Ação "Rio Negro, Nós Cuidamos", da Foirn, leva alimentos, produtos de limpeza, máscaras e muita informação às comunidades; meta é alcançar R$ 500 mil em doações
Mulheres indígenas simbolizam como ninguém o cuidar. Desde meninas, elas ajudam as mães na roça, no preparo do alimento e a tomar conta dos curumins menores. Também, aprendem sobre a floresta e as plantas que curam. Além disso, as indígenas são lideranças políticas, empreendedoras, acadêmicas, intelectuais e xamãs que levam a habilidade do cuidar para outras esferas da vida – além do espaço privado doméstico.
A “Campanha Rio Negro, Nós Cuidamos!” reflete essa qualidade e, em quase três meses de atividade, já recebeu contribuições de centenas de doadores -- muitos deles amigos dos povos indígenas do Rio Negro. A união de forças com as guerreiras representadas pelo Departamento de Mulheres Indígenas da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), juntou, até terça-feira (21/07), R$ 220 mil reais. A meta é chegar a R$ 500 mil para manter e expandir as ações ao longo de todo o período da pandemia.
“Não tenho palavras para agradecer. Porque, por meio de vocês, podemos chegar a várias etnias, povos e regiões. Podemos estar junto do povo Baniwa, Coripaco, Yanomami, Kubeo, Desano, Tariano, Tukano, Piratapuia, Wanano, Dâw, Hupd’ah e outros. Todos os 23 povos que temos aqui na região. Podemos estar junto com eles lutando contra esse vírus invisível”, afirmou Elizângela da Silva, a Eli, da etnia Baré e uma das coordenadoras do Departamento de Mulheres da Foirn.
Em vídeos para a campanha e pelo podcast Wayuri, da Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas, Elizângela falou sobre as ações tomadas desde a chegada da pandemia. A mobilização promovida pela campanha também foi destaque de reportagem especial do Fantástico que mostrou como São Gabriel da Cachoeira, município mais indígena do Brasil, está enfrentando a pandemia.
Além da parceria do Instituto Socioambiental (ISA), a iniciativa conta com o apoio logístico do projeto Asas da Emergência, do Greenpeace. A grife carioca FARM também se juntou à campanha com a doação de 10 mil máscaras de pano. Ao todo, 47 mil máscaras foram distribuídas, sendo a maioria produzida pelas próprias mulheres indígenas em São Gabriel da Cachoeira a partir da compra de máquinas de costura.
A campanha contribuiu inclusive com a compra de equipamento médico para as equipes de saúde indígena. Em um dos momentos de maior tensão, em maio, as equipes não possuíam oxímetros suficientes para ir a campo. O instrumento é essencial para medir a oxigenação no sangue e diagnóstico da gravidade do paciente de Covid-19. “Soubemos dessa demanda e, por termos recursos da campanha, pudemos proporcionar essa colaboração emergencial imediatamente”, lembrou o presidente da Foirn, Marivelton Barroso, do povo Baré. Foram comprados 12 oxímetros e doados às equipes da linha de frente.
“Consideramos que o pior já passou, mas ainda estamos em alerta e precisamos manter nossas atividades de prevenção, principalmente os trabalhos de comunicação”, ressaltou Elizângela. A iniciativa conta com o trabalho dos comunicadores indígenas da Rede Wayuri, que enviam informações em português e nas línguas indígenas via radiofonia, podcast, carro de som, rádio AM e FM, cartilhas informativas, banners e faixas.
A comunicação foi uma das frentes mais importantes desse trabalho, levando a Rede Wayuri a ser eleita um dos 30 herois globais da informação pela ONG Repórteres Sem Fronteiras, que defende a liberdade de imprensa ao redor do mundo, junto com jornalistas de veículos como New York Times. Conheça neste vídeo o trabalho da comunicadora Edneia Teles, da etnia Arapaso.
A campanha ainda pretende produzir 16 mil máscaras de pano e absorventes femininos reutilizáveis para serem distribuídos para as mulheres indígenas. Além disso, a ação continuará a distribuir alimentos, ferramentas agrícolas, equipamentos de comunicação e kits de pesca. A Foirn, por meio do Comitê de Combate e Enfrentamento ao Covid-19 em São Gabriel da Cachoeira, vem se esforçando para apoiar as comunidades a permanecerem em suas casas, não circularem na cidade e evitarem ao máximo o fluxo aldeia-centro urbano.
“Sabemos que essa é uma luta longa. Precisamos ajudar nossas mulheres, nossas comunidades. Ainda precisamos levar alimentos, produzir mais máscaras, informar e defender os direitos dos nossos parentes. Perdemos quase 50 pessoas pra Covid-19 aqui na nossa região e não queremos ver mais mortes e sofrimento”, finalizou Elizângela.
Fonte: Instituto Socioambiental
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