Por Daniella Franco, 15-3-2017, RFIAlém de prejudicar a própria saúde, você sabia que ao consumir fast food, você pode também prejudicar o meio ambiente e contribuir para a destruição das florestas? Esse é o alerta feito pelas ONGs Mighty Earth e Rainforest Foundation da Noruega. Elas publicaram um relatório neste mês que mira na segunda maior cadeia de hambúrgueres do mundo, a Burger King.Segundo o documento, a Burger King vende 11 milhões de sanduíches por dia em seus 15 mil restaurantes pelo mundo. “Qual é o impacto ambiental para produzir toda essa carne? A empresa não fornece quase nenhuma informação sobre como sua carne é produzida ou se os produtos alimentícios utilizados em suas refeições são provenientes de cultivos ambientais socialmente responsáveis”, aponta o relatório.De acordo com a Mighty Earth e a Rainforest Foundation da Noruega, a Burger King, que pertence ao fundo de investimentos brasileiro 3G Capital, não adota nenhuma política efetiva para proteger os ecossistemas nativos onde os alimentos utilizados em seus sanduíches são produzidos, entre eles, o cerrado brasileiro, o chaco argentino, florestas de terras baixas bolivianas e a mata atlântica do Paraguai. Essas regiões estão sendo desmatadas por grandes empresas produtoras de soja, como as americanas Cargill e Bunge.Apenas no Brasil, as consequências desta exploração são extremamente graves. A pesquisa de campo realizada pelas duas ONGs que assinam o relatório apontou que, nos 29 municípios do cerrado em que atua, a Bunge desmatou mais de 567 mil hectares de 2011 a 2015. Neste mesmo período, nas 24 cidades do cerrado onde a Cargill trabalha, 130 mil hectares foram destruídos.A situação se tornou insustentável, denuncia a assessora de assuntos políticos da Rainforest Foundation da Noruega, Anne Grolund. “Na verdade, a metade do cerrado brasileiro já foi destruído e não podemos mais fechar os olhos para essa emergência ambiental”, diz.Burger King pode servir de exemploPor que mirar na Burger King? A diretora de campanha da Mighty Earth, Anahita Yousefi, lembra que uma campanha similar foi realizada há cerca de dez anos pelo Greenpeace, tendo como alvo principalmente o McDonald’s. Na época, as mesmas empresas que devastam atualmente o cerrado, atuavam na floresta amazônica e forneciam soja para a número 1 do fast food no mundo.Um importante trabalho do Greenpeace, o relatório "Eating up the Amazon" (Comendo a Amazônia), mobilizou entidades no mundo inteiro e resultou na Moratória da Soja, assinada em 2006, para limitar a exploração da região por empresas produtoras de soja. O acordo também resultou na formação do Grupo de Trabalho da Soja (GTS), ativo até hoje e que conta com a participação de várias ONGs e entidades da sociedade civil.O objetivo hoje é pressionar a Burger King para que, a exemplo do McDonald’s, ela também aceite utilizar alimentos produzidos de forma sustentável. “A McDonald’s tem sido uma líder no combate ao desmatamento, diferente da Burger King, que não tem nenhuma política sobre esta questão e também não se mostra aberta ao diálogo. Além disso, os donos da Burger King estão ligados a grandes empresas do setor agroalimentário.Focar neles é importante porque eles têm um grande potencial de mudança e, se aceitassem colaborar, teriam um impacto muito positivo contra a destruição dessas florestas na América do Sul”, salienta Anahita Yousefi.Ambientalistas se mobilizam pelo cerrado no BrasilEmbora não tenha participado da elaboração do relatório da Mighty Earth e da Rainforest Foundation da Noruega, a WWF Brasil desenvolve um importante trabalho para a proteção do cerrado. À RFI, o especialista em conservação da ONG, Frederico Soares Machado, contou que o Grupo de Trabalho da Soja inaugurou recentemente uma célula especial para tratar do desmatamento deste bioma pelos produtores de soja. “Os próximos capítulos deste diálogo vão nos indicar quais são as possibilidades de ação que teremos para implementar medidas concretas de combate a esse problema”, ressalta.A WWF Brasil calcula que 100 milhões de hectares do cerrado foram destruídos pelo agronegócio até hoje, trazendo graves consequências para o meio ambiente, como a emissão de 870 milhões de toneladas de gás carbônico, no período de 2003 a 2013. “Essa região, que tem uma área equivalente à ocupada pelo Reino Unido, França, Alemanha, Espanha e Itália, é onde nasce a maior parte dos mananciais que abastecem as bacias hídricas do Brasil. O cerrado ocupa hoje um quarto do território brasileiro e responde por um terço da biodiversidade do país. Embora pouco evocada, a relevância do cerrado para a natureza é absolutamente incontestável”, conclui o especialista em conservação.
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