Autor original: Maurício Jun Handa
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
Como disse Sonia Corrêa, um dos pontos fortes do seminário do Observatório da Cidadania foi o debate que surgiu sobre a globalização. O tema começou a ser discutido na manhã do primeiro dia, quando se falava dos processos nacionais de implementação e monitoramento. "O Observatório se deu como mandato produzir nexos entre as arenas políticas globais e as arenas políticas nacionais e, nesse sentido, é fundamental analisar os desafios que a globalização coloca para a agenda das ongs brasileiras", explica Sonia.
Durante o evento, muitas foram as opiniões e questionamentos a respeito do tema. José Maria Gomez, do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, inaugurou a discussão falando da multilateralidade da globalização. "A globalização não se resume ao plano econômico, existem também as dimensões política e cultural", diz o professor. Na tarde do primeiro dia, Ricardo Henriques, da UFF e do Ipea, continuou o debate apontando a globalização e a desregulação financeira como as grandes causas da crise nomeada por ele como "o mal estar contemporâneo". Segundo Ricardo, a globalização, da maneira como se realiza, é incontornável do ponto de vista econômico.
"Mas ela não se desenvolve linearmente e, portanto, existe a possibilidade de realizar movimentos pendulares. A globalização permite uma identidade sofisticada. O problema é que um grande contingente da população brasileira não tem direito à essa identidade", diz Ricardo.
Frente a essa polêmica, as pessoas presentes no seminário levantaram inúmeras questões, alternativas e propostas. A necessidade de se criar uma agenda nacional foi um tema muito discutido. Aurélio Vianna, da Rede Brasil, considera que atuar na arena internacional sem uma agenda própria é suicídio político: "Não nos é permitido pensar certas coisas e realizar certas ações".
Sonia Corrêa defende que é preciso relativizar essa idéia. Segundo ela, em algumas esferas de atuação, há agendas que são construídas nacionalmente, tornam-se agendas globais e voltam ao plano nacional reforçando as dinâmicas políticas locais. "Na experiência do movimento de mulheres as agendas que hoje estão internacionalizadas foram criadas há muito tempo com base em consensos nacionais: há, portanto, um caminho de ida e um caminho de volta", garante. Mas, como quase todos os presentes, Sonia concorda que é preciso construir uma agenda nacional da sociedade civil que reflita a realidade do país. Uma agenda que será utilizada para pressão e intervenção no plano global. A tarefa de realizá-la será um desafio para o Observatório, as organizações e as redes parceiras.
No entanto, a realização dessa agenda pressupõe uma maior integração entre as redes, organizações e iniciativas diversas que existem em todo país. Muitos falaram da necessidade de fazer um mapeamento da ação social no Brasil a fim de criar uma ação mais articulada.
Nessa perspectiva, a fala de Luciano Wolf, da Fian (Food First Information and Action Network), ilustrou claramente os caminhos que devem ser tomados daqui pra frente. Destacando o campo dos direitos humanos como o grande lugar de atuação, Luciano ressaltou que "as portas da ONU e outros órgãos internacionais estão cada vez mais abertas, e que a sociedade civil organizada deve explorar mais a rotina dessas instituições".
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