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Parcerias entre ONGs: Equilibrando a Balança

Autor original: Graciela Baroni Selaimen

Seção original:

Vicky Brehm*


Parcerias entre ONGs do Hemisfério Sul e do Norte se tornaram um elemento fundamental do processo de desenvolvimento. Apesar da maioria das ONGs serem atraídas ao conceito de parcerias como uma expressão de solidariedade que vai além dos fluxos de ajuda financeira, a prática das parcerias é altamente complexa, diversa e altamente debatida. No centro do debate, encontra-se a contradição entre a suposta mutualidade e a igualdade do termo 'parceria' e o fato de que, na realidade, as parcerias formadas pelas ONGs do Hemisfério Norte e do Sul são geralmente desequilibradas, favorecendo as ONGS do Hemisfério Norte, dado o controle das mesmas sobre os recursos financeiros.


Este texto considera o conceito de parceria e explora o seu significado no contexto dos relacionamentos das ONGs. Ele aborda especialmente a natureza do desequilíbrio existente nos relacionamentos das ONGs e identifica maneiras práticas de reparar isto, fazendo uso da experiência da INTRAC no seu trabalho com ONGs de várias partes do mundo.


O termo 'parceria' quer dizer coisas diferentes para cada pessoa. No seu nível mais simples, a parceria pode significar o ato de trabalhar em colaboração íntima com uma outra organização para se alcançar uma meta comum. Uma definição mais formalizada de parceria entre ONGs utiliza a noção de uma parceria de negócios, com a aceitação de metas, obrigações e riscos compartilhados. No entanto, a noção de parceria nos círculos de desenvolvimento tornou-se menos clara por ter ficado mais na moda. As parcerias agora cobrem uma grande variedade de relacionamentos organizacionais entre diferentes atores, incluindo as agências oficiais, as ONGs e as empresas. Hoje em dia, o termo 'parceria' às vezes chega a ser usado para representar a cooperação na área de desenvolvimento. Na realidade, a parceria é uma forma determinada de relacionamento que vai além de uma colaboração vagamente definida ou de um acordo contratual entre duas organizações.


Devido a todas as parcerias - assim como todos os relacionamentos - serem diferentes e se desenvolverem em determinadas circunstâncias, não existe um modelo de parceria perfeita. Alguns dos principais elementos da parceria são: mutualidade, expectativas claramente definidas, direitos, responsabilidades e prestação de contas. Devido à confiança ser essencial, as parcerias só podem se desenvolver durante um período de tempo, onde há um sentimento de compromisso a longo prazo.


Então por que o ideal de se trabalhar em parceria está sendo tão evasivo? Assim como Rick James afirma no seu artigo 'Poder, Parceria e Fortalecimento Organizacional', muitas ONGs do Hemisfério Norte ficam envergonhadas em discutir abertamente o desequilíbrio de poder nas suas relações com os seus parceiros do Hemisfério Sul. Estes desequilíbrios podem abafar tais parcerias e fazer com que sejam puramente cerimoniais. Apesar das intenções geralmente serem boas, algumas evidências sugerem que muitas ONGs do Hemisfério Norte ainda têm dificuldade em renunciar ao controle e passar a tomar decisões de maneira compartilhada com os seus parceiros. Rick James discute que o primeiro passo para reparar os desequilíbrios de poder é reconhecer a existência dos mesmos. Reconhecer e entender os diferentes interesses e prioridades é importante para podermos administrar essas diferenças efetivamente.


Em um documento escrito recentemente por Alan Fowler, intitulado 'Parcerias:Negociando Relacionamentos'¹, o autor desenvolve ainda mais a noção de transferências relacionais de poder. Para se opor à noção de 'desempoderamento relacional', o autor argumenta que as transferências de poder em favor das ONGs do Hemisfério Sul precisam acontecer. Parceria diz respeito à qualidade dos relacionamentos e, portanto, nem todos os relacionamentos constituem uma parceria. Diferentes categorias de relacionamentos entre as ONGs do Hemisfério Sul e do Norte precisam ser identificadas e nomeadas para refletir o que realmente são. Além disso, os relacionamentos precisam ser negociados através de um diálogo aberto e da concordância de quais são as obrigações e os direitos mútuos. Uma vez mais, isto indica a importância de se ter esclarecimento e transparência ao definirmos os relacionamentos. Ele incentiva especialmente as ONGs do Hemisfério Sul a terem confiança própria, no sentido de serem seletivas ao escolherem os seus parceiros e basearem os seus critérios de seleção em valores organizacionais comuns, ao invés de apenas na disponibilidade de recursos.

(...)

Vicky Brehm


ONTRAC No. 15 - Maio de 2000 Boletim Informativo do Centro Internacional de Treinamento de ONGs e de Pesquisa (INTRAC)


Referências ¹ FOWLER, A. (2000) 'Parcerias: Negociando Relacionamentos, Um Recurso para Organizações Não-governamentais De Desenvolvimento', INTRAC, Oxford.







A Rets não se responsabiliza pelos conceitos e opiniões emitidos nos artigos assinados.





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