Autor original: Graciela Baroni Selaimen
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Por Mariana Martins
De 16 a 18 de outubro, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) foi sede da IV Conferência Brasileira de Mídia Cidadã. O evento reuniu mais de 300 pessoas no campus do Recife da Universidade, tendo sido realizado pela primeira vez fora de São Paulo. Promovida pela Cátedra Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional, a Conferência foi organizada este ano pelo Observatório de Mídia Regional da UFPE com o apoio de várias organizações sociais e de outras faculdades.
O evento marcou a Semana Nacional pela Democratização da Comunicação na capital pernambucana. Como em outros estados, o Mídia Cidadã fez também a sua atividade pela convocação imediata da Conferência Nacional de Comunicação. Em um ato público, que contou com a participação do Deputado Federal Paulo Rubem Santiago (PDT-PE), os participantes da Mídia Cidadã produziram uma grande tela grafitada com o pedido de convocação assinado por várias entidades presentes no evento.
De acordo com Edgard Rebouças, Coordenador do Observatório da Mídia Regional e organizador do evento, esta tela será encaminhada ao Ministério das Comunicações como forma de reiterar o clamor pela realização da Conferência Nacional de Comunicação e de sensibilizar o Ministro Hélio Costa para a convocação imediata deste processo.
Experiências alternativas
A Conferência de Mídia Cidadã este ano teve como objetivo promover o diálogo entre movimentos sociais, o Estado, o mercado e a academia sobre as diferentes experiências de mídia relacionadas à promoção da cidadania, que podem ser entendidas como uma forma de comunicação comprometida com as questões sociais e com a promoção do direito à comunicação e dos demais direitos humanos.
Para discutir o tema, a Conferência contou com presenças de importantes referências nos estudos críticos da comunicação, como o professor belga radicado na França Armand Mattelart, a professora Michèlle Mattelart e o ativista americano John Downing, autor do livro Mídia Radical, famoso entre os militantes da causa.
A principal tônica dos trabalhos e relatos de experiências apresentados durante o encontro foi a construção de processos midiáticos que podem ser considerados alternativos às produções tradicionais. Para Edgard Rebouças, o Mídia Cidadã pode sim ser considerado um sucesso, pois conseguiu nos seus três dias cumprir seus principais objetivos.
“Tivemos aqui a convivência de trabalhos acadêmicos com produções populares, alternativas e independentes. Esta foi a grande riqueza do encontro. Tivemos três dias de intensa troca de experiências, todo mundo aqui saiu sabendo mais um pouco mais sobre uma nova experiência e fazendo contato com uma nova pessoa ou entidade”, avalia Rebouças.
Feira de mídia cidadã
Estas experiências foram reunidas em uma Feira da Mídia Cidadã, que expôs pela primeira vez iniciativas e projetos de comunicação desenvolvidos por organizações sociais, comunidades, estudantes, professores e profissionais envolvidos com diferentes formas democráticas de comunicação.
“A feira surgiu da necessidade inicial de apresentar os trabalhos de mídia cidadã desenvolvidos no estado de Pernambuco para os demais participantes da Conferência e acabou sendo um importante espaço de experimentação e de quebra do modelo único de apresentação formal de trabalhos científicos em grupos de discussão”, diz Patrícia Cunha, do Observatório de Mídia Regional.
Nas barracas montadas no hall do Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco durante dois dias, forama apresentadas diferentes experiências na forma de vídeos, fotos, cartilhas, grafites, livros, músicas e conversas. Além dos participantes da Conferência, a feira envolveu também estudantes de outros cursos que puderam conhecer diferentes maneiras da produção midiática. Experiências como as da Escola Kabum, do Ventilador Cultural, do Coletivo Gambiarra, do Blog Boivoador, do Coletivo Intervozes, do Conselho Federal de Psicologia e de projetos de extensão da UFPE deram um pequeno panorama do mundo da mídia cidadã.
Estudantes da UFPE apresentaram na feira o projeto de extensão Coque Vive, que intervém na comunidade do Coque, uma das mais pobres e mais violentas do Recife. O projeto, coordenado pela professora Yvana Fechine, existe há dois anos e é uma parceria da Universidade com o Núcleo de Educação Irmãos Menores Francisco de Assis.
A iniciativa surgiu com a intenção de dar cursos de leitura crítica da mídia a partir das demandas apresentadas pelos jovens. Como resultado, foram oferecidas oficinas de fotografia, vídeo, rádio, fanzine e produção de blogs. Rafaela Vasconcellos, 23, monitora do projeto e estudante do oitavo período de jornalismo, diz que para ela o Coque deixou de ser um lugar que ela via quando passava pelo viaduto Joana Bezerra para ser os meninos e as meninas do projeto.
Os resultados são sentidos sobretudo por estes jovens, que passaram a ter uma outra relação com a comunicação e com a Universidade. Monique França, 18 anos, moradora da região, diz ter tido seu primeiro contato com a UFPE por meio do projeto Coque Vive e hoje é estudante do segundo período de turismo da instituição.
“Antes a Universidade era uma coisa distante da gente. A maioria das pessoas na favela acha que nunca vão crescer na vida, que não vão entrar na universidade. Eu acho que enquanto você se vê como um marginal, nunca vai mudar a forma como as pessoas vêem você. Eu hoje estou aqui e quero ser uma monitora também do projeto, quero sempre poder contribuir com uma iniciativa que foi muito importante na minha vida”, diz a jovem.
Todo o encontro foi registrado por estudantes de diferentes escolas de comunicação do Recife. As matérias, fotos e comentários estão disponíveis no blog da Mídia Cidadã que pode ser acessado no endereço http://www.midiacidada2008.blogspot.com/.
Fonte: Observatório do Direito à Comunicação
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