Autor original: Graciela Baroni Selaimen
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Por Rosário de Pompéia, em cobertura especial para Rets*.
Durante quatro dias (02 a 05 de agosto), grande parte dos movimentos sociais e redes do Nordeste pararam para refletir, discutir, concordar e discordar no II Fórum Social Nordestino, realizado em Salvador. Delegações de todos os estados do Nordeste estiveram presentes dando visibilidade as suas pautas locais, cruzando suas lutas com a conjuntura regional, nacional e mundial. A organização do II FSNE (composta por mais de 20 redes e movimentos) mostrou um forte consenso quando decidiu focar, na caminhada de abertura, no pedido de suspensão definitiva do processo de Transposição do Rio São Francisco. A metodologia deste FSNE chamou atenção pela opção de realizar quatro conferências, quando os processos do Fórum Social Brasileiro e Mundial seguem uma programação auto-gestionada. Nessa entrevista, integrantes da Coordenação Colegiada fazem uma reflexão sobre o II FSNE, sua relação com o Fórum Social Mundial e já apontam para a construção do III FSNE. Para essa conversa, foram convidados (as): Damien Hazard, da Vida Brasil, diretor Regional da Abong NE-2; Cátia Cardoso, da Cáritas Brasileira Regional Nordeste III e Silvia Camurça, da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB).
Rets- As caminhadas dos fóruns sociais são marcadas pela diversidade de pautas dos movimentos, que ganham visibilidade na rua através de cartazes, bandeiras, palavras de ordem e outras formas de expressão. No II Fórum Social Nordestino, esse momento focou na luta contra o projeto da transposição do Rio São Francisco. Quais as razões para a organização do II FSNE enfatizar essa problemática durante a sua abertura?
Damien Hazard – O tema da caminhada foi a defesa de um Outro Modelo de Desenvolvimento Possível para o Nordeste. Durante o processo de construção do II FSNE, as redes e movimentos que estão na Coordenação Colegiada, sentiram necessidade de focar a caminhada com uma posição contrária ao projeto do governo federal, pois ele é um exemplo significativo de incompatibilidade com o que queremos para o Nordeste. Vale a pena ressaltar que o Fórum não é feito de consensos e nem pretende tirar encaminhamentos ou alguma deliberação, pois ele é um espaço de articulação, reflexões, conflitos de idéias. Porém, neste caso, todos os movimentos sociais foram unânimes na hora de dizerem e explicitarem um “não” à transposição do Rio São Francisco nas ruas de Salvador.
Rets- Uma outra novidade na metodologia deste II FSNE foi a programação das oficinas/ seminários na parte da manhã e a realização de quatro conferências no período da tarde. Quando se olha para a metodologia dos Fóruns Sociais Mundiais e do Fórum Social Brasileiro se vê uma programação totalmente auto-gestionada. O que explica essa mudança de rumo?Como foram definidos os temas das conferências?
Silvia Camurça – Os processos dos Fóruns são diversos, por isso, há diferentes maturações do seu processo. Para o II FSNE ainda se fazia necessário ter momentos de aglutinações de todos os presentes num mesmo debate, numa mesa em torno de alguns temas. Mas, acredito também que deveria ter apenas uma conferência. Da forma como ficou organizado, acabou tirando o tempo das atividades auto-gestionadas, que devem ter tempo e número sempre maior do que as conferências.
Damien Hazard - É também nas conferências que a coordenação garante alguma governabilidade sobre o que será debatido no FSNE. Os seus temas foram definidos a partir dos eixos do II FSNE, que foram construídos cruzando os eixos do Fórum Social Mundial e as pautas nacionais e prioritárias para o Nordeste. Esses temas foram bem discutidos nos seminários realizados pela coordenação do II FSNE em vários estados do Nordeste durante o seu processo de construção em 2005, 2006 e 2007.
Rets - Durante esse processo de construção, após o I FSNE que aconteceu em novembro de 2004 no Recife, já se pode avaliar o que se aprendeu com o primeiro e o que foi importante continuar no segundo?
Damien Hazard – O mais importante nesse processo foi sentir vivas as articulações estaduais, através dos Comitês Estaduais. Elas não pararam. Essa forma de organização em Comitês começou durante a preparação do I FSNE. Elas se alimentaram durante três anos. Isso legitima em dizer que o Fórum é um processo, e não um evento. Em relação à organização, continuamos com uma metodologia horizontal e democrática apostando novamente no formato de Coordenação Colegiada (com mais de 20 redes), Coordenação Executiva, Comissões e Comitês. Aprendemos no I FSNE a ter mais atenção com a acessibilidade das pessoas, sendo assim, neste II FSNE, nós fizemos uma programação em braile, em CD (áudio), mais rampas de acesso aos espaços e tradução em libras. O Fundo de Solidariedade aos movimentos priorizou caravanas para pessoas idosas, com deficiências, pessoas convivendo com HIV e comunidades tradicionais.
Cátia Cardoso – É importante destacar que a conjuntura que o II FSNE vivenciou foi completamente diferente da conjuntura do I FSNE. Nesse contexto atual, houve mais dificuldade na mobilização dos movimentos sociais, pois contamos com poucos recursos e pouco apoio dos governos locais. Estamos também no período de novas gestões nos Estados, em momentos de implementações dos seus governos, que de alguma forma interferiu nas articulações dos movimentos que tinham agendas locais.
Rets - Já há alguma definição sobre quando será o próximo FSNE?
Silvia Camurça – O próximo FSNE já começou. Ele é um processo contínuo. No ato de encerramento já anunciamos a abertura de preparação rumo ao III FSNE. A agenda de articulação do Nordeste já está voltada para a mobilização do dia 26 de janeiro de 2008. Em seguida, o processo segue com o II Fórum Social das Américas, em 2008 e o Fórum Social Mundial, em Belém, em 2009. O Nordeste vai se alimentando e alimenta esses fóruns como parte de construção do III FSNE. Além disso há ações nos estados e regionais que devem surgir ao longo desses anos. O que ainda não sabemos é onde será e nem quando será o evento regional, essa definição se dá nas reuniões da Coordenação Colegiada, que o espaço de representação das redes e movimentos sociais que atuação no Nordeste.
Cátia Cardoso – Acredito que os fóruns sociais nordestinos sejam realizados no intervalo de dois anos de um para o outro. É um bom tempo para as articulações se prepararem, se organizarem e definirem suas questões prioritárias para o momento do encontro.
Rets - Entendendo que todos os fóruns estão inseridos no processo do Fórum Social Mundial, como se dá essa ligação do Nordeste com essa pauta global?
Silvia Camurça – O FSNE é parte do processo do FSM. Essa ligação acontece de várias formas. A própria realização do II FSNE é um exemplo disso. Agora, em 2008, faremos parte da Chamada para um Dia de Mobilização e Ação Global. Um momento em que todos e todas, em cada país, regiões do planeta se juntam em uma semana de ação que culminará em 26 de janeiro. Essa data foi escolhida como forma de manter o confronto com o Fórum Econômico Mundial. O ato de lançamento no Brasil desse Dia de Mobilização e Ação Global foi feito aqui, no II Fórum Social Nordestino, em Salvador. Dessa forma, o II FSNE marca a largada do Nordeste rumo ao dia 26 de janeiro. A AMB, por exemplo, já promoveu nesse espaço o Fórum de Luta das Mulheres por um Outro Desenvolvimento do Nordeste pautando manifestações para 2008.
Rosário de Pompéia é jornalista do Centro de Cultura Luiz Freire, que apoiou sua ida ao II FSNE.
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