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Imagens e Vozes da Esperança

Autor original: Graciela Baroni Selaimen

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A norte-americana Judy Rodgers é fundadora e primeira diretora mundial do projeto Imagens e Vozes de Esperança (IVE), uma iniciativa internacional de diálogo com os meios de comunicação com o objetivo de fortalecer a mídia como agente de benefício para a sociedade. Judy é especialista em mídia e consultora estrategista em comunicação há 20 anos - foi vice-presidente executiva da New World Knowledge, uma divisão da New World Entertainment e diretora de programação da CBS/Fox Video e do departamento de programas esportivos da Twentieth Century Fox Vídeo. A ênfase em seu trabalho é o poder do diálogo no fortalecimento de indivíduos, comunidades ou sistemas visando mudança.

No IVE, Judy já promoveu mais de 50 encontros de diálogos em diferentes países, com o objetivo de estimular comunicadores, jornalistas, artistas e profissionais que atuam de alguma forma na mídia, no sentido de gerar idéias e atitudes que ajudem a construir um mundo melhor e mais justo. Em abril de 2008, Judy foi mais uma vez trazida ao Brasil pela organização Brahma Kumaris, quando participou de encontros e promoveu diálogos no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e participou do lançamento do projeto Imagens da Paz. Em conversa com Graciela Selaimen, editora da Rets, Judy falou sobre as mudanças necessárias nas consciências individuais para a construção de sociedades mais pacíficas, saudáveis e justas e compartilhou sua crença no poder da narrativa para gerar as transformações que desejamos.

Rets – O que é o projeto Imagens e Vozes da esperança? Quais são os principais objetivos desta iniciativa?

Judy Rodgers - O IVE é uma iniciativa para estabelecer um diálogo global com a mídia. Começou em 1999 em Nova Iorque, com o objetivo de envolver profissionais de mídia num processo de reflexão para considerarem o impacto social de seu trabalho. Assim, conforme vão se tornando mais e mais conscientes do impacto social de seu trabalho, estes profissionais podem mudar seu enfoque e sua maneira de fazer as coisas, de modo que a maneira como impactam a sociedade seja mais e mais benéfica.

Rets – Esta não é sua primeira visita ao Brasil - sabemos que você já facilitou mais de 50 encontros para diálogo ao redor do mundo, e algumas destas experiências se deram aqui. Você vê alguma mudanças nas mentes, na consciência de profissionais de mídia e veículos que têm de abordar questões sociais tão desafiadoras em nosso país, que lidam com temas difíceis no seu dia a dia...você vê uma mudança em andamento, que mostre o compromisso da mídia com uma sociedade mais pacífica e justa?

Judy Rodgers – Devido ao fato de eu não ler em Português, é difícil avaliar a abordagem dos veículos de comunicação quando venho aqui. Mas eu tenho conhecimento de muitas histórias individuais, eu sei que em São Paulo estamos lançando um banco de imagens especificamente destinado a receber e compartilhar imagens não-violentas e eu sei que algumas pessoas, como minha amiga Cristina Carvalho Pinto mudaram totalmente a direção de seus negócios empreendimentos de mídia e de seu trabalho desde que tiveram contato com o trabalho do IVE.

Quero dizer que eu sei da importância do papel do Brasil no mundo de hoje. Além de ser uma economia importante no cenário mundial, o Brasil também tem uma mídia – e uma comunidade de profissionais de mídia – que impacta o resto do mundo. As ações que nascem em novas iniciativas como esta – por exemplo, as atividades no sítio web do Imagens e Vozes da Esperança no Brasil, organizado por Rosa Alegria -, estão movendo a nossa percepção da realidade numa certa direção. Por isso, embora eu não possa lhe responder sobre o todo, sobre uma mudança estrutural e institucional da mídia, posso sim lhe falar sobre as pessoas corajosas que têm a imaginação e têm a energia para implementar e viver estas mudanças, e eu estou segura que estas pessoas vão tocar outras pessoas, que se sentirão inspiradas, encorajadas e vão querer fazer parte de um movimento de mudança para uma mídia mais focada na paz e nos valores humanos.

Rets – Quando você fala sobre estas mudanças individuais, sabemos que é necessário muita coragem para mudar de direção, mudar nossas mentes e comportamentos, pois parece muitas vezes que estamos nadando contra a corrente. A mudança pessoal, individual, impacta diretamente o nosso trabalho e a expressão de cada um no mundo. Como você vê a importância do auto-conhecimento e o sentimento de propósito e significado no trabalho de cada profissional?

Judy Rodgers – Veja, no final das contas, o ponto fundamental para a mudança coletiva e a transformação das sociedades é a auto-percepção, a auto-descoberta, porque aquilo que vemos em nossas mentes afeta o mundo que vemos ao nosso redor. Nós não podemos ver um mundo de uma perspectiva diferente daquela que carregamos em nossas mentes, a possibilidade de mudança começa com nossa atitude interna. Depois de transformar esta atitude é que podemos ver o mundo de um jeito diferente. E uma vez que vemos o mundo de um jeito novo e percebemos as diferentes possibilidades, aí então nós podemos agir e apoiar os que estão à nossa volta. Parte do problema que temos neste trabalho do IVE é explicar aos nossos colegas que se eles estão, digamos, “adormecidos”, se eles estão focados exclusivamente nos lucros e ganhos imediatos, eles jamais entenderão esta proposta mais ampla, de mais longo prazo, da qual estamos falando. Isso afeta tudo – afeta as empresas e as marcas comerciais, afeta o impacto social das instituições, toda a transformação positiva que queremos para o mundo depende de compreendermos o mundo de um ponto de vista, de um patamar diferente.

Rets – Grande parte do trabalho feito nestes encontros para diálogos que o IVE promove estão baseados numa metodologia chamada “Investigação Apreciativa”. Como essa metodologia funciona, em que princípios está baseada?

Judy Rodgers – As Investigações Apreciativas estão baseadas em três princípios. Um deles é a necessidade de envolver todo o “sistema”. Então, mesmo quando aplicada em grupos grandes ou empresas, o processo de IA deve envolver pessoas de todas as camadas e setores que fazem parte do grupo. O segundo princípio é basear-se em forças e capacidades. Assim, nós não promovemos diálogos para descobrir por que as coisas estão ruins, quais são os problemas, mas dialogamos sobre aquilo que dá vida ao sistema, ao grupo, à sociedade. Em terceiro lugar vem o princípio de ser um trabalho baseado em histórias. Então, não pedimos às pessoas para teorizar, mas sim para lembrarem-se de momentos em suas vidas em que as coisas deram certo e trouxeram realização, e a partir daí desenhamos um futuro possível. Sendo assim, é um trabalho baseado em narrativas.

Geralmente esta é uma metodologia usada em empresas do setor privado, para estratégias e gestão de mudanças. NO IVE nós adaptamos esta metodologia para nossos diálogos.

Rets – Que mensagem ou sugestão você deixaria para nós – não apenas os profissionais de mídia, mas para os cidadãos e cidadãs brasileiras, especialmente aqui no Rio, onde vivemos já há tempo sentindo o medo constante da violência, e agora passamos por outro momento de crise com o surto de dengue...o que você poderia dizer para uma sociedade que precisa de inspiração e esperança, talvez mais do que nunca?

Judy Rodgers – Eu diria que as soluções nunca estão “lá fora”. Esse é um erro que fazemos com freqüência, corremos para lá e para cá buscando alguém ou alguma coisa que resolva nossos problemas, que venha salvar-nos. Há um poema antigo, dos índios norte-americanos, que fala dos tempos difíceis, dos tempos de medo – e o texto acaba com o seguinte verso: “Nós somos aqueles por quem estivemos esperando”. A idéia aqui é a de que temos os recursos necessários dentro de nós, mas nos tornamos sociedades em que não há lugar para a reflexão, nos tornamos sociedades de pessoas que não nos conhecemos por dentro, sociedades de pessoas tão focadas no mundo externo, e tão absorvidas por ele, que perdemos a capacidade de construir nossas imagens internas, de nutrir nossa “imaginação de valores”, eu diria. Então o que eu diria para cada pessoa é que busque encontrar tempo para conhecer a si mesma, para refletir e meditar...aí, compreenderemos que nós somos aqueles por quem estivemos esperando, nós somos os benfeitores, nós podemos transformar qualquer realidade.

Graciela Selaimen

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