Autor original: Graciela Baroni Selaimen
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Este artigo, publicado no Portal do Voluntário, expressa a admiração de todos aqueles que tiveram a oportunidade de trabalhar próximos à Dra. Ruth no âmbito do Comunidade Solidária e da Rede Solidária, assim como o pesar por seu falecimento. A Rits - que nasceu como uma organização fruto dos ideais e do espírito visionário de Ruth Cardoso -, faz suas também estas palavras e estes sentimentos.
No dicionário da Drª Ruth Cardoso, solidariedade é sinônimo de cidadania.
Foi com espírito público invador, que, em 1995, ela fundou a Comunidade Solidária, atual Comunitas, organização responsável por programas sociais e de voluntariado, da qual o Portal do Voluntário é um dos frutos. Esposa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (não gostava do título Primeira-dama) ela renovou o pensamento e ajudou a mudar os rumos da política social no Brasil.
Ruth Cardoso era doutora em antropologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e, como docente e pesquisadora, atuou na USP, Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso/Unesco), Universidade do Chile (Santiago do Chile), Maison des Sciences de L’Homme (Paris), Universidade de Berkeley (Califórnia) e Universidade de Columbia (Nova Iorque). Era membro associado do Centro para Estudos Latino-Americanos da Universidade de Cambridge (Inglaterra) e membro da equipe de pesquisadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap - São Paulo).
Publicou vários livros e trabalhos sobre imigração, movimentos sociais, juventude, meios de comunicação de massa, violência, cidadania e trabalho.
A antropóloga tinha uma visão muito específica sobre a nossa sociedade: “A sociedade brasileira hoje não espera tudo do Estado. Toma a iniciativa, inova e experimenta. Parcerias entre múltiplos atores ampliam a eficiência e a sustentabilidade das ações sociais. O desenvolvimento do Brasil passa pelo investimento em capital humano e em capital social. “
Trabalho em rede, uso de novas tecnologias como forma de inclusão social, o fortalecimento das capacidades de pessoas e comunidades para atuar como agentes de seu auto-desenvolvimento, o direcionamento dos projetos para as áreas geográficas e setores mais pobres da população, a parceria entre múltiplos atores - públicos e privados - como estratégia para ampliar os recursos investidos na área social são algumas das idéias da Drª Ruth, colocadas em prática pelos programas desenvolvidos pela Comunidade Solidária.
Ela acreditava na participação social do brasileiro e, em entrevista ao Portal do Voluntário HSBC, reafirma esta convicção: “O brasileiro é solidário. O gesto solidário faz parte da nossa cultura. Pesquisas confirmam que 1 em cada 5 adultos é voluntário. Ou seja, é maior do que se pensa o número de pessoas que doam tempo, trabalho e talento para ajudar quem precisa. Tenho certeza que o potencial de participação é ainda maior. Cada problema social é uma oportunidade de ação cidadã. Voluntariado é um hábito do coração e uma virtude cívica. Isolados, amedrontados, desesperançados, a tendência é a uma reação egoísta. Solicitados a doar o melhor que temos dentro de nós, a tendência é a uma reação generosa.“
Inovadora também era sua visão do voluntariado “A percepção do voluntariado como mero assistencialismo é uma visão antiga. Numa sociedade vibrante e dinâmica como a brasileira, voluntariado é expressão de solidariedade e de cidadania. Não há nada mais contemporâneo do que essa visão da democracia como uma construção de todos, como um espaço de debate e de participação”
Esta visão foi a base para a construção do Portal do Voluntário. Lançado em 5 de dezembro de 2000, em parceira com a Rede Globo, a Globo.com e a IBM Brasil, para comemorar o Ano Internacional do Voluntário em 2001, o Portal começou a mostrar o importante trabalho desenvolvido por voluntários em todo o país. E foi com entusiasmo que ela viu e apoiou a criação da tecnologia V2V, como afirma em entrevista ao Voluntários Embratel “Acho que a ferramenta V2V é uma proposta extremamente inovadora. Voluntariado é ação. Quem vai e faz, movido pela criatividade e solidariedade, é que abre os caminhos e gera as oportunidades. Não é preciso pedir licença a ninguém para ser voluntário. Cada um pode olhar em volta, identificar problemas, ter idéias, se juntar a outros, inventar novas formas de ação. O grande mérito da ferramenta V2V é o de valorizar a capacidade e a iniciativa de quem já é voluntário e de estimular e orientar para a ação quem quer se engajar.” Hoje, o Portal desenvolve ferramentas de gestão de voluntariado corporativo para diversas empresas
Rede Solidária
Além do Portal do Voluntário, a Comunitas tem um conjunto de programas criados no âmbito do Conselho da Comunidade Solidária que constitui a Rede Solidária – compartilhando os mesmos princípios. Realizados em parceria com ONGs, empresas, universidades e governos, os programas da Rede Sol constituem, em 2008, uma rede social de mais de 250 mil educadores e agentes de desenvolvimento, no Brasil, na Africa e na Ásia, nos Estados Unidos e na América Central.
O Portal do Voluntário, e a Comunitas em geral, sofre e sente muito a grande falta da Drª Ruth Cardoso. O que podemos fazer para honrar sua memória é levar adiante seus ensinamentos, seu pensamento inovador e, principalmente, sua preocupação ética ao tratar dos problemas sociais do país.
“A solidariedade é um conceito que indica a noção de que fazemos parte de um todo. É exatamente essa consciência que está juntando diferentes personagens do empresariado, do Terceiro Setor e do governo. Para o bem estar de todos não podemos ter partes tão desconectadas em nossa sociedade para que possamos incluir todos os excluídos dentro de nossa sociedade. Para mim é isso solidariedade.“
Ruth Cardoso
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