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Contra o Retrocesso na Moderação de Conteúdo da Meta e os Ataques à Regulação Democrática do Espaço Digital

fonte: https://direitosnarede.org.br/2025/01/08/contra-o-retrocesso-na-moderacao-de-conteudo-da-meta-e-os-ataques-a-regulacao-democratica-do-espaco-digital/

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Nós, os signatários, manifestamos nosso mais veemente repúdio ao recente pronunciamento de Mark Zuckerberg, CEO da Meta, no qual ele anuncia medidas que representam um grave retrocesso na já problemática moderação de conteúdo nas plataformas Facebook, Instagram e Threads. Sob o pretexto de “restaurar a liberdade de expressão”, as propostas delineadas não apenas colocam em risco grupos vulnerabilizados que usam esses serviços, mas também enfraquecem anos de esforços globais para promover um espaço digital um pouco mais seguro, inclusivo e democrático.

Zuckerberg propõe substituir checadores de fatos por um sistema de “notas comunitárias” (seguindo o modelo problemático do X) e pretende reduzir drasticamente filtros de moderação, priorizando apenas violações “graves” (sobre terrorismo, exploração sexual infantil, drogas e fraudes). Ou seja, a empresa sinaliza que não terá mais ações de moderação de conteúdos contra desinformação, discurso de ódio e outras políticas de proteção a favor das pessoas mais vulnerabilizadas. O CEO da Meta explicitamente admite aceitar os riscos de que essas novas políticas possam filtrar menos conteúdos nocivos do que as anteriores.

Atualmente, já é notável ao redor do mundo serem falhas as Políticas de Moderação de conteúdo das redes da Meta, dando margem à práticas de violência de gênero, afetando a proteção de crianças e adolescentes, crescimento de grupos que propagam discurso de ódio e desinformação, além de outras violações de direitos humanos. As novas medidas propostas pioram a situação ao negligenciar os impactos reais dessas práticas de violência online, além de abrir caminho para a proliferação de conteúdos prejudiciais que desestabilizam sociedades e minam processos democráticos.

Outra mudança anunciada foi a adoção de uma abordagem caracterizada como “mais personalizada” para conteúdos políticos, ampliando a recomendação dessas mensagens. Em que pese a ausência de clareza sobre a medida, ela sinaliza a ampliação das “bolhas”, em detrimento do debate democrático aberto sobre temas de relevância pública. Estudos já mostraram como efeitos bolha potencializam a construção e reprodução de visões baseadas em desinformação, discurso de ódio e conteúdo prejudicial que limitam o debate democrático e a construção de sociedades mais justas.

O discurso da Meta se alinha com uma retórica preocupante que afronta iniciativas regulatórias legítimas e necessárias de governos e da sociedade civil em diversas partes do mundo, incluindo a América Latina, generalizando essas ações como “censura” ou “ataques a empresas estadunidenses”. Ao fazer isso, a Meta ataca de forma aberta os esforços soberanos e democráticos de nações em proteger suas populações contra os danos provocados pelas Big Techs. Com isso, prioriza, mais uma vez, os interesses estadunidenses e os lucros de sua corporação em detrimento da construção de ambientes digitais que prezam pela segurança de seus consumidores.

A proposta de “trabalhar com o presidente Trump para combater regulações ao redor do mundo” explicita uma posição alinhada a interesses que beneficiam as plataformas digitais por serem contrárias ao progresso regulatório que visa proteger direitos humanos fundamentais ao responsabilizá-las pelas externalidades negativas de seus modelos de negócios. Ou seja, ao contrário da proposta de “reduzir a tendência ao viés” (da moderação de conteúdo), essa política por si só é enviesada para uma ideologia contrária a direitos fundamentais. A Meta poderia promover a liberdade de expressão por meio de medidas de transparência e accountability, no entanto, opta por “simplificar” as medidas de moderação de conteúdo alinhado ao discurso propagado pelo recém-eleito governo de Trump.

O anúncio de Zuckerberg é emblemático de um problema estrutural: a concentração de poder nas mãos de corporações que atuam como árbitros do espaço público digital, enquanto ignoram as consequências de suas decisões para bilhões de usuários. Esse retrocesso não pode ser visto como um mero ajuste de políticas corporativas, mas como um ataque frontal desse monopólio de plataformas digitais às conquistas de uma internet mais segura e democrática.

Reafirmamos que a liberdade de expressão não pode ser usada como escudo para legitimar práticas que promovam violência, desigualdade e desinformação. O recente pronunciamento do CEO da Meta demonstra como a autorregulação das grandes plataformas digitais tem se mostrado insuficiente, sujeitando a adoção, atualização ou suspensão de qualquer política ao arbítrio unilateral das empresas. Cabe aos Estados e à sociedade civil fortalecer mecanismos regulatórios públicos e sociais que coloquem as pessoas e os direitos humanos acima dos lucros.

Exigimos que as plataformas lideradas por Mark Zuckerberg revejam essas medidas e assumam sua responsabilidade no combate ao discurso de ódio, à desinformação e à exploração online. Também conclamamos governos e organizações ao redor do mundo a intensificar os esforços para criar um arcabouço regulatório global que proteja os direitos digitais e garanta que o espaço digital seja um ambiente seguro, justo e democrático para todos.

Este é um momento crucial. O futuro do espaço digital depende de nossa capacidade coletiva de resistir a retrocessos e avançar em direção a uma governança digital centrada nas pessoas e no planeta.

ORGANIZAÇÕES SIGNATÁRIAS:

[lista atualizada em 09-01-2025]

1. ABJD – Associação Brasileira de Juristas Pela Democracia 
2. Abong – Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais 
3. Ação Educativa – Assessoria, Pesquisa e Informação 
4. ADUR/RJ – Associação Docente da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro 
5. AGC Consultoria 
6. Aláfia Lab 
7. AMARU – OBSERVATÓRIO LATINO AMERICANO DE COMUNICAÇÃO, MÍDIAS E DIREITOS HUMANOS/ DECOM/UFRN. 
8. AMC – Associação Mulheres na Comunicação 
9. ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais 
10. ANDI – Comunicação e Direitos 
11. Andréa Stuart Dias 
12. Aqualtune Lab 
13. Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo (ABej) 
14. Associação Brasileira de Imprensa (ABI) 
15. Associação Brasileira de Medicina Personalizada e de Precisão/Brazilian Personalized and Precision Medicine Association 
16. Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação 
17. Associação Brasileira de Rádios Comunitárias – Abraço Brasil 
18. Associação Cultural Alquimídia 
19. Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE) 
20. Associação Namazonia 
21. Barracon Digital 
22. Bloco Não é Não – Goiânia, Goiás/Brasil 
23. Brasil de Fato RS 
24. Business and Human Rights Resource Centre 
25. Casa Socialista 
26. Cátedra Sustentabilidade – Universidade Federal de São Paulo 
27. CC/DC – Centro de Comunicação, Democracia e Cidadania da Universidade Federal da Bahia 
28. CENARAB – Centro Nacional de Africanidade Resistência Afro Brasileiro 
29. Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé 
30. Centro de Estudos de Segurança e Cidadania – CESeC 
31. Centro de estudos e pesquisas em ciências do comportamento 
32. CEPAD – Centro de Estudos e Pesquisa em Análise do Discurso – UFBA 
33. Ciranda Comunicação / Associação Internacional de Comunicação Compartilhada (Compas) 
34. Coalición por el Fortalecimiento de la Libertad de Expresión Chile 
35. Coding Rights 
36. Colégio Multi 
37. Coletivo Afro Acadêmico 
38. Coletivo Digital 
39. Coletivo População Negra e Saúde Digital 
40. Coletivo Soylocoporti 
41. Compolítica – Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política 
42. Comunidade Batista do Caminho (CBC) 
43. Conjunta 
44. Cooperativa Sulá Batsú 
45. Cooperativa Tierra Común – México 
46. CRIAR Brasil 
47. CUT – Central Única dos Trabalhadores 
48. Data Privacy Brasil 
49. data_labe 
50. Digital Action 
51. Dimicuida 
52. DiraCom – Direito à Comunicação e Democracia 
53. Ebaplay Ind. e Com. Ltda 
54. ELA-IA (Estratégia Latino-Americana de Inteligência Artificial) 
55. Entrepalavras Produção de textos 
56. Escola de Educação Infantil Educar para o Futuro 
57. Estúdio RJ 
58. Fazer Educação 
59. Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ 
60. Federação Nacional dos Sociólogos -Brasil – FNS-B 
61. FNDC – Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação 
62. FNDC – Roraima 
63. Fórum de Entidades do Campo 
64. Fórum para Tecnologia Estratégica dos BRICS+ 
65. Fundación Huaira – Equador 
66. Fundación Internet Bolivia.org 
67. Fundación Karisma 
68. Fundación Taiguey – República Dominicana 
69. Futurability – Consultoria, Educação Executiva e Pesquisa 59. Garotas do Motion® 
70. GEPEADS/UFRRJ – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental, Diversidade e Sustentabilidade 
71. Grupo de Pesquisa DESCOM – Insurgências Decoloniais, Comunicação, Artes e Humanidades 
72. Grupo de pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias – GEC/FACED/UFBA 
73. Grupo de Pesquisa em Jornalismo, Direito e Liberdade (USP) 
74. Grupo de pesquisa Mídia-Educação e Comunicação Educacional (COMUNIC) – UFSC 
75. Hiperderecho 
76. Hzen do Brasil 
77. IBIDem – Instituto Beta para a Internet & a Democracia 
78. Idec – Instituto de Defesa de Consumidores 
79. InfoCria 
80. Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial 
81. Iniciativa Educação Aberta – UnB 
82. Instituto Alana 
83. Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – Ibase 
84. Instituto Brasileiro de Políticas Digitais – Mutirão 
85. Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife – IP.rec 
86. Instituto de Referência em Internet e Sociedade – IRIS 
87. Instituto Democracia em Xeque 
88. Instituto NUPEF 
89. Instituto Panamericano de Derecho y Tecnología – IPANDETEC 
90. Instituto Physis – Cultura & Ambiente 
91. Instituto Telecom 
92. Instituto Teofilo centro clínico-terapêutico para o desenvolvimento humano 
93. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 
94. Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social 
95. Jararaca: Laboratório de Tecnopolíticas Urbanas – PUCPR 
96. Jubarte Comunica 
97. KOINONIA – Presença Ecumênica e Serviço 
98. Laboratório de Cultura Digital – UFPR 
99. Laboratório de Políticas de Comunicação – UnB 
100. Laboratório de Políticas Públicas e Internet – LAPIN 
101. Laboratório do Futuro – UFC 
102. Lavits – Rede Latino-americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade 
103. MM&OE EDITORA 
104. Motriz Sociocultural 
105. Movimento Desconecta 
106. Movimento FeliciLab 
107. Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH Brasil 
108. Movimento Negro Unificado (MNU) 
109. Núcleo de Comunicação e Educação da USP 
110. Núcleo de Jornalismo e Audiovisual (NJA) 
111. Núcleo de Pesquisa em Didática da História e Interculturalidade Crítica (NUPEDHIC) – Brasil 
112. Núcleo Digital – Tecnologias Democráticas 
113. Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa, Ensino e Extensão em Direitos Humanos – UFG 
114. OBSERVACOM (Observatorio Latinoamericano de Regulación, Medios y Convergencia) 
115. ONG Amaranta 
116. Open Knowledge Brasil 
117. Partido dos Trabalhadores de Anchieta – SC 
118. Peditaria Integral 
119. Plataforma Conjunta 
120. ProgMaria 
121. Rede de Pesquisa Currículo e Tecnologia- REPERCUTE/UFSC 
122. Rede Inovação e Território 
123. Rede Latinoamericana de Investigadores en Comunicación Organizacinal – RedLAco 
124. Rede Nacional de Combate à Desinformação – RNCD Brasil 
125. ReLAEE – Rede Latino Americana Espaço e Economia 
126. Repórteres Sem Fronteiras (RSF) 
127. Sindicato dos Sociólogos e Sociólogas do Estado do Rio de Janeiro 
128. Sindicato dos Trabalhadores rurais agricultores (as) familiares de Barreiras 
129. Sleeping Giants Brasil 
130. TechMOV (Coletivo de Tecnologia ligado ao Movimento Internacional de Juventudes) 
131. TEDIC 
132. Teia de Criadores 
133. The Tor Project 
134. Universidade Federal de Santa Maria 
135. Universidade Federal do Pará – o Programa de Pós-Graduação em Currículo e Gestão da Escola Básica (PPEB) e Programa de Pós-graduação em Educação e Cultura (PPGEDUC) 
136. Usuarios Digitales 
137. Vale Verdejante 
138. Vórtice Estúdio 
139. Wiki Movimento Brasil

 

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