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Internet no Brasil: o acesso para todos é possível?

Autor original: Flavia Mattar

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No momento em que o governo federal prepara um plano estratégico para a "sociedade da informação" no Brasil, sob a égide do Ministério da Ciência e Tecnologia, temos que destacar alguns assuntos de extrema relevância para todos os brasileiros, já que as novas tecnologias digitais de comunicação e informação (TDCIs), em particular a Internet, vieram para ficar e afetar toda a sociedade - como vieram o rádio, telefone e TV.


O texto disponível para download procura destacar alguns aspectos importantes para o debate das políticas a serem seguidas, tanto a nível de governos como de outros setores da sociedade:


A democratização do acesso às TDCIs, ou acesso universal, acesso equitativo, ou ainda a infoinclusão, é um problema fundamental a ser discutido amplamente, e não apenas no âmbito restrito de ministérios federais ou da academia. Essa democratização passa pela resolução de problemas de infraestrutura, capacitação, capilarização de serviços, participação na tomada de decisões e acesso amplo e igualitário aos conteúdos disponíveis ou que possam ser oferecidos via Internet.


Tal como todos os outros recursos brasileiros, a infraestrutura básica para a disseminação da Internet é restrita aos principais municípios e prioriza as camadas mais abastadas da sociedade, tendo como paradigma de utilização o acesso individual que reproduz nossa política de transportes. Tal como esta é feita para quem tem carro, nossas "autopistas da informação" são feitas para quem tem microcomputador, linha telefônica e dinheiro para pagar o acesso à Internet - ou seja, para os ricos.


Dos mais de cinco mil municípios brasileiros, menos de 300 (ou menos de 6%) conta com a infraestrutura mínima necessária para que possam ser instalados serviços locais de acesso à Internet. Os cerca de cinco milhões de usuários da Internet no Brasil são menos de 3% de nossa população. O Brasil é de longe o pior colocado em números per capita de usuários, computadores pessais, linhas telefônicas e servidores Internet (hosts) entre as nove maiores economias do mundo. Os circuitos que conectam os provedores de serviços à Internet estão entre os mais caros do mundo, inviabilizando o pequeno provedor de serviços em áreas menos ricas.


Não há no país nenhum plano em escala nacional para implantar mecanismos efetivos e abrangentes de democratização de acesso, como telecentros em áreas, cidades ou bairros de menos recursos, conexão maciça de escolas públicas, programas de treinamento básico, pesquisa em alternativas de conexão a baixo custo etc. Um amplo programa poderia ser realizado em menos de dois anos gastando menos de 0,2% do PIB, mas não há sequer estudos de viabilidade planejados para isso no programa oficial da "sociedade da informação" até agora proposto.


Não haverá nenhuma mudança efetiva dessa orientação que privilegia na prática os que já têm se a sociedade (ongs, sindicatos, associações, enfim, a sociedade civil) não se mobilizar para que tenhamos um projeto verdadeiramente nacional da "sociedade do conhecimento". Tal como nas outras formas de exclusão social, cultural, econômica e política, não podemos deixar de lado o problema grave da infoexclusão, que exacerbará ainda mais a apartação brasileira com a "brecha digital".


*Carlos A. Afonso é diretor de desenvolvimento da Rits.







A Rets não se responsabiliza pelos conceitos e opiniões emitidos nos artigos assinados.





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