Autor original: Viviane Gomes
Seção original: Artigos de opinião
Por: Eleonora Ramos é jornalista, coordenadora do Projeto Proteger
Em alguns estados americanos a legislação prevê um aviso em frente à casa de condenados por abuso sexual, em forma de faixa ou cartaz: aqui mora um agressor sexual de crianças. Na falta de pena tão criativa no Brasil, resta-nos divulgar seus nomes, sobretudo se estão livres e impunes como é o caso de um tal Eugenio Miranda, professor de educação física e ex-treinador da nadadora pernambucana Joanna Maranhão, que a abusou sexualmente quando tinha menos de nove anos. Eugenio, sua mulher e dois filhos com idades próximas à de Joanna, se tornaram amigos da família Maranhão que costumavam visitar.
Mais de dez anos depois, a nadadora veio a público denunciar o agressor e logo se conheceu o nome do homem que além de desrespeitar seu corpo de menina e oprimir sua infância, poderia também ter impossibilitado sua carreira.
Supreendentemente, o trauma que ela acredita superado, mas, cujas cicatrizes, sabemos, permanecem para sempre, não a impediu de estar entre as maiores atletas brasileiras de sua geração. Uma lição de força.
O caso de Joanna apresenta os mesmos conhecidos elementos e circunstâncias: um adulto de confiança da família, com autoridade de professor e intimidade de amigo, uma mãe distante mesmo no momento crucial da revelação, o silêncio que se segue, os anos que passam, a infância interrompida, como em título de filme.
O abusador Eugenio Miranda, como pai de família acima de qualquer suspeita, continuou trabalhando com crianças até ser afastado, no dia 13 de fevereiro, do colégio particular em Olinda, onde dava aulas de educação física. Nesses dez anos quantas mais terão sido suas vítimas?
Ao romper o silêncio, Joanna pôs fim à impunidade de seu ex-treinador. Uma lição de coragem. De uma certa forma, ele começa a ser julgado. Que pena merece o Sr. Eugenio Miranda? No mínimo ressarcir a família da vítima das despesas com tantos e tão dolorosos anos de tratamento, e cumprir pena em regime fechado, como manda a lei. Merece que outras vítimas venham a público. Que seus filhos, jovens como Joanna e hoje vítimas também, o repudiem. Que a imprensa estampe sua fotografia. E que o tradicional clube Náutico, de Recife, treinadores e profissionais de educação física o processem por danos morais.
Quanto a Joanna, revelou-se uma vitoriosa, também fora das piscinas. Seu exemplo vai ajudar outras meninas a quebrarem o silêncio, evitar que crianças continuem convivendo com o abusador e lembrar a pais e cuidadores para escutar e proteger a criança que narra episódios de abuso sexual. Não se tem notícia de que alguma delas estivesse mentindo ou fantasiando.
A jovem atleta pode trazer ainda muitas medalhas para o Brasil, mas já conquistou sua maior vitória. E só temos de agradecê-la por isso.
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