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Sonho cultivado há 15 anos

Autor original: Joana Moscatelli

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Sonho cultivado há 15 anos
Sauá | Projeto Cada macaco no seu galho
Foto: Alexandre T. Amaral

No início, a intenção era apenas proteger o mico-leão-preto, espécie considerada extinta há quase um século. Aos poucos, o trabalho foi se expandindo, dando origem, em 1992, ao Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê), que hoje tenta preservar animais como o peixe-boi, na Amazônia, e as antas, os sauás e sagüis, na Mata Atlântica. Nesses 15 anos, o Ipê vem se dedicando a proteger espécies ameaçadas, recuperar seus habitats e incentivar a educação ambiental e o desenvolvimento sustentável de centenas de famílias.

A preservação dessas espécies, assim como todo o trabalho de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas, é feita junto com as comunidades locais. Segundo Suzana Machado Padua, presidente e uma das fundadores do Ipê, a consciência da necessidade de preservar e proteger o meio ambiente é passada para as pessoas que vivem nessas áreas. E isso é feito sempre de forma solidária e sensível, buscando respeitar os valores e as culturas das comunidades. “Ao longo de nosso trabalho, percebemos o quão complexo é um trabalho de conservação, que deve envolver a sensibilização da comunidade que vive ao lado das espécies animais e vegetais ameaçadas, a troca de atitudes e valores, assim como mudanças de comportamento que afetam o meio ambiente local”, comenta.

Atualmente, o Ipê atua em áreas como Baixo Rio Negro, no Amazonas; Superagüi, no Paraná; Floresta Naativa, no Pará, e Pontal do Paranapanema e Nazaré Paulista, em São Paulo. Em todos os lugares onde atua, a organização tenta implantar o que sua equipe chama de Modelo Ipê de Conservação, que envolve pesquisa científica, educação ambiental, restauração de habitats, participação comunitária, desenvolvimento sustentável e incentivo a políticas públicas. A entidade calcula que atualmente esteja ajudando a proteger mais de 5 milhões de hectares de floresta tropical nesses locais. Cerca de 200 hectares de floresta foram restaurados e mais de dez espécies ameaçadas de extinção foram ajudadas em 2006, segundo dados do próprio instituto.

No Pontal, a organização desenvolve trabalhos com assentados e familiares, como o de confecção de ecobuchas – esponjas naturais para banho em formato de animais regionais. Em Nazaré Paulista, mulheres artesãs também produzem blusas, bolsas e meias estampadas com os bichos ameaçados de extinção. “Tentamos ser o mais possível coerentes. Ao mesmo tempo que estão bordando, essas mulheres estão aprendendo sobre a biodiversidade local. Quem ganha é a natureza, com sua conservação, e as mulheres e suas famílias, que aprendem a valorizar a diversidade ambiental do local onde vivem e conseguem ter uma renda”, conta Suzana.

Um dos grandes desafios do Ipê é conseguir visibilidade. Como muitas outras organizações, o instituto já passou por maus momentos para garantir sua sustentabilidade. "Como atuamos em áreas remotas, é muito difícil que nossas ações tenham muita visibilidade", explica Suzana. "A grande mídia praticamente nos ignora, pois interessa a ela apenas o desastre, não histórias bem-sucedidas. O espaço que temos na mídia é incipiente frente ao tamanho da missão do Ipê: preservar o patrimônio ambiental e cultural do Brasil". 

Por isso Suzana comemora a parceria feita com as sandálias Havaianas (da empresa Alpargatas) em 2004, que resultou em sandálias com desenhos de animais em extinção. Além de ajudar a divulgar a biodiversidade brasileira, 7% da renda vai para os projetos de educação ambiental do instituto. "Acabamos ganhando mais visibilidade, e as Havaianas Ipê funcionam como um cartão de visita", diz ela.

Apesar de ter sido fundada em Piracicaba, a sede do Ipê está hoje em Nazaré Paulista, localizada a 100km da cidade de São Paulo, entre as serras da Cantareira e da Mantiqueira, região que é um dos mais importantes remanescentes de Mata Atlântica do Sudeste brasileiro. Lá funciona outro importante trabalho da organização: o Centro Brasileiro de Biologia da Conservação (CBBC), área de capacitação criada em 1998 para difundir as experiências adquiridas ao longo de anos de pesquisa e atuação em projetos de conservação e desenvolvimento sustentável. Seus cursos abordam temas como  Biologia da Conservação e Manejo da Vida Silvestre, Medicina da Conservação, Educação Ambiental, Turismo, História Ecológica e Mercado de Carbono, entre outros. Só no ano passado, foram promovidos 19 cursos e outras 11 atividades, como oficinas, encontros e reuniões. A organização estima que já tenha capacitado mais de 300 pessoas. Em breve, o Ipê pretende implementar também o programa de pós-graduação em Biologia da Conservação e Desenvolvimento Sustentável, que já foi aprovado pelo Ministério da Educação (MEC).

Suzana acredita que a força do Ipê está justamente em sua equipe, que atualmente reúne em torno de 90 profissionais. Ela se orgulha dos 15 anos de atuação ética, responsável e flexível, mas lamenta que o Brasil ainda faça pouco para preservar seu patrimônio ambiental e cultural.

Joana Moscatelli

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