Debruçando-se sobre a porção sudoeste do Pará, ao longo do eixo da rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163), a publicação Dono é quem desmata: conexões entre grilagem e desmatamento no sudoeste paraense, de Mauricio Torres, Daniela Fernandes Alarcon e o assessor do ISA Juan Doblas investiga as dinâmicas de desmatamento associadas à grilagem e o controle de unidades de conservação pelo crime organizado da madeira. Amparando-se em trabalhos de campo realizados entre 2004 e 2016, a obra analisa três regiões principais: a zona de influência da sede municipal de Novo Progresso, o distrito de Castelo de Sonhos, no município de Altamira, e a área da Gleba Leite, localizada em porções dos municípios de Altamira, Rurópolis e Trairão.A atuação de grileiros como Ezequiel Castanha e Antonio José Junqueira Vilela Filho – alvos, respectivamente, das operações Castanheira e Rios Voadores, da Polícia Federal (PF) – é caracterizada em detalhes pelos autores. Também são descritos os mecanismos empregados para compra de gado de áreas desmatadas ilegalmente por processadoras de carne, como a JBS, investigada nas operações Carne Fraca, da PF, e Carne Fria, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).O livro empresta seu título da fala de um grileiro de Novo Progresso, que buscava, assim, justificar seu “direito” às terras por ele desmatadas. “A máxima, além de sintetizar a articulação entre desflorestamento e grilagem de terras públicas na Amazônia, revela uma triste realidade: sim, quem derruba a floresta acaba dono. Apesar de emitir multas e embargos, o Estado não retoma essas terras e, comumente, beneficia o criminoso por meio de políticas públicas que permitem a legitimação da grilagem”, concluem os autores.
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