Autor original: Maurício Jun Handa
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
A organização de mulheres não é coisa tão recente, como se costumava pensar. No final do século passado, mulheres da elite cearense faziam parte da "Ave Liberta", uma organização que defendia a abolição da escravatura. Essa é apenas uma das histórias contadas na revista "Abrealas, o feminismo na virada do século XIX/XX", recentemente lançada pela ong Redeh. O principal objetivo da publicação é mostrar as verdadeiras raízes do feminismo brasileiro. A iniciativa faz parte do projeto "Mulher 500 anos por traz dos panos", lançado há três anos pela Redeh em parceria com a Arte sem Fronteiras.
A Abrealas reúne, em 56 páginas, histórias de grupos, iniciativas, conquistas e encontros que aconteceram ao longo do século e que marcaram a trajetória das mulheres brasileiras. Um exemplo é "O Feminista", uma publicação alagoana de 1902, que defendia o direito à educação e ao trabalho para as mulheres. A revista recupera ainda a vida de precursoras do feminismo no Brasil. "Mesmo que elas não se organizassem por uma causa feminista, consideramos válidas quaisquer formas de ação coletiva por parte das mulheres", explica Schuma Schumaher, coordenadora geral do projeto.
A idéia de realizar o "Mulher 500 anos" surgiu devido às comemorações dos 500 anos do Brasil. "Começamos a perceber que as pessoas estavam falando nos 500 anos sem se preocupar com trajetória das mulheres. Pensamos, então, que de alguma forma as mulheres poderiam se utilizar dessa onda de comemoração para dar visibilidade a sua própria história", conta Schuma.
Schuma diz ainda que a grande dificuldade em realizar a pesquisa foi o fato de quase não haver registro sobre as mulheres: "A história foi escrita pelos dominadores, homens brancos. Por isso, a história das mulheres está registrada de forma fragmentada e muitas vezes controversa. Nós queríamos manter a coerência e por isso tivemos muito trabalho". Mas, por outro lado, a Redeh contou com apoio de comunidades. Quando o projeto foi lançado, houve uma intensa divulgação, convocando a população a participar. "É interessante registrar que 40% do material que recebemos é fruto da contribuição de homens", lembra Schuma.
A Abrealas é distribuída entre grupos de mulheres e ongs feministas. Os interessados podem entrar em contato com a Redeh. Em outubro, essa organização lançará outro produto: um dicionário que conta em verbetes a história de 840 mulheres que ajudaram a construir o país e que foram excluídas da história oficial. Para a realização da pesquisa, a Redeh recebeu o apoio da Fundação Ford. "O trabalho dos pesquisadores foi um verdadeiro quebra-cabeça, juntando pequenos pedaços de livros e documentos", conta Schuma. Mas o dicionário não esgota a história que ainda precisa ser contada. Nele, continuarão faltando histórias de milhares de mulheres e, por isso, a Redeh já está pensando em elaborar uma segunda edição.
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