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Jovens que vivem nas ruas também escrevem versos de amor

Autor original: Paulo Henrique Lima

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets






Além disso, o conceito deturpado sobre os jovens tem influenciado nas definições e classificações das próprias instituições que os atendem.


A doutoranda em sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ), Aparecida Fonseca de Moraes, visitou oito instituições e entrevistou 36 jovens e 38 profissionais de entidades de assistência a crianças e adolescentes para realizar o estudo. A pesquisa tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj).


"Durante as entrevistas, os jovens falaram sobre suas vidas, seus projetos e fizeram confidências. O trabalho revelou casais de namorados, meninos que assumiram a paternidade, meninas que se tornaram mães por escolha própria, jovens que sonham em se casar, ter casa, filhos e meninas que pensam em trabalhar e morar sozinhas", diz Aparecida de Moraes.


O fato desses comportamentos não terem sido ressaltados pelos profissionais das instituições que trabalham com esses jovens chamou a atenção da pesquisadora:"Esses jovens são descritos pela opinião pública como tendo uma iniciação sexual prematura e violenta, experiências homossexuais, doenças sexualmente transmissíveis, facilidade para ingressar na prostituição, experiência em situações de abuso sexual ou mesmo estupro. A figura do menino é descrita como violenta e sugere que um dia também foi violentado. Já a menina aparece como uma mulher submetida e que engravida de forma inconseqüente", revela a socióloga.


Segundo a pesquisadora, isso mostra que mesmo as entidades de assistência passam uma imagem pública que parece distanciada da vivência dos jovens. Essas instituições, informadas por um discurso político que primeiro se preocupa em denunciar a degradação social e econômica dessas crianças e adolescentes, acabam homogeneizando e generalizando as suas vivências.


"É como se no universo deles não coubesse o prazer, a escolha, o desejo e o romantismo. Essa atitude acaba impedindo com que se perceba como essa parcela da sociedade vem se movimentando para reverter reais situações de vulnerabilidade social e sexual", completa Aparecida.


A pesquisadora vem apresentando suas impressões sobre a sexualidade de meninos e meninas em situação de risco para implantação de programas sobre violência sexual. Além disso, já começou a apresentar os primeiros resultados de sua pesquisa para as instituições que entrevistou e para organizações que trabalham com esses jovens. O estudo deverá estar totalmente concluído em fevereiro de 2.001.


















Dados estatísiticos:


















12,41% da população de rua é de jovens abaixo de 18 anos
100% desses jovens têm um lar, um endereço
Muito poucos dormem nas ruas
A maioria é do sexo masculino, de cor negra ou parda
Conforme vai aumentando o tempo em que permanecem nas ruas arrumam ocupações, em sua maioria, ligadas à venda de produtos e serviços

Fonte: Site da Andi e Publicação Drama Social, da Faperj


















Glossário da Andi


A Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) formulou um glossário para ajudar repórteres e outros profissionais a usar os conceitos sobre a infância e adolescência de maneira correta. Muitos desses conceitos foram modificados no decorrer dos dez anos da edição do Estatuto da Criança e do adolescente (ECA). Com relação aos "meninos e meninas de rua", por exemplo, o glossário aponta que esses jovens devem ser tratados como meninos e meninas em situação de rua, já que todos possuem um lar e são poucos os que dormem embaixo das marquises da cidade.

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