Juliana tinha 11 anos quando levou a primeira cantada na rua, a caminho da padaria. Paola ouvia todo dia as colegas de balé criticarem o próprio corpo. Lola ainda era criança quando conheceu a revista feminista “Ms”. Anos mais tarde, decidiu: “Vou começar meu próprio blog”.Agora Juliana, Paola e Lola, mas também Aline, Bia, Zaíra, Hailey e muitas outras que se reconhecem como feministas movimentam a blogosfera, de cidades como São Paulo, Curitiba e Fortaleza, para mostrar pelo que lutam as mulheres de hoje.A lista de cobranças ainda é longa. Estudiosos de relações de gênero falam em novos feminismos, em que pautas tradicionais incorporam novas exigências, como a de poder se vestir como quiser, sem ser assediada por isso.Contra o assédio nas ruas, a jornalista Juliana de Faria, 29, usa seu blog “Think Olga” para divulgar a campanha Chega de Fiu Fiu. A ideia, diz, é mostrar que o assédio é mais frequente e menos tolerável do que se imagina.Das 7.762 mulheres que participaram de uma enquete para a campanha, 83% disseram que não gostam de ouvir uma cantada, e 90% já trocaram de roupa antes de sair de casa por medo de assédio.“Se eu vejo que aconteceu a mesma coisa com outras, é porque o problema está fora da gente. Tanto faz a roupa que a gente está usando ou onde estava”, diz Juliana.Para a socióloga Bárbara Castro, da Unicamp, a campanha é um exemplo de que as feministas lutam pelo que sempre lutaram, mas com um discurso mais complexo.A principal bandeira, diz a socióloga, é a igualdade de condições para que as mulheres possam fazer suas próprias escolhas, mesmo que seja se vestir para agradar o parceiro ou deixar o emprego para cuidar dos filhos.Para tentar reduzir essas desigualdades, Bia Cardoso, 32, coordena de Brasília o coletivo “Blogueiras Feministas”, com dezenas de colaboradoras em outras cidades.Elas cobram dos governos ações como a construção de creches e abrigos para vítimas de violência e se opõem a iniciativas como o Estatuto do Nascituro, projeto de lei que, na avaliação delas, poderá dificultar o aborto nos casos previstos em lei.Para Bia, a via política é a forma de levar o ativismo do mundo virtual para a vida real. “O que a gente pode fazer de concreto para as coisas mudarem? Cobrar o governo e o Legislativo”, diz.SeguidorasQuando a professora Lola Aronovich, 46, decidiu criar o “Escreva Lola Escreva”, em 2008, abriu caminho para muitas meninas que não conheciam o feminismo. Hoje, com cerca de 250 mil visitas mensais, seu blog é um dos mais populares no meio.Uma de suas seguidoras é a escritora Aline Valek, 27, que ao lado da amiga arquiteta Gizelli Sousa, 30, criou o podcast “We Can Cast It”.Entre notícias sobre cultura pop, filmes e quadrinhos, elas tentam quebrar preconceitos. Defendem que o feminismo não é o oposto do machismo porque o que as mulheres querem é ser tratadas como iguais, e que não é preciso ser “feia e peluda” para ser uma autêntica feminista.Mas há as que criticam os padrões de beleza. É o caso da curitibana Paola Altheia, 26, do blog “Não Sou Exposição”, onde incentiva as leitoras a não se sentirem pressionadas para ter um corpo que agrade os homens.“Se você quer ir para a academia e está feliz assim, ótimo. O problema é que muitas mulheres estão infelizes.”BandeirasOutra cara dos feminismos de hoje, diz Bárbara Castro, é a mistura de bandeiras ou o que chama de interseccionalidade. Nesse caminho, surgiram blogs de feministas negras, transexuais e lésbicas.“As demandas são diferentes. Enquanto a mulher branca lutava para poder trabalhar, a negra já tinha que trabalhar para complementar a renda”, diz a jornalista Zaíra Pires, 26, uma das autoras do “Blogueiras Negras”.Há ainda a luta contra a solidão, diz. “A mulher negra é desejável sexualmente, mas na hora de ser uma parceira, o homem prefere a branca.”Em outra frente, as transexuais buscam desfazer estereótipos, como Hailey Kaas, 24, do blog “Transfeminismo”. “Se para ser mulher não preciso fazer maquiagem ou usar salto alto, as mulheres transexuais sofrem mais com esse estereótipo.”Fonte: Agência Patrícia Galvão
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