Armando o circo na educação para a cidadania

Autor original: Valentina Homem

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Usar o circo como metodologia de educação é transformar a arte de "andar na corda bamba" em algo mais do que viver perigosamente, correndo riscos. Foi pensando assim que integrantes do Cirque du Soleil canadense criaram o projeto Circo do Mundo. A iniciativa foi inspirada na experiência da organização carioca Se Essa Rua Fosse Minha, criada em 1993 com o objetivo de trazer à tona o debate sobre os meninos de rua. Hoje, o projeto que nasceu no Brasil está conquistando o mundo: países da África, Ásia e Europa já contam com entidades que utilizam o circo como um instrumento de educação, todos apoiados pelo Circo canadense.

No Brasil, a história está acontecendo de forma diferente. Já havia muitas entidades que faziam esse tipo de trabalho: Acess (MG), Arrircirco (PE), Escola Pernambucana de Circo (PE), Grupo Cultural Afro Reggae (RJ) e Se Essa Rua Fosse Minha (RJ). Algumas parcerias foram sendo criadas até que, em 1998, a entrada da Fase no grupo resultou na constituição do Circo do Mundo - Rede Brasil. "A Fase assumiu o papel de articuladora, para estimular uma maior integração entre os parceiros e assim criar uma estratégia coletiva", conta Cléia Silveira, assessora de projetos do Saap/ Fase.

A Rede tem o objetivo de reunir as idéias de pessoas e entidades envolvidas com o tema, além de promover e divulgar as artes circenses como um instrumento de educação. Todas as iniciativas monitoradas pela Rede são voltadas para jovens carentes, com o intuito de facilitar a sua inserção na sociedade, através de uma educação para a cidadania.

"Os projetos de profissionalização, de um modo geral, vêem os jovens com uma única necessidade: a da sobrevivência imediata. Não há uma preocupação com a formação de sujeitos críticos e conscientes, capazes de reverter os processos impostos a eles pela sociedade", explica Cléia.

Para Écio de Salles, coordenador de projetos especiais do Grupo Cultural Afro Reggae, o circo é uma ferramenta muito potente para o desenvolvimento de jovens com pouca expectativa de uma vida melhor.

"Num mundo em que a luta pela sobrevivência torna a vida burocrática, regrada por horários, contas a pagar, disputas por espaço na sociedade, a Arte representa o reino da criatividade, da liberdade, da felicidade", diz Écio.