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Entrevista com Ryan Fisher

Autor original: Viviane Gomes

Seção original: Uma entrevista semanal sobre temas relevantes para o Terceiro Setor

O inglês Ryan Fisher tem 26 anos e trabalha desde 2006 na agência Wieden + Kennedy. Por conta do trabalho de intercâmbio proposto pela TIE, Ryan está em Recife (PE) desenvolvendo uma campanha de divulgação do projeto 'Cozinha Solidária', do Grupo de Trabalho em Prevenção Posithivo [GTP+].

Rets - Como você conheceu a TIE - The International Exchange?

Ryan Fisher - A agência onde trabalho, Wieden+Kennedy, tem apoiado este projeto desde o começo. No ano passado, Penny Brough, uma profissional de atendimento, participou de um projeto com a TIE para a ONG Plan, em Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco. Foi através dela e do nosso diretor de planejamento na época, Stuart Smith, que eu ouvi falar do intercâmbio. Já naquele momento fiquei muito empolgado. Nem sempre temos a possibilidade de aplicar aquilo que sabemos fazer para ajudar uma comunidade que realmente precisa.

Rets - Por que você decidiu passar suas férias trabalhando?

Ryan Fisher - Claro que se trata de um grande comprometimento. Como W+K tem sido aberta para iniciativas desse tipo – em que seus profissionais podem dar uma força em assuntos que envolvem mudanças benéficas de comportamento, por exemplo – resolvi enfrentar o desafio.

Tirei apenas dez dias de minhas férias e ganhei o restante do mês para continuar em Recife trabalhando para o GTP+.
Não foi uma decisão difícil sacrificar dez dias de férias. O que a TIE faz é permitir que você tenha uma experiência superior a qualquer outras férias. É raro podermos tirar um mês fora de nosso trabalho para nos envolvermos profundamente numa nova cultura. Nenhum turismo me proporcionaria viver numa área como Brasília Teimosa, na periferia de Recife, e trabalhar com pessoas numa organização que nos dá um banho de cultura.

Rets - Você pode nos contar um pouco sobre o projeto no qual está trabalhando?

Ryan Fisher - Estou desenvolvendo um projeto para a ONG GTP+. Há sete anos, eles iniciaram um projeto chamado Cozinha Solidária. Seu objetivo era fazer com que a ONG pudesse oferecer almoço gratuito para pessoas em situação de vulnerabilidade e vivendo com HIV/Aids. A cozinha também é aberta ao publico, então também é uma fonte de recursos para a organização.

Até agora, nenhuma ação de comunicação foi realizada para promover a ‘Cozinha’. Então, estamos tentando aumentar o conhecimento sobre o projeto na região para que consigamos aumentar o número de clientes pagantes. Se a cozinha começar a dar lucro isso poderá ter mais impacto sobre as pessoas atendidas pelo GTP+.

Uma coisa importante que a Cozinha faz é empregar pessoas que vivem com o HIV. Dar-lhes trabalho, independência e oportunidade para recuperar sua auto-estima depois de serem diagnosticadas com o HIV é realmente uma coisa importante. E a Cozinha é perfeita para esse tipo de estratégia.

Rets - Você já tem uma idéia sobre os aspectos do projeto que você deseja destacar na campanha?

Ryan Fisher - Um ponto-chave é aumentar a visibilidade do que é feito na Cozinha Solidária. Promovendo a Cozinha e fazendo com que as pessoas conheçam o projeto, esperamos que ele cresça e possa se tornar uma fonte sustentável de recursos para o GTP+. Se a ONG tem uma fonte de recursos freqüente e estável, poderá estar numa melhor posição para aumentar o número de projetos e atender a mais pessoas vivendo com o HIV/Aids. Sustentabilidade é realmente importante para uma ONG e estamos fazendo tudo para que a Cozinha seja uma fonte de recursos no futuro.

Rets - O que mais chamou sua atenção no trabalho que a ONG GTP+ desenvolve?

Ryan Fisher - Sempre me interessei pelo trabalho de ONGs que trabalham com a questão do HIV/Aids. O que eu achei realmente interessante no GTP+ foi a maneira com que eles funcionam e as questões que abordam.

Eles são muito diferentes das organizações que conheço. O grupo é composto de pessoas que vivem com o HIV/Aids, então as estratégias de abordagem que eles utilizam são diferentes. Quando você visita o GTP+, você é invadido por um imenso senso de familiaridade, sinceridade e otimismo. O ambiente é bem ‘pra cima’, bem feliz. Desde o grupo de teatro até a Cozinha Solidária, todos os projetos do GTP+ têm o potencial de fazer uma enorme diferença - para que pessoas que vivem com o HIV/Aids possam retomar suas vidas com uma atitude mais positiva.

Rets - O que você espera dessa experiência?

Ryan Fisher - Antes de vir ao Brasil eu peguei um papel e escrevi uma lista de objetivos que eu gostaria de atingir com essa experiência. Havia coisas como liderança, técnicas de comunicação, desenvolvimento estratégico, intercâmbio cultural e fazer o bem. Acho que o que eu já tirei dessa experiência superou todas essas expectativas. Muito disso vem do fato de estar imerso numa cultura diferente por um período curto e bem movimentado. Muito também vem do fato de que as necessidades de comunicação das ONGs no Brasil são bem diferentes das demandas de qualquer cliente que eu já tenha atendido.

Existem, claro, algumas frustrações. A maior de todas é a barreira da língua. Como meu português é precário, é muito difícil, às vezes, dividir meu ponto de vista sobre alguma coisa. Por outro lado, aprendi bastante sobre a importância da linguagem e sobre como isso, às vezes, não é levado em conta pelas pessoas. Só que quando você quer expressar suas emoções ou comentar sobre algo subjetivo, você percebe o quão importante podem ser os fatores emocionais da linguagem e como eles podem afetar nossa comunicação e nossos relacionamentos. Enfim, estou me deparando com coisas que eu nunca imaginei que pudessem fazer alguma diferença, mas que agora têm um grande impacto sobre como eu vejo a comunicação e como eu vejo o mundo.

Viviane Gomes

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