Autor original: Maurício Jun Handa
Seção original:
Liana John*
A migração generalizada das populações humanas para as cidades vem impondo desafios ambientais crescentes a legisladores, pesquisadores, ambientalistas e autoridades públicas. Há 20 anos atrás, quando se falava em ecologia urbana, era basicamente a poluição do ar e, no máximo, das águas de abastecimento que estava em questão. Hoje, a complexidade das preocupações ambientais urbanas cresce exponencialmente, no ritmo das metrópolis e megalópolis.
Impermeabilização de solos, edifícios doentes, emissão de gases do efeito estufa, produtos nocivos à camada de ozônio, intoxicação por inseticidas domésticos, contaminação por amianto, ilhas de calor são apenas algumas das expressões agora inseridas na rotina diária das grandes cidades. Em alguns casos - como o da impermeabilização dos solos - são problemas ambientais muito graves, com impactos diretos sobre a vida da população (enchentes). E, apesar de tudo, ainda têm pouca influência sobre a dinâmica econômica que leva às grandes aglomerações.
As cidades também têm sua influência - grande - sobre o consumo excessivo de recursos naturais. Segundo um estudo recém divulgado pelo WorldWatch Institute, "as cidades ocupam cerca de 2% da superfície terrestre, mas contribuem para o consumo de 76% da madeira industrializada e 60% da água doce". Só a cidade de Londres, na Inglaterra, diz o relatório, "requer uma área 58 vezes maior do que a que ocupa para obter alimentos e madeira para sustento de seus habitantes". Se o padrão dos londrinos fosse estendido ao resto das populações urbanas do mundo, seriam necessários três planetas Terra para sustentar a todos.
Em 1900, um décimo da população mundial vivia em cidades. Em 2006, dizem as projeções, pelo menos a metade viverá em zonas urbanas. Conforme o WorldWatch Institute, "mudanças em seis áreas - água, lixo, comida, energia, transporte e uso do solo - são necessárias para fazer cidades melhores para as pessoas e o planeta".
Algumas experiências concretas ensaiam tais mudanças. Curitiba, no Paraná, é um dos exemplos citados pela entidade norte-americana. Porque conseguiu criar um sistema eficiente de transporte coletivo urbano e conseguiu trocar parte do lixo reciclável por cestas básicas, compradas diretamente de produtores locais, no programa conhecido como Câmbio Verde. Através de 61 postos de troca, a prefeitura economiza com a coleta de lixo em bairros carentes afastados e retira, mensalmente, 300 toneladas de lixo de terrenos, áreas públicas e das margens dos rios. E ainda beneficia a população carente, com as cestas, e os produtores dos alimentos.
Outro exemplo é o da cidade de Chatanooga, no Tennessee, EUA, campeã norte-americana de reciclagem e redução de emissões de gases do efeito estufa, com seus ônibus elétricos. Em Chatanooga também se iniciou uma experiência inédita: grandes edifícios compartilham seu aquecimento através de túneis subterrâneos. Trinta túneis estão nos planos municipais, 10 dos quais já funcionam.
Dividir melhor o calor também foi um dos investimentos da cidade de Copenhagen, na Dinamarca, onde o vapor de água quente das termoelétricas - antes despejados nos rios - agora aquece 70% dos edifícios. A cidade reutiliza ainda as águas servidas de pias e chuveiros para regar jardins e pomares domésticos.
Para os interessados em detalhes de cada uma dessas experiências, existe um banco de dados, organizado pela Agência Ambiental Internacional para Governos Locais, ou ICLEI, com o objetivo de transferir boas idéias ambientais de uma cidade para outra. A agência instituiu em maio passado, inclusive, cinco prêmios para as melhores iniciativas, a ser outorgado no ano 2000 para o melhor governo municipal em termos de desenvolvimento sustentável, o melhor manejo de recursos terrestres, de recursos hídricos, a melhor proteção atmosférica e o melhor manejo de resíduos. O site da ICLEI tem os regulamentos em inglês, espanhol e francês.
Fonte: Agência Estado – http://www.agestado.com.br
*Liana John, 41 anos, é jornalista profissional desde 1977 e especializou-se em Ambiente, Ciência e Tecnologia a partir de 1983. Responde por esta área na Agência Estado há 11 anos.
A Rets não se responsabiliza pelos conceitos e opiniões emitidos nos artigos assinados. |
Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer