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Gravando!

Autor original: Joana Moscatelli

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Gravando!
Divulgação | Witness

Com o lema "see it, film it, change it" - em português, "veja, filme, mude" -, a organização internacional de direitos humanos Witness, com sede em Nova Iorque (EUA), há 15 anos usa o vídeo como forma de militância. A idéia é promover mudanças e fortalecer campanhas em prol da justiça e contra os diversos tipos de abusos e crimes em todo o mundo. Através de parcerias com organizações locais em mais de 60 países, a Witness já produziu vídeos que contam histórias de violações das mais diversas, envolvendo discriminação de minorias étnicas, racismo, tortura, trabalho escravo, entre outras.

A história da organização tem início a partir da experiência do músico Peter Gabriel em uma viagem em prol dos direitos humanos, promovida pela Anistia Internacional, no final dos anos 80. A partir dali, o artista percebeu o potencial que as câmeras tinham para mostrar abusos e lutar por justiça. Mas a idéia só ganhou respaldo mesmo quando, já em 1991, um cinegrafista amador filmou o espancamento de um americano negro e chamou atenção do mundo para a violência e o racismo da polícia de Los Angeles, nos Estados Unidos.

Assim, em 1992, Peter Gabriel cria a Witness - palavra inglesa que significa "testemunha" - em parceria com o então Comitê para os Direitos Humanos e a Fundação Reebok. No início, a Witness atuava basicamente como um programa de doação de câmeras de vídeo, que chegou a ter o brasileiro Movimento do Trabalhadores Sem Terra (MST) como um dos seus parceiros. Hoje em dia, a Witness trabalha também com a capacitação técnica e o apoio e orientação na realização de filmes. Além disso, pretende lançar ainda neste ano uma espécie de “YouTube Social”, um espaço onde qualquer pessoa do mundo poderá colocar ou assistir vídeos ligados aos direitos humanos. O “Vídeo Hub”, como é chamado, servirá como um espaço virtual de troca de informações sobre campanhas na área de direitos humanos.

Para Tamaryn Nelson, coordenadora do programa na América Latina e Caribe, o vídeo tem o poder de chamar atenção para uma causa. “Ele é mais impactante, emociona e faz as pessoas se conectarem com as histórias a que estão assistindo”, opina. Para ela, o vídeo pode ser um instrumento fundamental para provocar mudanças na área dos direitos humanos. “Tanto mudanças de pensamento ou comportamento, como na área de políticas públicas”, acrescenta.

A parceria com outras organizações envolve treinamento, reuniões, oficinas, além da produção, edição e difusão conjunta de filmes. "O essencial é que as organizações entendam como o vídeo pode ser incorporado em uma determinada campanha", explica Tamaryn. De acordo com a organização, além de servir como provas em julgamentos ou como relatórios, os vídeos podem ter um papel crucial na sensibilização tanto da opinião pública como de setores específicos da sociedade.

A partir de histórias pessoais, os vídeos tentam chamar atenção para o problema e contribuir para alcançar a justiça. Muitos desses documentários já foram exibidos nas Nações Unidas, no congresso americano, na televisão ou em festivais ao redor do mundo, assim como em júris internacionais de direitos humanos. No México, uma parceria com a Comissão Mexicana de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos deu origem ao documentário “Injustiça dupla” (Doble Injusticia, no original). O filme aborda a recente onda de assassinatos de mulheres e tortura de possíveis suspeitos na cidade de Chihuahua.

Segundo Tamaryn, as autoridades locais não só falham em resolver os assassinatos como torturam suspeitos para assumirem os crimes. Foi o caso de David Meza, personagem retratado no filme mexicano citado acima. Primo de Neyra Azucena Cervantes, estuprada e assassinada em 2003, foi torturado até assumir o crime e ficou preso por três anos. Tamaryn acredita que, após ser exibido na Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, nos congressos americano e europeu, assim como em diversas instâncias no México, o vídeo exerceu um papel fundamental na libertação de Meza.

No Brasil, a Witness trabalha com a Comissão Pastoral da Terra e o Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil) numa campanha contra o trabalho escravo. O vídeo produzido pela parceria pretende chamar atenção para a questão e servir como instrumento de pressão para que a punição para esses crimes seja mais eficaz.

Os vídeos realizados pela Witness podem ser vistos através do seu site, em inglês, na seção “Alerta de Direitos” (Rigths Alerts, no original). Ao lado dos filmes, são exibidas informações sobre os temas tratados, links e ações que podem ser tomadas para ajudar nas campanhas.

Joana Moscatelli

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