Autor original: Viviane Gomes
Seção original: Uma entrevista semanal sobre temas relevantes para o Terceiro Setor
No Brasil, a obesidade é um tema que preocupa cada vez mais pesquisadores, instituições públicas e organizações sociais. Em março desse ano, o Ministério Público Federal [MPF] encaminhou às redes de 'fast food' Bob's, Burger King e Mc Donald's recomendação para suspender as promoções que associam brinquedos colecionáveis ao consumo dos alimentos vendidos nas lanchonetes. A medida foi resultado de uma representação do Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, encaminhada ao MPF em 2008. Apesar de apenas as duas empresas terem sido denunciadas na ocasião, o procurador de justiça Marcio Schusterchitz da Silva Araujo também incluiu as lojas da rede Mc Donald’s.
Em documento oficial, o MPF justificou a inclusão do Mc Donald’s – que vende os brinquedos separadamente – pela associação, mesmo que indireta, aos lanches, promovendo hábitos alimentares não saudáveis. Para a promotoria, os brinquedos inspirados em personagens infantis atraem crianças e acabam sendo a razão determinante para a compra dos alimentos com altas quantidades de açúcar, gorduras e sódio. A recomendação ainda ressalta que as crianças não têm pleno conhecimento do caráter persuasivo dessas promoções e que o fato de os brinquedos serem colecionáveis induz ao consumo excessivo.
Em fevereiro, o Ministério Público de São Paulo aceitou as representações abertas pelo Projeto Criança e Consumo e da PRO TESTE contra as empresas Kellogg e Nestlé, relativas à publicidade direcionada a crianças de até 12 anos de idade. As entidades destacam: direcionamento da publicidade para crianças, o que caracteriza uma ação abusiva e ilegal; oferta de brindes, promoções, utilização de personagens infantis; aquisição de brinquedos condicionada à compra dos produtos, numa prática de venda casada - ilegal de acordo o Código de Defesa do Consumidor.
As entidades também destacam o fato de as informações nutricionais das embalagens dos produtos serem baseadas numa dieta diária indicada para adultos. A nutricionista do Instituto Movere, Cibele Viviane Alcantarilla, explica que as informações nutricionais contidas nesses produtos atendem bem a uma pessoa que necessita de 2.000 calorias/energia por dia (valor regulamentado pela ANVISA) e isso realmente ocorre em todos os rótulos. Porém, a criança necessita de cerca 1.600 kcal/dia, valor que deve ser calculado de acordo com as necessidades e características individuais que variam com a idade, sexo, peso, estatura etc.
Cibele diz que as estratégias de publicidade e marketing acabam estimulando o consumo excessivo, o que pode contribuir para a obesidade infantil e possíveis problemas de saúde. "Basta ir ao supermercado e deparar-se com uma criança escolhendo produtos. Com certeza, os que possuem brindes acabam saindo em vantagem. Porém cabe aos responsáveis (adultos) decidirem quando e quanto a criança ou adolescente deve consumir", afirma. Ela ressalta, ainda, que se a criança ou o adolescente já possui hábitos alimentares saudáveis e equilibrados, estes produtos podem fazer parte da alimentação, desde que com bom senso e equilíbrio.
"O grande problema é que a maior parte das crianças e dos adolescentes não tem a mínima educação nutricional e entende que ao consumir esses produtos estão tendo uma alimentação saudável. Isso porque nos rótulos fica em destaque a adição de nutrientes como vitaminas, minerais e fibras, dando a impressão ilusória de uma alimentação saudável. O que está por trás dessas informações é que ali também estão aditivos alimentares e nutrientes que podem facilitar a obesidade", revela.
Cibele esclarece que nenhum alimento sozinho supre as necessidades diárias de nutrientes necessários ao ser humano porque em cada fase da vida é necessária certa combinação de alimentos diferentes, e em quantidades específicas, para se atingir os objetivos de desenvolvimento de um corpo saudável. "Daí a importância de orientar, esclarecer e informar o público em geral sobre a qualidade dos alimentos e a forma de consumi-los, evitando assim este grande problema de saúde pública que já enfrentamos: a obesidade."
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