Autor original: Viviane Gomes
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Há 20 anos. a vontade de atuar na defesa dos direitos humanos, da cidadania e da justiça social através da educação e da comunicação colocou juntos profissionais de diversas disciplinas - designers, educadores, cineastas, médicos, físicos, economistas, antropólogos, arquitetos, professores, jornalistas. Pessoas como Marialva Monteiro, Claudius Ceccon, Eduardo Coutinho, Paulo Freire, Washington Novaes, Ana Maria Machado, Ennio Candotti, Breno Kuperman, Bernardo Galvão se mobilizaram em função de um ideal que compartilhavam e assim nasceu o CECIP (Centro de Criação de Imagem Popular) que comemora duas décadas de ativismo com uma exposição fotográfica no Rio de Janeiro*.
Claudius Ceccon, diretor-executivo da entidade, conta que foi uma tarefa difícil selecionar o material para contar a história do trabalho do CECIP desde sua formação. Evidentemente, não faltam registros sobre a produção de materiais educativos, os projetos de capacitação de educadores e adolescentes, as mídias alternativas – afinal, registrar histórias e visões do mundo é a razão de ser da entidade que começou trabalhando comunicação popular com vídeo. "Isso foi considerado um capricho. Uma extravagância. Chegaram a sugerir que trabalhássemos com equipamento de segunda", diz Claudius Ceccon. Isso não aconteceu. O primeiro projeto, a TV Maxambomba, desde o início teve equipamento de primeira linha.
A TV começou a operar em 1986. A equipe fazia programas sobre a região da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro e exibia a produção, inicialmente em locais fechados. Depois, com a aquisição de um telão e um projetor, os programas passaram a ser exibidos em praça pública. A pauta era composta de assuntos e atividades sobre a cultura local e procurava prestigiar grupos ou pessoas que organizavam eventos e promoviam a cultura na comunidade, como por exemplo: jogos de futebol, blocos de carnaval, festas juninas, folias de reis, apresentações de cantores e compositores locais, festas comunitárias, entre outras. Mais tarde, a TV Maxambomba inovou mais uma vez ao trabalhar com Repórteres de Bairro: pessoas da comunidade que passaram a fazer os programas juntamente com a equipe do CECIP.
Trabalho popular sim, com qualidade
A qualidade de equipamentos e produções sempre foi prioridade nas ações do CECIP. Claudius revela que esse processo de busca de qualidade teve como elemento fundamental a participação efetiva de todas as pessoas envolvidas nos projetos do CECIP – todas são ouvidas. Claudius comenta que essa postura sempre foi clara dentro da organização. Talvez por isso, o trabalho realizado pelo CECIP tenha aberto portas para o nascimento de novos projetos tão interessantes. Ceccon cita, por exemplo, o CEASM e a Bem TV, que têm suas origens no trabalho do CECIP: “Algumas iniciativas que foram, digamos, pioneiras em meados dos anos 80, acabaram abrindo caminho para novos projetos muito interessantes e para uma outra conquista importantíssima em projetos como os do CECIP - que é o fato de a comunidade tomar para si a comunicação”, diz.
Ceccon conta que a TV Maxambomba é até hoje uma referência muito forte. “Ela nos ensinou a ter humildade para chegar até as pessoas. Nunca entramos numa comunidade com uma postura de quem está levando a última palavra”, afirma. Ele ressalta, nesse contexto, a importância do cineasta Eduardo Coutinho. “O Coutinho é uma pessoa que tem amor pela verdade, pelo autêntico. E o trabalho com ele nos ajudou, pouco a pouco, a ver e encarar a comunidade como ela é”, comenta.
A idéia de estimular a apropriação da comunicação pela comunidade fez com que o CECIP colocasse em prática o projeto Sala de Informação, que consiste na produção de um site de informações por uma comunidade de Belford Roxo, no Rio de Janeiro [lançado na abertura da exposição]. Claudius explica que o vídeo é uma ferramenta de comunicação importantíssima, mas que a Internet é um grande desafio porque ela oferece possibilidades que não existiam antes – inclusive para o trabalho com audiovisual. “É o CECIP se reinventando. Temos novos desafios porque essa tecnologia exige outras soluções sem paradigmas”, afirma.
Relações de confiança
Pensando em momentos marcantes nestes 20 anos, Claudius conta sobre a produção do documentário “Boca do Lixo”, gravado em um lixão. Nesta produção toda a equipe foi voluntária e integrou-se como parte do projeto, enfrentando as condições do local. “A equipe ficou lá o dia todo. Voltou no dia seguinte. E no outro, e depois. Então, a comunidade começou a se perguntar quem eram aquelas pessoas e o que elas queriam. No final do processo - e o documentário mostra isso -, as pessoas se abriram porque sentiram confiança na nossa equipe. Aquelas pessoas sentiram que a gente não estava ali para fazer um retrato negativo deles ou somente para utilizar as imagens numa reportagem”, declara. Para Claudius, episódios como este são os grandes momentos do CECIP. “O melhor momento é você desenvolver um projeto e ver que ele realmente supriu uma demanda social e que ele começa a se espalhar sem que você faça força alguma. Não há recompensa melhor”, diz Claudius.
Novos caminhos
Ceccon diz que, por sua experiência, o CECIP está pronto para trilhar novos caminhos. “Eu acho que o fato de conseguirmos, como ONG, colocar dois documentários e uma ficção no circuito comercial, com boas críticas e prêmios, é uma coisa muito boa. Vem mais por aí - e precisamos de mais”, anuncia. A maturidade do CECIP leva-o a encarar o desafio de chegar a um público maior. “A gente já produziu muita coisa, mas sempre para públicos pequenos. Então a televisão é um desafio que temos pela frente”, revela.
*A exposição “CECIP 20 anos” estará no Espaço Cultural Oi (Rua Dois de Dezembro, 63, Flamengo, Rio de Janeiro) até o dia 26 de agosto.
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