Você está aqui

Ginga Brasil: capacitação sobre produção de conteúdos para a TV Digital

Autor original: Viviane Gomes

Seção original:

“Quando vocês vão sair dos seus castelos e pensar em passar o conhecimento gerado para o povo em geral e não apenas para uns poucos privilegiados?” Essa foi a provocação que Luiz Fernando Gomes Soares, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro [PUC-Rio], ouviu de Carlos Afonso, diretor de planejamento e estratégias da Rede de Informações para o Terceiro Setor [RITS]. A resposta é a Semana Ginga Brasil, iniciativa da Associação de Software Livre [ASL], da RITS, do Comitê para Democratização da Informática de Pernambuco [CDI-PE], da Tangolomango, da Universidade Federal da Paraíba [UFPB] e da PUC-Rio, cujo objetivo é levar para o público a possibilidade de apropriação do conhecimento gerado em 18 anos de pesquisas em sistemas de hipermídia e TV Digital, nos laboratórios TeleMídia, do Departamento de Informática da PUC-Rio, e no LAVID, do Departamento de Informática da UFPB.

A Semana Ginga Brasil traduz-se na realização de oficinas de produção de conteúdo interativo para TV Digital com o uso do middleware Ginga, desenvolvido pelo LAVID. O Ginga é o middleware do Sistema Brasileiro de TV Digital.“Middleware é um software que oferece uma série de facilidades para o desenvolvimento de conteúdos e aplicativos para TV Digital, entre elas a possibilidade de que esses conteúdos sejam exibidos nos mais diferentes sistemas de recepção, independentemente do fabricante e do tipo de receptor (TVs, celulares, palms etc)”, diz Luiz Fernando. O professor explica que a TV Digital será como a TV de hoje só que com imagem e som muito melhores e, além disso, poderá processar dados como um computador, o que permitirá ao telespectador interagir com o conteúdo do programa da mesma forma como se faz atualmente na Internet.

A importância do middleware Ginga é que ele complementa o sistema operacional da TV Digital no suporte às aplicações, através da ferramenta Composer. Fazendo uma analogia, o Composer é como se fosse uma ilha de edição para a produção de programas para TV. Com ele, usuários sem conhecimentos técnicos prévios sobre linguagens de programação, poderão criar programas para a TV Digital. “Um programa para a TV Digital é composto não apenas por áudio e vídeo principais, mas também por outros objetos de mídia (outros áudios, vídeos, imagens, animações, textos etc.) que aparecem ou desaparecem, durante o programa, muitas vezes devido à interação (seleção) do telespectador”, explica Luiz Fernando. Ele acrescenta que, com a TV Digital, o telespectador poderá pedir mais informações (mais conteúdo) sobre um programa; fazer compras pela TV; decidir sobre as cenas que estarão no programa; e escolher sob que ângulo (escolha de câmeras) quer ver uma partida de futebol, por exemplo. “Chamamos tudo isso de interatividade; e toda essa interação será feita a partir do controle remoto. As oficinas que vamos realizar visam ao desenvolvimento de programas para a TV Digital interativa. Queremos mostrar que o Composer é bem fácil de ser usado. As oficinas não têm o objetivo de ensinar linguagens de programação para desenvolvimento do Ginga ou do Composer, e sim capacitar pessoas a utilizar esses recursos para fazer os programas.“

Os eventos acontecerão durante a 4ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, coordenada pela Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do Ministério da Ciência e Tecnologia [MCT], através do Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia. As capacitações serão realizadas em cidades das cinco regiões do país escolhidas pelas entidades e universidades que compõem o movimento Ginga Brasil; Manaus, Recife, Brasília, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Além dessas cinco cidades, as oficinas também serão feitas em Fortaleza, São Luís, João Pessoa, Natal, Vitória, São Paulo, São Bernardo do Campo, São Carlos e Nova Iguaçu porque universidades e organizações não-governamentais desses municípios manifestaram interesse em participar da iniciativa. Antes das oficinas, técnicos da PUC-Rio vão formar multiplicadores, indicados pelas organizações e pelos centros de pesquisa participantes, para que as capacitações possam ser reaplicadas para o maior número de pessoas possível.

Para técnicos da Associação Brasileira de Software Livre [Abrasol], uma das organizações que manifestou interesse na iniciativa, o treinamento, na PUC-Rio, começou na semana que vai do dia 23 até 31 de agosto, durante todo o dia. “Estamos com dois técnicos participando da capacitação porque acreditamos ser muito importante a valorização da produção desse tipo de software no Brasil. A TV Digital vai mudar a forma sobre como o mundo vê e faz TV no mundo, e a Abrasol tem técnicos com experiência e capacidade para estar na dianteira do repasse dessa tecnologia para organizações sociais ou comunitárias, que poderão produzir conteúdos para TV Digital através desse software”, diz o presidente da associação, Roberto de Carvalho Pimentel.

Pimentel diz que a questão não é apenas a produção do conteúdo em si, e sim, a difusão do conhecimento necessário para a produção de programas para TV Digital, que não ficará mais restrito às emissoras. “Um projeto de inclusão digital/social, por exemplo, que tenha um espaço como um Telecentro, poderá produzir seu conteúdo para TV Digital e através da compressão de dados, disponibilizá-lo, por vídeo-streamming, num site, divulgando diversos conhecimentos”. Animado, o presidente diz que ao participar da capacitação para uso do middleware Ginga, o comprometimento da Abrasol é repassar as informações, inicialmente para centros de pesquisa de Caxias e Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, mas que depois, esse conhecimento estará à disposição de organizações, movimentos e entidades que estiverem interessados, “afinal seremos multiplicadores dessas informações”.

Luiz Fernando explica que cada universidade, entidade e organização não-governamental responsável pela realização das oficinas na Semana Ginga Brasil fará uma seleção entre participantes de Pontos de Cultura, Telecentros, Casas Brasil e escolas públicas de ensino médio, todas em comunidades de baixa renda, para receberem a capacitação. “Queremos treinar as populações de baixa renda para mostrar que elas também podem se apropriar do Ginga para gerar conteúdos em uma verdadeira inclusão social. Ou seja, essas pessoas não apenas terão acesso à informação, mas poderão gerar informação. É um passo importante da direção da democratização da informação”, declara.

Gerar conteúdo para a TV Digital é preciso um computador com o Composer que, entre outras ferramentas, possui um simulador para que o produtor do conteúdo veja como ficará a apresentação do programa na TV. Mas para ver o conteúdo, Luiz Fernando explica que é necessário um computador com o middleware Ginga instalado e ligado a um televisor. “O computador, agora, fará o papel de um ‘set-top box’, ou seja, uma caixinha que será acoplada à TV, inicialmente, e que depois, virá embutida no próprio aparelho.” Todos esses equipamentos serão utilizados nas oficinas realizadas na Semana Ginga Brasil.

Pimentel destaca o fato de o middleware Ginga, a linguagem de programação NCL e a ferramenta Composer estarem disponibilizados em código aberto, sob licença GNU/GPL, no site www.softwarepublico.gov.br, mantido pela Secretaria de Logística e Tecnologia e Informação do Ministério do Planejamento. Para ele, a possibilidade de a comunidade software livre contribuir para melhorar e estender as facilidades da ferramenta representa um grande reforço para a ampliação da independência tecnológica brasileira.

O professor Luiz Fernando diz que o processo está apenas no começo e que, por isso, ainda não recebeu muitas contribuições “porque o software é complexo e vai demorar um pouco para as pessoas entenderem e começarem a colaborar”. O reforço esperado pelo professor Luiz Fernando para aumentar o número de contribuições e de pessoas interessadas no desenvolvimento da ferramenta é o 5º Fórum de Software Livre, que a Abrasol vai realizar, concomitantemente à Semana de Ciência e Tecnologia, nos dias 3 e 4 de outubro. O evento terá em sua programação painéis sobre a visão governamental acerca da produção de conteúdo; sobre o desenvolvimento e implementação da TV Digital no Brasil; e, ainda sobre linguagem de programação. “Em termos de produção de conteúdos para TV, o Brasil está na dianteira. Agora, a comunidade software livre tem a possibilidade de colaborar com as pesquisas realizadas na academia e, nesse sentido, ainda vamos fazer muita coisa em relação à produção de softwares livres voltados para o desenvolvimento de recursos utilizados para a produção de programas para a TV Digital”, declara.

As oficinas Ginga Brasil contam com o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia [MCT], do Comitê Gestor da Internet no Brasil [CGI.br] e da Rede nacional de Pesquisa [RNP]. Mais informações podem ser encontradas em www.ncl.org.br.

Viviane Gomes

Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer