As candidaturas trans ganharam volume –nas eleições de 2012, a ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Transexuais e Travestis) listou 31 travestis e trans concorrendo no país, menos da metade das registradas neste ano.De acordo com a professora Luiza Coppieters (PSOL), candidata à Câmara de São Paulo, o aumento, significativo, se dá “porque a sociedade começou a discutir as questões dos transexuais”.“A gente começou a aparecer, e temos demandas bastante específicas”, diz ela. “Além disso, acho que há uma politização do movimento, não estamos mais lutando só pela garantia de direitos básicos, mas indo além.”O partido com maior número de transexuais na disputa é o PSOL, com 15 candidaturas espalhadas pelo país. Destas, duas fazem um feito inédito: pela primeira vez, mulheres trans disputam um cargo majoritário no país.Elas são a baiana Samara Braga, 33, e a paulista Thífany Félix, 46, que concorrem, respectivamente, às prefeituras de Alagoinhas (108 km de Salvador) e Caraguatatuba (178 km de São Paulo).De Salvador, Samara mora desde 2004 em Alagoinhas —cidade onde nasceu Jean Wyllys (PSOL), primeiro deputado federal assumidamente gay a defender a bandeira LGBT no Congresso Nacional.“Sou de uma família muito rígida, religiosa. Quando assumi minha identidade como mulher, eles deixaram de me dar apoio”, diz. Há dois anos, filiou-se ao partido do deputado, inspirada por sua atuação: “Cansei de observar passivamente as desigualdades e o desrespeito a minorias. Não podia ficar de braços cruzados”, afirma.Já Thífany Félix, de Caraguatatuba, tem um histórico anterior na causa LGBT. Participou de fóruns voltados para a população transexual, foi candidata a vereadora pelo PT em Ubatuba e a deputada estadual pelo PSB.A ideia de inspirar outras mulheres foi o que levou Thífany à disputa. “A maioria acha que trabalho para transexual é só beira de estrada, fazer programa. Quero mostrar que elas podem ser o que elas quiserem.”BandeirasCandidata a vereadora em Aracaju, Linda Brasil concorda, e afirma que a educação é a principal preocupação. Tanto ela, que é estudante de letras na UFS (Universidade Federal de Sergipe) como Luiza, que é formada em filosofia, fazem parte de uma minoria transexual que tem acesso ao ensino superior.“As escolas não acolhem a população trans, e as meninas acabam saindo e indo para a prostituição”, afirma a candidata. Segundo ela, é preciso promover campanhas de conscientização, “de apoio, para que essas meninas não pensem que a rua é sua única saída.”Questionada a respeito do programa Transcidadania, implantado na capital paulista durante a gestão Haddad, que dá bolsas para travestis e transexuais terminarem o ensino básico, Luiza afirmou se tratar de um “marco”, mas ainda insuficiente.“É fruto da luta política transexual, só que é feito sem muito estudo. Não há um censo da população trans para saber onde estão, é um chute”, diz. “Além disso, é preciso prever uma formação mais ampla, não só ensino técnico para essa população, e locais de acolhimento, já que muitas estão indo para a rua com a crise”, completa ela.Apesar das divergências partidárias –além do PSOL, há candidaturas trans em outros 25 partidos— parece ser ponto comum nas candidaturas a preocupação questões da saúde de transexuais.Entre as prioridades de Samara está a assistência no acesso a tratamentos hormonais, com o acompanhamento e atendimento humanizado. Mira-se no próprio exemplo. Sem apoio, fez todo o tratamento por conta própria, colocando em risco a saúde.“Muitas recorrem à automedicação e ao silicone industrial, e isso ajuda a expectativa de vida trans a ser de 35 anos, num país onde a média é acima de 70 anos”, afirma Linda.Entre as propostas de Thammy Miranda, de São Paulo —candidato criticado dentro do movimento LGBT por candidatar-se pelo PP, partido do “centrão”– a questão também aparece como prioridade, com a defesa da ampliação da área especializada em cirurgia de “transgenitalização” (transformação dos genitais) no Hospital das Clínicas.MaioriaO Estado de São Paulo concentra a maior parte das candidaturas transexuais na eleição de 2016, com ao menos 24 nomes dos 84 levantados pela Antra e pela Folha.Num segundo lugar distante, vem a Bahia, com oito candidatas. Em terceiro, Minas Gerais, com seis candidatas. Empatados em quarto, vêm Rio Grande do Sul e Paraná, com cinco candidaturas.Paraíba, Pará e Ceará tem quatro candidaturas cada, enquanto Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul, três. O levantamento não encontrou candidaturas trans no Espírito Santo e no Mato Grosso. Nos demais Estados, candidatam-se uma ou duas transexuais.A maioria feminina é notável. No Estado de São Paulo, das 24 candidaturas, há apenas dois homens: Thammy Miranda (PP) e Régis Vascon (PCdoB).“Os homens trans começaram a se organizar há menos tempo”, diz a professora Luiza. Para ela, a maioria também se explica por uma maior estigmatização das mulheres trans, que são mais facilmente reconhecidas como pessoas trans que os homens.“Isso acaba fazendo com que eles se ‘escondam’ mais, porque ser trans na nossa sociedade transfóbica é muito arriscado se expor como transexual.”Fonte: Agência Patrícia Galvão
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