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Na rota do tráfico

Autor original: Luísa Gockel

Seção original: Novidades do Terceiro Setor

Na rota do tráfico
Reprodução da Ferramenta de Pesquisa
Rota do tráfico | www.diagnostico.org.br

Uma das agressões ambientais mais severas é a captura de espécimes em áreas naturais, praticada para alimentar o tráfico de seres vivos. Esse intenso ataque à biodiversidade é praticado de forma compulsória nos biomas brasileiros. E com o objetivo de conhece melhor a situação para poder combater esse tipo de crime nasceu o projeto Diagnóstico do Tráfico de Animais Silvestres nos Corredores Central e Serra do Mar da Mata Atlântica e a Implicação dessa Atividade para a Conservação do Bioma.

Idealizada pela Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), com patrocínio do Critical Ecosystem Partnership Fund (CEPF) e apoio da Aliança para a Conservação da Mata Atlântica, a iniciativa pretende colher informações detalhadas sobre o tráfico de animais silvestres nos municípios localizados na áreas de abrangência dos Corredores de Biodiversidade Central e da Serra do Mar da Mata Atlântica.

De acordo com dados do projeto, calcula-se que, do volume total de animais envolvidos no tráfico, cerca de 60% sejam comercializados no país e o restante é destinado ao mercado internacional. Ainda segundo o documento, a situação brasileira, no que tange à conservação da biodiversidade, é considerada uma das mais graves e desafiadoras no mundo. Isso ocorre porque os biomas brasileiros têm perdido a cobertura da vegetação nativa de forma drástica em função do desmatamento.

Os números são alarmantes: em termos da fauna total de vertebrados da Mata Atlântica, entre 6 e 8% dela está ameaçada de extinção. O documento alerta para a possibilidade de essas estatísticas serem ainda mais preocupantes, pois sabe-se muito pouco sobre aspectos biológicos e ecológicos de muitas espécies de vertebrados. Para Ângela Branco, coordenadora do projeto, o que ficou claro com o levantamento foi a falta de informação com que trabalham o Ibama e outros órgãos de conservação.

Ela explica que, além do diagnóstico do tráfico de animais nessa região, foi criada uma ferramenta para gerenciar um banco de dados que pode ser acessado por organizações autorizadas. “Essa ferramenta é indispensável, porque não há como combater uma atividade criminosa sem informação. Um serviço de inteligência é necessário para buscar o início da cadeia do tráfico. Para que o crime seja reprimido, é preciso um trabalho integrado entre as polícias rodoviária, civil e militar”, afirma.

Para Ângela, essa ferramenta deve ser administrada pelo Ibama. “Fizemos um projeto-piloto e esperamos que o órgão abrace essa idéia e a aplique em biomas de todo o país”, diz a coordenadora. Segundo ela, apesar da dificuldade para colher informações nos órgãos oficiais, os workshops realizados com representantes do Ibama, polícias, Ministério Público e ONGs foram muito bem recebidos. “Muitas vezes, as pessoas do Ministério Público não conheciam quem era o responsável no Ibama, e vice-versa”, conta.

Um das questões que chamam a atenção no levantamento é a relação entre pobreza e tráfico de animais. “Acreditamos que é uma questão relacionada à educação. Não há como provar essa relação, pois há cidades muito pobres onde o tráfico não é praticado. Não há dados suficientes, mas subentende-se que as pessoas mais pobres tiram animais da natureza por não terem como obter uma renda complementar”, avalia Ângela.

Segundo a coordenadora, a construção da ferramenta foi um passo importantíssimo para o combate ao tráfico e para a formulação de um diagnóstico mais preciso no futuro. “Para quem trabalha com fiscalização, é importante para saber se uma determinada espécie está em extinção ou não naquela área. Para estudantes, também pode ser de grande valia para trabalhos escolares. É uma ferramenta que ajuda a conhecer melhor a grande diversidade da fauna brasileira.

Luísa Gockel

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