de escravos. "Esse é o caso de muitas ex-colônias", diz Chalmes. "Demoramos mais de 100 anos para fazer o pagamento. Chegamos a cortar árvores para vender a madeira e conseguir o dinheiro. A existência dessa dívida acelerou o desmatamento do país e hoje só 2% de nosso território têm cobertura vegetal original", completou.

Recente anistia

Em 2005, o G-8, grupo dos países mais ricos do mundo mais a Rússia, anunciou que o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco de Desenvolvimento Africano não mais cobrariam a dívida de pelo menos 19 nações listadas no Grupo de Países Altamente Endividados, além de Camboja e Tajiquistão. Este seria o primeiro passo de um programa de redução da dívida que envolveria pelo menos US$ 40 bilhões em 40 anos, mas na realidade esta redução foi bem pequena.

Participantes reclamam de preços e infra-estrutura

A inscrição para um brasileiro participar do Fórum Social Mundial do Quênia custou US$ 28; os africanos pagaram US$ 7. A realização de cada atividade, pela primeira vez, também passou a ser cobrada das organizações que as promoveram. O preço variou de acordo com o tamanho da sala em que o debate foi realizado, de US$ 100 a US$ 300. Desde o primeiro dia do encontro houve manifestações de movimentos sociais quenianos contra o preço.

Em 2003 e 2005, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contribuiu financeiramente com os encontros de Porto Alegre. No ano passado, o presidente venezuelano Hugo Chávez fez o mesmo, em Caracas. "Tudo isso mostra que o mais importante desafio do fórum social é fazer com que ele seja auto-sustentável organizativa e financeiramente", avalia Oduor Ong’wen, do Instituto de Informação sobre Negociações Comerciais, uma das 44 organizações quenianas que formam o Comitê Organizador do encontro.

Infra-estrutura do Fórum também é criticada

Além dos preços das inscrições, a falta de infra-estrutura no Fórum aumentou ainda mais o debate sobre o financiamento do evento. O patrocínio ou apoio ao Fórum Social Mundial por governos, entidades religiosas e organizações privadas, como a Fundação Ford, já gerava discussões desde 2001. Mas, nesta 7ª edição, esse debate aumentou.

Mas os problemas não são apenas dos participantes. No Quênia, os 34 milhões de habitantes contam com apenas 280 mil linhas de telefonia fixa e quatro milhões de quenianos têm aparelhos celulares. Os principais financiadores do encontro continuam sendo organizações civis sediadas na Europa. Este ano, o grupo cristão Oxfam, com sede na Inglaterra, e o protestante Novib, com sede na Holanda, doaram mais de US$ 400 mil para a realização do Fórum de Nairóbi.

Campanha lançada em Nairóbi pede Copa do Mundo de 2010 sem opressão trabalhista

''O [Carlos Alberto] Parreira ainda está tentando se encontrar, mas acho que até 2010 ele vai estar bem e nos trazer a taça'', analisa a sindicalista Crecentia Mofokeng, em conversa com brasileiros, após debate no 7º Fórum Social Mundial. Brincadeiras à parte, o desempenho da seleção sul-africana com o novo técnico não é a única preocupação para a Copa do Mundo da coordenadora geral da Confederação Internacional das Trabalhadoras na Construção e Madeireiras (BWI, pela sigla em inglês).

A BWI, junto com outros sete sindicatos sul-africanos, lançou uma campanha pelo trabalho decente durante a Copa do Mundo. Mofokeng apresentou no Fórum Social as denúncias já existentes de flexibilização das leis trabalhistas na contratação de pessoas em obras para a realização da Copa do Mundo em 2010. ''Tememos que, com o aumento da oferta de emprego na construção, as empresas possam impor aos trabalhadores condições ainda piores''.

A campanha vai exigir que as novas pessoas contratadas tenham registro em carteira e atendimento a saúde, inclusive para os casos de infecção pelo HIV. Alguns sindicatos europeus participaram da atividade e decidiram, durante o encontro, lançar uma campanha semelhante para os trabalhadores das obras da Eurocopa 2008, que será realizada na Suíça.

Fontes: Carta Maior/Radiobrás/Portal Vermelho





Crónica desde Nairobi


Iolanda Fresnillo*

El Foro Social Mundial (FSM) ha llegado a África. La séptima edición del FSM está teniendo lugar entre el 20 y el 25 de enero, a la ciudad de Nairobi. Cerca de 50 mil activistas venidos de cualquier parte del mundo participan, entre el sonido de tambores, cantos y gritos reivindicativos de las manifestaciones más o menos espontáneas que tienen lugar al recinto, a las más de mil actividades que llenan de contenido el acontecimiento.

El foro de este año está marcado, como no podía ser de otro modo, por la realidad africana. La gran mayoría de los participantes son originarios de este continente (todos los países del continente están representados), realidad que no puede escapar a los ojos de ninguna persona que pasee por el recinto del Moi Sports Center de la capital de Kenia, donde se concentran todos los acontecimientos.

Los colores y la cosmología africanos inundan el foro y el contenido de las actividades, muchas de las cuales están dirigidas a analizar las problemáticas y retos que afronta el continente negro.

Pero no sólo se habla de problemas (pobreza extrema, hambre, deuda externa, sida, destrucción del medio, expoliación de recursos naturales ...), sino también, y sobre todo, de alternativas. Porque este foro esta marcado por la voluntad de dar un paso adelante en el proceso iniciado el año 2001 en Porto Alegro cuando se proclamó a los cuatro vientos que “otro mundo es posible”, un paso más hacia la acción y la construcción de alternativas.

De este modo el FSM 2007 se convierte en altavoz no sólo de los conflictos y denuncias de los movimientos sociales, sino también de las propuestas que estos están poniendo en marcha en cualquier parte del planeta. Y el foro es el espacio dónde compartir estas propuestas y experiencias.

Paralelamente a los talleres, seminarios y actividades culturales, múltiples encuentros y reuniones tienen lugar, los participantes aprovechan para hacer contactos, reencontrar contrapartes y compañeros de luchas y movilizaciones, y adelantar en proyectos comunes.

Así lo veía también hoy Wangari Maathai (premio nobel de la paz el año pasado) en una de las conferencias sobre la ilegitimidad de la deuda externa, “el foro es el lugar y el momento para encontrarnos, para compartir experiencias y visiones, para alentarnos mutuamente y volver a nuestros lugares de origen, en América, Asia, África, Europa e incluso Oceanía, para gritar más alto que nunca que otro mundo es posible y que estamos dispuestos a construirlo. No hay ningún lugar del mundo dónde nuestra voz no pueda ser escuchada”.

Es difícil saber qué temas y qué propuestas destacar, puesto que las opciones son muchas y el nivel de asistencia no parece ser el indicador más adecuado para medir el interés (la mayor o menor asistencia a un acto a menudo está determinada por la corrección o no de la información disponible en el programa repartido por los organizadores, de la capacidad de difusión de las entidades organizadoras con medios propios, o por la presencia de algún personaje conocido).

Aquí van algunas de las ideas que se han escuchado estos dos días de foro: ante la Deuda Externa y su ilegitimidad, el reclamo de auditorias, el reconocimiento de la responsabilidad de los acreedores, la cancelación de las deudas ilegítimos, el repudio por parte de los países deudores, y el reclamo de reparaciones.

Ante el expolio de los recursos naturales y los impactos de las inversiones extranjeras, en especial en industrias extractivas y servicios básicos, la lucha por retomar el control y la gestión de estos recursos desde las comunidades locales, y de hacer cumplir la ley y los estándares internacionales a las empresas transnacionales del Norte.

Ante la corrupción, la carencia de democracia y los conflictos armados, el apoyo a la sociedad civil, la creación de redes sociales y el fomento de la participación, reclamando transparencia y mecanismos de rendición de cuentas.

Los debates y conferencias se suceden, con más o menos sorpresas. El seminario 'Deuda y África' se iniciaba esta mañana con un grupo de jóvenes de los slums (barrios marginales) de Nairobi cantando dos canciones “Another World is posible” (otro mundo es posible) y G8 “we, the people from the south, are the creditors” (G8, nosotros, los pueblos del sur, somos los acreedores).

El paseo circular que rodea el estadio dónde se desarrollan la mayoría de los seminarios, con las gradas adaptadas para la ocasión, es escenario de pequeñas manifestaciones, a menudo acompañadas de música y canciones, que reclaman los derechos de las mujeres, los niños, el pueblo saharauí ...

Las dificultades de la disparidad de idiomas y la carencia de traductores (y equipos de traducción simultánea) se superan con la buena voluntad de los participantes políglotas que cuchichean traducciones más o menos acertadas. Las múltiples incorrecciones del programa impreso son soportadas con más o menos estoicismo por los participantes que querían ir a un seminario sobre mujeres y acabaron en uno sobre deuda externa.

Quedan todavía dos días de actividades, el último dedicado casi en exclusiva a encuentros y reuniones para definir estrategias y acciones de futuro. Esta ha sido una aportación del foro de este año que de este modo ha querido plasmar la voluntad de dar más fuerza a las propuestas que a las discusiones teóricas.

Entre los rumores de si habrá foro o no el año 2008, las actividades continúan. Otro mundo y, en especial, otra África son posibles, y nos quedan dos días por adelantar algo más en su construcción.

* Iolanda Fresnillo es investigadora del Observatorio de la Deuda en la Globalización.



As expectativas de feministas sul-americanas quanto ao FSM


Por Atila Roque.
Publicado em
www.inesc.org.br/blog


Atila Roque, do Inesc, colheu em vídeo as opiniões e expectativas de três integrantes da Articulação Feminista Mercosul. "Quais são as expectativas das feministas sul-americanas para o VII Fórum Social Mundial? A construção de novas redes, que envolvam os coletivos feministas sul-americanos e africanos é um dos desafios. A ampliação e fortalecimento de redes regionais e mundiais também consta da pauta do movimento feminista. Conheça as opiniões e expectativas de nossas primeiras entrevistadas", diz o texto introdutório do vídeo, que está disponível no blog do Inesc: www.inesc.org.br/blog.


Falta de infra-estutura gera discussão sobre financiamento do Fórum Social


Por Daniel Merli.
Publicado em
http://revistaforum.uol.com.br


O patrocínio ou apoio ao Fórum Social Mundial por governos, entidades religiosas e organizações privadas, como a Fundação Ford, geram, desde 2001, discussões sobre qual influência o financiamento pode ter sobre os debates do encontro. Mas na 7ª edição, que ocorre no Quênia, na África, esse debate aumentou.

A sala de imprensa ficou sem conexão com a internet por mais de 24 horas. O Espaço Brasil, tenda patrocinada pela Petrobras que deveria ser ponto de encontro para a delegação do país, foi invadido por uma fila de quenianos, venezuelanos, italianos e bascos em busca dos cinco computadores que ainda tinham contato com a rede mundial.

O único cibercafé num raio de 20 quilômetros – distância até o centro de Nairóbi – triplicou seu preço desde sábado (20), mesmo com uma conexão intermitente. Não há estabilidade também na rede sem fio (wireless) – oferecida aos participantes por US$ 15.

Não apenas os participantes do fórum sofrem com problemas de comunicação. No Quênia, os 34 milhões de habitantes contam com apenas 280 mil linhas de telefonia fixa. Quatro milhões de quenianos têm aparelhos celulares.

Com tantos problemas de comunicação mundial, o Fórum Social conta com alguns estandes da Celtel – empresa privada de telefonia celular do Quênia. No caminho de Nairóbi até o Centro Esportivo Moi, onde acontece o encontro, há dois outdoors dando boas-vindas aos participantes, com a logomarca da Celtel.

“Não queremos patrocínio de empresas privadas”, critica Mamy Tladi, do Fórum Anti-Privatização, principal coalizão de movimentos sociais da África do Sul. A organização do Fórum nega que haja financiamento. Confirma que há um acordo para que a empresa faça publicidade do encontro, em troca de associar seu logotipo ao evento. A Celtel também oferece 100 mil linhas gratuitas para quem apresentar um crachá de participante do Fórum Social. O usuário deve pagar as ligações.

A parceria com a Celtel é considerada útil por Oduor Ong’wen, do Instituto de Informação sobre Negociações Comerciais, uma das 44 organizações quenianas que formam o Comitê Organizador do encontro. “Também fizemos acordo com a Kenyan Airlines, para dar desconto de tarifa aos participantes do Fórum Social’’, conta.

Oduor considera que esses apoios são laterais, já que não envolvem patrocínio e os principais financiadores do encontro continuam sendo organizações civis sediadas na Europa. Este ano, segundo ele, o grupo cristão Oxfam, com sede na Inglaterra, e o protestante Novib, com sede na Holanda, doaram mais de US$ 400 mil para a realização do Fórum de Nairóbi.

Candido Grybowski, diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e representante da organização no Conselho Internacional do Fórum Social defende que cada participante do fórum social doe à organização o valor correspondente a um dia de trabalho no ano. E que as organizações sociais criem um fundo internacional para cobrir os gastos do encontro.

Com o dinheiro, além do evento, poderia ser aumentado o Fundo de Solidariedade, que traz militantes de base de países pobres para o fórum social. “'Isso é importante também para que quem financie não possa impor sua agenda de debates”, afirma.





Os terroristas do futuro podem ser os índios, diz Boaventura

Por Renato Rovai.
Publicado em
http://revistaforum.uol.com.br/blogdorovai


O professor Boaventura Sousa Santos está presente no FSM de Nairóbi, onde vem sendo solicitado para compor diferentes mesas. Hoje (23/01)ele participou de uma a convite do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso). Na ocasião, discutia-se o cenário político latino-americano.

Neste painel, Boaventura disse que voltava de uma visita ao Peru e lá foi informado de que o país tem 800 indígenas presos por diferentes acusações. E neste contexto disse a seguinte frase de efeito: os indígenas podem vir a ter suas ações criminalizadas a tal ponto que podem vir a ser os terroristas do futuro.

Ao final do painel, aprofundou um pouco mais a frase para este blog: “Tenho uma preocupação muito grande com isso porque eles ocupam territórios onde estão recursos naturais absolutamente estratégicos. E se o capitalismo não mudar e continuar a depender tanto das reservas em termos de minérios, biodiversidade, madeira, petróleo, isso pode vir a acontecer. Essas reservas estão todas em territórios indígenas. Para que se tenha uma idéia, nesses territórios estão 75% da biodiversidade do planeta. Acredito que eles possam vir a ser criminalizados por conta disso”.





Cara a cara com a pobreza


Por Joyce Mulama.
Publicado em
www.envolverde.com.br

“Nos disseram para virmos aqui porque era uma celebração para acabar com a pobreza”, disse Edward Njeru, condutor de um tuktuk, veículo de três rodas usado como táxi em áreas urbanas do Quênia, referindo-se ao Fórum Social Mundial, que acontece em Nairóbi. “Espero que está pobreza finalmente termine”, acrescentou. Njeru, que ganha entre US$ 14 e US$ 23 por mês, suficientes apenas para atender suas necessidades, participou com cerca de 30 colegas de uma colorida manifestação com tuktuks no parque Uhuru desta cidade, onde foi realizada a cerimônia de abertura do FSM. Além dos tuktuks havia “bodas bodas”, bicicletas que se converteram em um popular meio de transporte em muitas partes do país.

A manifestação com tuktuks e bodas bodas aconteceu sob o lema do sétimo FSM: “A luta dos povos, as alternativas dos povos”. O encontro em Nairóbi, que começou no sábado e terminará na quinta-feira, atraiu milhares de delegados de todo o planeta, reunidos para denunciar as injustiças sociais que continuam afligindo países em desenvolvimento, particularmente na África.

Um colorido mar de gente invadiu o parque Uhuru. Os manifestantes carregavam cartazes com dizeres contra a pobreza e dançando ao som de ritmos caribenhos e africanos. A mobilização no parque foi antecedida por uma caminhada pelo assentamento de Kiberia, cerca de sete quilômetros a sudoeste de Nairóbi. Trata-se do maior assentamento do país e de todo o Chifre da África, com uma população superior a 700 mil pessoas.

Os delegados enfrentaram cara a cara a pobreza: choças de barro, carência total de saneamento, mau cheiro dos riachos contaminados, falta de caminhos e de serviço de todo tipo. No parque, todos os oradores acusaram os países ricos de adotarem políticas prejudiciais para as nações em desenvolvimento e que somente perpetuam a pobreza. “Sabemos que mundo queremos, um em que exista respeito, e não dominação por parte do Ocidente. Um mundo em que não existam dívidas que permitam essa dominação”, afirmou o brasileiro Chico Whitaker, membro do Conselho Internacional do FSM. De acordo com ativistas, os países africanos gastaram cerca de US$ 15 bilhões ao ano no pagamento de sua dívida externa, em um continente onde mais da metade da população vive abaixo da linha de pobreza.

A África também tem os mais altos índices de analfabetismo e contagio da aids. Analistas afirmam que está situação poderia ser revertida se os governos gastassem mais dinheiro na área da saúde, educação e outros serviços públicos, em lugar de destinar os recursos ao pagamento da dívida. O tema da aids dominou os discursos no parque Uhuru. Os oradores coincidiram em que a luta contra a doença é o maior desafio dos países, e propuseram vias de solução. “A chave para enfrentar este problema é a prevalência, porque prevenir é melhor do que curar. Devemos recordar a importância de se fazer exames e pedir assessoramento voluntariamente”, disse Kenneth Kaunda, primeiro presidente e fundador de Zâmbia.

“Constatar o estado de saúde das pessoas e falar abertamente sobre isso reduzirá o estigma. Não estou lhes dizendo algo que eu já não tenha feito”, disse Kaunda, que se submeteu a um exame em 2002 depois que seu filho morreu de aids. Enquanto isso, cada região do mundo elabora iniciativas para enfrentar a doença. No Brasil são distribuídas camisinhas com poemas nos quais se informa os perigos do HIV (vírus causador da aids). A “camisinha poética” é um projeto de Ramos Filho, poeta e professor de Direito de Santa Catarina.

“O alto número de casos de HIV é um alerta de que existe a necessidade de fazer algo de forma urgente. Comecei a distribuir camisinhas com mensagens poéticas em todo o Brasil com o objetivo de informar a população”, disse Filho à IPS no parque, onde também distribuiu preservativos. O Comitê Organizador do FSM 2007 espera que sejam apresentas mais iniciativas como está durante o encontro. “Esperamos que as pessoas questionem o mundo em que vivem e apresentem alternativas para criar um mundo melhor”, disse à IPS Oduor Ong’wen, membro do Comitê.




Painel no FSM relaciona mulheres e o poder


Por Pulsar Brasil.
Publicado em
www.brasil.agenciapulsar.org/nota.php?id=1511

O papel das mulheres comunicadoras nas rádios comunitárias é fundamental para colocar a agenda feminista ante a opiniao publica e promover a interlocução com governos, visando ao impulso de políticas publicas para mulheres de comunidades em níveis local, nacional e internacional.

Mavic Cabrera-Balleza, representante da Amarc, falou da importância de abordar temas como aids, violência, aborto e participação política das mulheres nas programações das rádios.

“As vozes saem das casas e vão a toda comunidade”, disse Preeti Soni, da Rede de Mulheres da Índia, que também falou sobre o papel exercido pela rádio em que trabalha na sua comunidade para a educação das mulheres no processo eleitoral, principalmente porque na Índia as eleições são uma oportunidade para exercer coerção sobre o voto feminino.

Já Maria Eugenia Chavez, também da Rede de Mulheres da Amarc na América Latina e Caribe, disse que “as rádios comunitárias estão vinculadas às problemáticas das comunidades, portanto é quase óbvio que sirvam para difundir os temas, as idéias e as propostas que surgem das mulheres das populações a que servem”.



Cândido Grzybowski: ano que vem não tem FSM, serão dois dias de manifestações por todo o mundo

Por Renato Rovai.
Publicado em
http://revistaforum.uol.com.br/blogdorovai

Cândido Grzybowski, coordenador executivo do Ibase e membro do Conselho Internacional do FSM, em uma entrevista exclusiva à revista Fórum (www.revistaforum.com.br) faz uma avaliação do processo organizativo do FSM no Quênia e dos caminhos que o movimento deve seguir.

Qual a sua opinião a respeito do que viu até este momento no FSM do Quênia?

Primeiro é necessário fazer uma avaliação política do seu significado. É o primeiro grande evento na África que não acontece em Joanesburgo ou Durban, ambas localizadas na África do Sul, que é onde normalmente ocorrem os eventos no continente. Ou, alternativamente, em Senegal. Nunca se faz fora desse eixo. Já é um feito fazer o FSM no Quênia. É muito simbólico para o continente que o evento não seja na África do Sul, por exemplo. Ela tem um predomínio no continente, detendo mais de 50% do PIB de toda a África e acaba exercendo um sub-imperialismo real. Não foi fácil escolher o Quênia, porque sabíamos que teríamos um problema de logística. E que por sinal estamos enfrentando. Mas o que nos levou a escolher o Quênia foi que eles conseguiram organizar aqui um Fórum Nacional, mostrando que tinham uma sociedade civil capaz de enfrentar o desafio de organizar um Fórum Mundial. E também a mudança de regime, era uma ditadura e eles passam para uma democracia e muitos ativistas criaram entidades e voltaram à militância, o que dava ao movimento algumas características semelhantes à nossa, no Brasil.

No momento em que decidimos pelo Quênia, também levamos em consideração que o governo tinha mais apoio da sociedade civil. Hoje é um governo enfraquecido, com grandes escândalos de corrupção e a relação dele com as entidades ficou mais tensa, o que se revela, por exemplo, no fato de as entidades não terem conseguido o visto livre para os participantes do FSM, no controle para a entrada de imprensa no país, sobretudo para os da área de TV, que tiveram problemas.

Então há muita tensão no ar, porque o governo aqui está enfraquecido e tem medo. Ou seja, se contava com uma certa facilidade e isso não está acontecendo.

Mas não estão surpreendendo alguns detalhes talvez não ortodoxos da organização?

Há a questão da pouca experiência na organização de um evento como este. E precisamos levar em consideração que o movimento daqui tem uma cultura de esquerda diferente, de democracia diferente, que não é bem a nossa tradição. Tem o problema da cooperação, é uma cultura muito impositiva. As igrejas também são muito presentes aqui. Muitas das entidades têm vínculos internacionais e se dá uma globalização de sociedade civil da pior maneira possível. Essas entidades formaram uma elite que circula nas Nações Unidas, Banco Mundial, agências de cooperação etc. E eles têm um salário, os salários são muito corrompidos, no sentido de que são elevados, muito altos, e por isso as ONGs aqui sofrem uma crítica muito dura. Isso para nós é difícil de entender. Talvez tenha uma certa separação no Brasil entre as ONGs e os movimentos, talvez tenha, mas no Brasil as ONGs são criações de militância, de gente que se engaja. Isso tem de ser considerado.

Não te parece que o processo de construção do FSM aqui, que leva a ter uma empresa de telefonia celular (Celtel) como patrocinadora oficial, por exemplo, deveria levar a uma reflexão maior do processo de construção do evento? Do seu problema de financiamento, por exemplo?

Tem um problema de financiamento de um evento assim, ele está se tornando cada vez mais caro. E a gente tem evoluído de uma forma de oferecer tudo, como foi nos primeiros fóruns de Porto Alegre, para outro de auto-financiamento. Os indianos foram os que progrediram mais nisso, eles tiveram apoios que não apareciam, mas que foram fundamentais, como o de trabalho voluntário até na arquitetura do evento. Aqui tudo foi ou está sendo pago, aqui a cooperação corrompe, não no sentido de que se desvia dinheiro, mas ela cria uma cooperação servil e as pessoas para fazerem alguma coisa, cobram. Aqui os voluntários cobram. No Brasil o voluntariado recebia uma ajuda de alimentação, aqui ele recebe um pagamento além dessa ajuda. É o sentido de voluntário que não existe. O apoio da empresa (Celtel) nunca chegou a ser discutido. A gente está sendo pego de surpresa com essa história da empresa. Agora, fui um dos que defendiam completa autonomia de organização para as entidades do Quênia, por que se fosse diferente, acho que não aconteceria o FSM. E se alguém fosse ao Brasil nos dizer como fazer o FSM, nós também não iríamos aceitar.

E em relação, por enquanto, à pequena participação de quenianos, que reclamam do custo da inscrição, como o senhor vê isso?

Baseado no FSM da Índia, eles criaram uma cobrança diferenciada. Isso é bom e diferente do nosso populismo do FSM no Brasil, onde a gente cobrou 30 reais para todo mundo, independente de que parte do mundo fosse. Isso é sacanagem, sacanagem com o brasileiro, com o pobre índio que esteve lá, ou com quem teve de bancá-lo. Isso gerou um déficit para a gente do Brasil. Aqui eles montaram uma escala de preços em absolutamente tudo, mas acho que erraram no preço a ser cobrado para a população local. Mas até isso é ainda difícil dizer. O preço de 7 dólares está sendo bastante questionado. Também tentaram organizar o acampamento da juventude, que sempre é auto-organizado, e estão cobrando 10 dólares por dia daqueles que o utilizarem, e o acampamento está vazio. Tem coisa que não sabemos a extensão e que só vamos poder saber no percurso ou depois deste FSM.

O senhor considera de fato possível o FSM ser autofinanciado?

É possível encaminhar para um sistema de autofinanciamento. Em Porto Alegre, vamos imaginar não os 150 mil que compareceram no último, mas apenas 100 mil. Tivemos uma custo de 7 milhões de dólares. Se fosse dividido por participante, seriam 70 dólares por pessoa. Se dividido pela desigualdade do mundo, pelas desigualdes das organizações que participam, talvez poderíamos ter saído daquele FSM sem dívida.

Quando eles propuseram os 7 dólares para a população local, a gente ponderou se não era muito. O que nos foi dito é que eles estavam fazendo um movimento local para que as entidades quenianas também conseguissem ajudar no custo do FSM. Eles queriam ter a sensação de também estar contribuindo para a realização do FSM em Nairobi. Também é difícil saber se a reclamação não tem relação política... De qualquer forma, insisto em dizer que esses problemas organizativos são políticos, não acho que são problemas burocráticos.

E para o próximo FSM, quais são as definições até o momento?

Para o ano que vem, em vez de fazer o evento cada vez maior, definimos que vamos tentar estar juntos, em um número muito maior, mas de uma forma diferente. Durante dois dias vamos ter mobilizações pelo mundo, com cada país definindo sua pauta. Mas o pertencimento, a sensação de estar juntos, vai se dar pelo fato de que todas as manifestações vão se dar nos mesmos dias. Isso não vai resolver o problema de ter de se encontrar, mas pode fazer com que os próximos fóruns sejam mais temáticos. Essas manifestações, inspiradas na que aconteceu pela paz (em 15 de fevereiro de 2003, contra a invasão do Iraque), serão um outro tipo de Fórum. Tem uma indicação de que sejam manifestações pela dignidade, pra alguns vai ser a luta contra a privatização da água, pra outras vai ser emprego, migração. Se conseguirmos 5 milhões de pessoas na ruas já será um sucesso, se botarmos 10 milhões vai ser muito bom. Mas a meu ver o objetivo deveria ser ao menos uns 15 milhões nas ruas pra nos dar uma sensação de que expandimos.

E quanto a 2009?

Bem, já existem candidaturas, vamos chamar assim. Há gente que defende que seja no Brasil, outros na Europa. Pessoalmente, eu gostaria que fosse para a Ásia profunda ou para o Leste Europeu. Fazer isso na Ásia profunda, quer dizer Filipinas, Malásia ou Indonésia seria muito bom... A meta deve ser chegar à China, onde vive um quarto da população do mundo. Mas sabe lá quando essa aproximação vai ocorrer. Mas se chegarmos à Ásia profunda, continuamos o caminho de expansão. Quantas pessoas tem aqui no Quênia? Não sei. Mas certamente 80% estão pela primeira vez num FSM e estão adorando tudo isso.





15 mil abrem FSM 2007 em Nairóbi, Quênia

Por Bia Barbosa e Verena Glass.
Publicado em
http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=13340

Cerca de 15 mil pessoas participaram neste sábado (20) da cerimônia de abertura da sétima edição do Fórum Social Mundial em Nairobi, capital do Quênia. A tradicional marcha que antecedeu o evento – e que reuniu por volta de 8 mil ativistas –, no entanto, deu aos participantes uma idéia mais exata do que se pode esperar deste FSM 2007. Partindo da favela Kibera, a terceira maior da África, apresentou uma predominância absoluta de organizações africanas, muitas delas ligadas a ordens religiosas ou de cooperação e solidariedade internacionais.

Às margens, caminhavam algumas crianças ou jovens, meio tontos pela inalação de cola, mas o tom das palavras de ordem apontou para uma nova reivindicação da região: a África não deve ser estigmatizada como um caos de pobreza, doenças e conflitos, dependente da solidariedade do mundo desenvolvido. E sim uma região com um histórico rico de resistência e lutas, que exige o direito de decidir seu destino.

Pelo sim, pelo não, os europeus da marcha em sua maioria eram envolvidos com trabalhos de cooperação e solidariedade. Massimo Barbiero, italiano que vive há sete anos em Nairobi, trabalha na comunidade católica Papa João XXIII, na favela de Kahawa Ocidental, onde vivem atualmente cinco mil pessoas. Segundo ele, apesar dos grandes problemas sociais, há um enorme potencial de desenvolvimento. “Com tudo o que existe, as crianças aqui são mais felizes do que na Itália”, acredita.

Sobre o FSM, suas expectativas estão divididas. “Espero que este Fórum seja o momento para se dar voz aos pobres. Em muitos processos, há um monopólio por parte das grandes organizações não governamentais. Espero que aqui não seja assim. Acho que o Fórum é um espaço para a construção de alguma mudança no quadro de pobreza criado pela política de globalização”. Cerca de 100 pessoas da comunidade em que Barbiero trabalha foram mobilizadas para a marcha de abertura do FSM. Mas o italiano avalia que poucas pessoas em Nairóbi tomaram conhecimento do Fórum.

O orgulho e o respeito pela história de resistência da África voltou a marcar as falas da cerimônia inicial. Segundo o senegalês Taufik Ben Abdallah, membro do Comitê Africano e do Conselho Internacional do FSM, o evento no continente é importante não para que se viabilize sua pobreza nem para que adquira um caráter de caridade, mas sim para fortalecer a África. “Hoje, o primeiro mundo saqueia e quer controlar nossas riquezas. Queremos vencer essas forcas que querem nos colonizar de novo”.

Wahu Kaara, membro da Marcha Mundial das Mulheres no Quênia, completa: “É hora de colocar a nossa agenda na mesa. Temos que dizer não à divida, ao livre comércio, a todos os poderes que querem falar em nosso nome. Temos que dizer não ao terrorismo de Bush, que não há membros da Al Qaeda entre nós, que somos vigilantes. E temos que dizer que queremos um mundo inclusivo, baseado nos valores essenciais da vida. Um mundo que diz não à comodificação dos recursos naturais e a tudo que estimula a guerra de negros contra negros. Já basta!”.

Gandhi da África

Uma das presenças mais aplaudidas na cerimônia de abertura deste sétimo FSM foi o ex-presidente da Zâmbia, Kenneth Kaunda. Ninguém ligou – ou, pelo menos, reclamou – quando, sambando, ele subiu ao palco e discretamente interrompeu o show de Martinho da Vila, a estrela musical da parte artística do evento, para fazer um longo discurso sobre os desafios do movimento altermundista.

Kaunda foi o fundador do Partido Unido da Independência Nacional da Zâmbia, criado em 1960, quando o país ainda vivia sob o domínio branco da então Rodésia – hoje Zimbábue. Quatro anos depois, a Zâmbia conquistou sua independência e Kaunda tornou-se presidente. Por cerca de 25 anos, ele governou a nação com base numa política que foi chamada de inclusiva, por uns, e de autoritária, por outros. Nacionalizou empresas importantes, apoiou os movimentos rebeldes de independência do Zimbábue e só deixou a presidência da Zâmbia em 1991.

Neste Fórum africano, Kenneth Kuanda parece ser um símbolo daquilo que os africanos buscam ate hoje: liberdade. Emocionado, ele saldou a diversidade característica do encontro, em que estão presentes “homens e mulheres, jovens e idosos, de diferentes cores, passaportes, com diferentes culturas e línguas”. “Percorremos uma longa distância para chegar até aqui: do tráfico negreiro e do colonialismo ao apartheid. Somos uma rica variedade da nossa humanidade, preocupada com o nosso futuro”, disse Kaunda.

Ao falar de lideranças mundiais contra a exploração e a violência, o ex-presidente da Zâmbia citou Martin Luther King, Che Guevara, o próprio Gandhi e ate Fidel Castro. Mas fez questão de ressaltar a importância da participação popular nos processos de libertação – qualquer que seja seu aspecto.

“Não estamos aqui por esses líderes, como disse Gandhi. Os líderes seguem o povo. Há muitos homens e mulheres que diariamente lutam pelos direitos de todos. Cada pessoa é importante. A luta se beneficia das habilidades de cada envolvido; depende do esforço de cada pessoa; não continuaria sem a intensa cooperação de homens e mulheres em todo o mundo”, disse. “Hoje ainda temos grandes desafios: pobreza, dívida, conflitos políticos, AIDS, conflitos pela terra. Para enfrentá-los, nossa luta na África nos mostrou que precisamos trabalhar em rede. A partir da nossa experiência, sabemos que esses desafios da injustiça e da exploração podem ser superados. É este esforço coletivo que pode garantir um mundo melhor. Nossa independência não será completa sem isso”, concluiu.

Contrastes

À primeira vista, a estrutura montada pelo comitê organizador de Nairobi para o FSM 2007 pode parecer incongruente com o discurso de integração e fortalecimento da África adotado pelos quenianos.

Montado em um enorme e moderno complexo esportivo em um bairro abastado de Nairobi, o FSM até tem um aspecto que poderia lembrar um evento das Nações Unidas, com grandes tendas brancas e altos preços de inscrição para participantes e atividades.

Individualmente, a inscrição custa US$ 7 para africanos, US$28 para o resto do Sul (incluindo jornalistas) e US$ 110 para os países do Norte. Mas para registrar atividades, os preços podem subir para mais de US$ 400 para as organizações participantes. Nas conversas entre estrangeiros e nativos em Nairobi, o custo do Fórum aparece como temática reincidente quando o assunto é a dificuldade de participação maior de organizações e movimentos de base.

Mas é preciso tomar cuidado com pré-julgamentos e leituras simplistas, alerta Moema Miranda, da secretaria brasileira e do Conselho Internacional (CI) do FSM. Completamente aos cuidados dos organizadores quenianos, a estrutura do FSM 2007 foi montada segundo as possibilidades e perspectivas dos anfitriões, sem intervenção dos demais membros do CI.

Sem suporte financeiro do governo local – que foi um grande patrocinador de outras edições do FSM, principalmente no Brasil em 2001, 2002, 2003 3 2005, e na Venezuela em 2006 -, e submetido ao conceito mercantil da cooperação internacional, os quenianos viram-se diante do desafio de viabilizar o evento da melhor forma possível.

“No Brasil, em 2005, o preço de inscrição foi bastante baixo, e quebrou fazendo uma dívida milionária. Alguém se perguntou quem pagou por isso? Como vamos fazer então? Só se faz Fórum onde tem governo amigo? A verdade é que o nosso movimento ainda é elitista, temos ainda que radicalizar a solidariedade. Como podemos implementar alternativas juntos se não nos encontramos? Estes são questionamentos que necessitam de respostas”, pondera Moema Miranda.

Uma visão realista do FSM 2007 e de seus participantes só será possível a partir deste domingo, primeiro dia das atividades. A se tirar pela marcha e pela cerimônia de abertura, no entanto, ficou claro que a África terá seu merecido espaço no movimento altermundista.

Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer