Organizações da sociedade civil e movimentos sociais têm um histórico significativo de ativismo em defesa dos mais diversos direitos no Brasil. Segundo estudo realizado pelo IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), em 2017 existiam no país mais de 820 mil ONGs, atuando por melhores condições na educação, na saúde, por liberdades individuais e igualdade no acesso a direitos, pelo acesso à informação e a liberdade de expressão, pela dignidade no trabalho, pelo direito das crianças e adolescentes, pelo respeito ao meio ambiente, entre tantas outras pautas.
O Brasil também é reconhecido internacionalmente por sua forte rede de voluntariado, que articula milhões de cidadãos e cidadãs que dedicam parte de seu tempo para construir uma sociedade mais justa, mais igualitária, na qual a população mais carente tenha acesso a direitos básicos fundamentais, muitas vezes não garantidos pelo Estado. Este trabalho também é reconhecido como ativismo.
A ação desses ativistas tem sido fundamental para a melhoria das condições de vida no país e para o avanço na conquista de direitos. Organizações e movimentos são atores estratégicos na contribuição para a formulação de políticas públicas, na elaboração de leis importantes para o país, na fiscalização do poder público do ponto de vista orçamentário, na cobrança pela execução de políticas e programas de governo. Uma sociedade civil vibrante, atuante e livre para denunciar abusos, celebrar conquistas e avançar em direitos é um dos pilares de sociedades democráticas em todo mundo.
Foi por meio do trabalho ativista de tantas entidades que o Brasil conquistou, por exemplo, leis como a do combate ao racismo e de enfrentamento à violência contra as mulheres; políticas públicas como o seguro desemprego e o financiamento estudantil; programas de combate ao desmatamento e de proteção dos animais; a Lei anti-fumo e a Lei da Ficha Limpa, que nasceu da iniciativa da sociedade civil para combater a corrupção nas mais diferentes esferas no país.
Neste contexto, a declaração do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) de que irá “botar um ponto final em todos os ativismos no Brasil” é de extrema gravidade. Ela é mais uma ameaça propagada por esta candidatura à nossa democracia. Bolsonaro afirmou seu desejo de acabar com a atuação das organizações da sociedade civil em seu pronunciamento oficial no dia 7 de outubro, veiculado pela Internet logo após a confirmação, pelo Tribunal Superior Eleitoral, de que o candidato disputará o segundo turno no próximo dia 28.
Além de uma afronta à Constituição Federal, que garante os direitos de associação e assembleia no Brasil, a declaração reforça uma postura de excluir a sociedade civil organizada dos debates públicos. Trata-se de uma ameaça inaceitável à nossa liberdade de atuação. Não será apenas a vida de milhões de cidadãos e cidadãs ativistas e o trabalho de 820 mil organizações que serão afetados. Será a própria democracia brasileira. E não há democracia sem defesa de direitos.
Mais do que nunca, o Brasil precisa de um governo aberto ao diálogo, que se proponha a conduzir a nação junto dos mais diferentes setores, respeitando a diversidade de opiniões e ideias sobre as propostas e rumos para o país.
Em breve, a população voltará às urnas para eleger quem será o Presidente da República nos próximos quatro anos. Que o desprezo pelos movimentos sociais e entidades da sociedade civil manifestado nessa declaração seja considerado por todos e todas na hora de decidir seu voto. Calar a sociedade civil, como anuncia Jair Bolsonaro, é prática recorrente em regimes autoritários. Não podemos aceitar que passe a ser no Brasil.
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O texto original contendo os nomes de cerca de três mil entidades e movimentos que aderiram a esta nota está em anexo em PDF.
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VERSIÓN EN ESPAÑOL
Nota de repudio a la declaración de Bolsonaro sobre activismo en Brasil
Organizaciones de la sociedad civil y movimientos sociales tienen un histórico significativo de activismo en defensa de los más diversos derechos en Brasil. Según estudio realizado por IPEA (Instituto de Pesquisas Económicas Aplicadas), en 2017 existían en el país más de 820 mil ONGs, actuando por mejores condiciones en la educación, salud, por libertades individuales e igualdad en el acceso a derechos, por el acceso a la información y la libertad de expresión, por dignidad en el trabajo, por el derecho de los niños, niñas y adolescentes, por el respeto al medio ambiente, entre tantas otras agendas.
Brasil también es reconocido internacionalmente por su fuerte red de voluntariado, que articula millones de ciudadanos y ciudadanas que dedican parte de su tiempo para construir una sociedad más justa, más igualitaria, en la que la población más pobre tenga acceso a derechos básicos fundamentales, muchas veces no garantizados por el Estado. Ese trabajo también es reconocido como activismo.
La acción de estos activistas viene siendo fundamental para la mejora de las condiciones de vida en el país y para el avanzo en la conquista de derechos. Organizaciones y movimientos son actores estratégicos en la contribución para la formulación de políticas públicas, la elaboración de leyes importantes para el país, la fiscalización del poder público del punto de vista presupuestario, el control de la ejecución de políticas públicas y programas de gobierno. Una sociedad civil dinámica, activa y libre para denunciar abusos, defender conquistas y avanzar en derechos es uno de los ejes fundamentales de las sociedades democráticas en todo el mundo.
Ha sido por medio del trabajo activista de tantas entidades que Brasil conquistó, por ejemplo, leyes como la del combate al racismo y de enfrentamiento a la violencia contra las mujeres; políticas públicas como el seguro desempleo y el financiamiento estudiantil; programas de combate a la deforestación y la protección de los animales; la ley antitabaco y la Ley de la Ficha Limpia, que surgió por iniciativa de la sociedad civil para el combate a la corrupción en las más diversas esferas del país.
En este contexto, la declaración del candidato a la Presidencia Jair Bolsonaro (PSL) de que “pondrá un punto final a todos los activismos en Brasil” es de extrema gravedad. Es una amenaza más a nuestra democracia propagada por esta candidatura. Bolsonaro afirmó su deseo de acabar con la actuación de las organizaciones de la sociedad civil en su pronunciamiento oficial del día 7 de octubre, vehiculado por internet justo después de la confirmación por el Tribunal Superior Electoral de que el candidato disputará la segunda vuelta el próximo día 28 de octubre.
Además de una afronta a la Constitución Federal, que garantiza los derechos de asociación y reunión en Brasil, la declaración refuerza una postura de excluir a la sociedad civil organizada de los debates públicos. Se trata de una amenaza inaceptable a nuestra libertad de actuación. No serán afectados solamente la vida de miles de ciudadanos y ciudadanas activistas y el trabajo de 820 mil organizaciones. Lo será la propia democracia brasileña. Y no hay democracia sin defensa de derechos.
Hoy más que nunca, Brasil necesita un gobierno abierto al diálogo, que se proponga a conducir a la nación junto a los más diversos sectores, respetando la diferencia de opiniones e ideas sobre las propuestas y rumbos para el país.
En breve, la población brasileña volverá a las urnas para elegir quien será el Presidente de la República en los próximos cuatro años. Que el desprecio por los movimientos sociales y entidades de la sociedad civil manifestado en esta declaración sea considerado por todos y todas a la hora de decidir su voto. Callar a la sociedad civil, como anuncia Jair Bolsonaro, es práctica recurrente en regímenes autoritarios. No podemos aceptar que pase a serlo en Brasil.
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