Autor original: Graciela Baroni Selaimen
Seção original: Notícias exclusivas para a Rets
Miguel Fontes,diretor da John Snow, fala sobre Marketing Social. (foto: divulgação Gife) |
Aconteceu em Vitória, entre os dias 16 e 18 de outubro, o Congresso Nacional sobre Investimento Social Privado. Promovido pelo Gife - Grupo de Institutos, Fundações e Empresas - e pela Fundação Otacílio Coser, o evento reuniu mais de 350 participantes, em sua maioria profissionais ligados a institutos e fundações empresariais. Entre os participantes também estavam empresários, membros de ongs e representantes de órgãos públicos. Durante os três dias do evento, foram discutidos temas como "Mídia e investimento social privado", "Defesa e garantia dos direitos: a conquista da cidadania no Brasil", "Filantropia comunitária", "Voluntariado empresarial", "Ética, mercado e sociedade", entre outros.
As conferências de abertura (com Hélio Mattar, da Fundação Abrinq) e de encerramento, (com Ricardo Paes de Barros, do Ipea) abordaram aspectos conjunturais e estruturais da questão social, com estatísticas e dados que demonstram a importância do investimento social frente ao aumento da pobreza e da desigualdade social. Mattar apresentou dados que revelam um aumento de 2 pontos percentuais no número de pobres no Brasil entre 1998 e 1999 (33% para 35% da população). Segundo ele, de 94 a 98, as 200 pessoas mais ricas do mundo duplicaram a sua riqueza, somando juntas mais de um 1 trilhão de dólares. Com apenas 1% do rendimento anual dessas grandes fortunas, se poderia universalizar o ensino primário no planeta.
Ricardo Paes de Barros, por sua vez, apresentou estudos recentes do Ipea, muito divulgados pela mídia no último ano, que demonstram que o Brasil tem recursos para acabar ou reduzir drasticamente a pobreza, sem que necessariamente precise haver crescimento econômico. Se o Brasil crescesse durante 10 anos, ininterruptamente, a taxas de 5,5% ao ano e mantivesse a distribuição de renda atual, a redução da pobreza seria menor do que se implantasse mecanismos radicais de redistribuição da riqueza. Um deles, segundo Barros, poderia ser a taxação em 12% do montante da renda individual que excedesse a renda média nacional e o repasse desses recursos àqueles que estão situados abaixo da renda média, de forma proporcional. Quer dizer, taxando-se proporcionalmente os mais ricos e redistribuindo a renda para os mais pobres. Ricardo afirmou que "este é um país rico e nossa pobreza vem do fato de que não investimos em nosso povo. O que precisamos é muito mais de distribuição do que ampliação de renda".
Ainda na mesa de abertura do congresso, o presidente do Gife, Marcos Kisil, chamou a atenção para a co-responsabilidade das empresas, do governo e das organizações do terceiro setor nas questões sociais brasileiras. "Vemos que o trabalho em parceria dos três setores é um elemento estratégico da nação, em que somos co-responsáveis pelo desenvolvimento social", disse Kisil.
Aliás, parceria foi um conceito bastante debatido, em suas várias facetas. A idéia corrente no congresso é que parceria é palavra importante, mas que foi banalizada pelo uso indiscriminado, sendo portanto necessário contextualizá-la. No evento, trabalhou-se muito com a idéia de "colaboração" como um simples apoio, "parceria" como troca e "aliança" como a união de duas organizações em torno de princípios, objetivos e métodos comuns de forma mais duradoura. Dentro dessa perspectiva, Viviane Senna, do Instituto Ayrton Senna, destacou a importância das ações sociais empreendidas pela iniciativa privada serem planejadas dentro de um projeto maior de desenvolvimento social, em detrimento das ações isoladas. "Por que não atuar em conjunto? Ninguém vai perder a identidade. Pelo contrário. Eu acho errado pensar no 'meu projeto', na 'minha instituição'. A causa maior é o país", lembrou Viviane.
A proposta das redes também foi mencionada em várias sessões do evento. Além da apresentação de cases de rede (Rede Criança, de Vitória, e ValeCidadania, de Minas Gerais), a articulação das organizações em rede foi citada por muita gente como importante e merecedora de atenção (Viviane Senna, Sérgio Haddad, entre outros). Sérgio Haddad, da Abong, disse ainda ser esse um dos grandes fenômenos em curso no terceiro setor nos últimos cinco anos.
O presidente do Gife afirmou que o congresso teve tamanha repercussão e demanda, que é bastante provável que aconteça uma Segunda edição do evento, no ano que vem. "A princípio, a idéia era fazer um congresso a cada dois anos, mas o interesse das instituições foi tão grande e a repercussão tão positiva, que estamos pensando em repetí-lo no ano que vem".
* Colaboraram para esta matéria Cassio Martinho, da Rits e a assessoria de comunicação do Gife.
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