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Instituto Rio é pioneiro na implementação do modelo de Fundações comunitárias no Brasil

Autor original: Graciela Baroni Selaimen

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Fundos de investimento social, onde indivíduos e empresas podem depositar dinheiro, com a certeza de que ele será gerido e utilizado de maneira transparente, financiando, a longo prazo, projetos que visem a melhoria da qualidade de vida de comunidades específicas. Este é o principal diferencial das fundações comunitárias, um conceito novo de organização que está chegando ao Brasil. A primeira fundação comunitária do país está surgindo no Rio de Janeiro, com atividades especificamente voltadas para a Zona Oeste da cidade. Nasce com o objetivo de fazer uma ponte entre empresas e indivíduos que desejam investir na área social e as organizações comunitárias que precisam de apoio financeiro e capacitação técnica. Sendo uma organização captadora e repassadora de recursos, competências e conexões, o Instituto Rio tem como foco temático os problemas sociais que vulnerabilizam principalmente crianças, jovens e mulheres. Nesta entrevista exclusiva para a Rets, Cristina Gramling, coordenadora técnica da organização, fala sobre os primeiros passos do Instituto Rio.


Rets - Como surgiu a idéia de criar o Instituto Rio e fazê-lo no modelo de uma fundação comunitária?


Cristina Gramling - A idéia surgiu através de um diálogo crescente de troca entre algumas lideranças do terceiro setor da cidade do Rio de Janeiro e Peggy Dulany, fundadora do Instituto Synergos, uma organização que desde 1986 atua no sentido de promover a filantropia com estratégia de mudança social.


Peggy já morou no Rio de Janeiro, tem um carinho todo especial por esta cidade e partilhou com este grupo a experiência do Synergos no apoio e assessoria técnica a fundações comunitárias na África, Ásia e América Latina.


A idéia que motivou o grupo era a de criar uma organização captadora e repassadora de recursos técnicos e financeiros a projetos comunitários do Rio de Janeiro. Nossa experiência demonstrava a existência de uma diversidade de iniciativas de promoção social no âmbito local que, apesar dos bons resultados obtidos, não têm acesso a oportunidades de financiamento e capacitação técnico-gerencial. A opção pelo "modelo" de fundação comunitária foi o entendimento de que este é um mecanismo com capacidade de alavancar recursos locais, envolvendo e articulando atores, recursos e competências em prol da melhoria das comunidades.


Rets- Por que foi escolhido este modelo de instituição? Que diferencial vocês imaginam trazer para o cenário social brasileiro com este trabalho?


Cristina Gramling - O grande diferencial da estrutura de uma fundação comunitária é a constituição de um fundo permanente, fundo constituído através de investimentos por parte de empresários interessados em atuar na área social, doações e apoio de agências nacionais e internacionais de promoção do desenvolvimento social. Estes recursos são aplicados e os resultados destas aplicações financeiras são investidos em projetos sociais estratégicos para o desenvolvimento integrado da comunidade.


Temos discutido com alguns empresários da cidade do Rio de Janeiro, líderes de organizações não governamentais e organizações comunitárias e agências internacionais, como a Fundação Ford e a Fundação Avina, as perspectivas de trazer e redimensionar esta experiência das fundações comunitárias para o Brasil, levando em conta aspectos da realidade e cultura de nosso país. Acreditamos que o modelo de fundação comunitária representa:


- uma estratégia que irá garantir apoio financeiro a iniciativas locais identificando projetos de baixo custo, porém de enorme impacto para a melhoria de vida dos setores mais excluídos de nossa sociedade;
- um espaço de diálogo entre representantes do setor governamental, empresarial e das organizações comunitárias, promovendo alianças em função de necessidades e prioridades estabelecidas pela comunidade;
- uma estrutura ágil, transparente que, utilizando recursos modernos de comunicação, constitua-se como alternativa prática e eficiente para os empresários interessados em exercer sua responsabilidade social;
- uma estrutura que, através do fundo permanente, garanta sustentabilidade e patrimônio para a comunidade.


Rets - Que organizações estão participando da criação do Instituto Rio?


Cristina Gramling - O Instituto Rio foi idealizado por um grupo de pessoas da cidade do Rio de Janeiro e três organizações internacionais: Instituto Synergos, Fundação Avina e Fundação Ford. A Fundação Ford é uma das maiores fundações americanas, que outorga fundos na área social no mundo inteiro e tem reconhecido protagonismo em iniciativas de promoção social desenvolvidas no Brasil. O Instituto Synergos, fundado por Peggy Dulany em 1986, promove a filantropia como estratégia de mudança social. A Fundação Avina, fundada em 1995 pelo empresário suíço Stephan Schidheiny, atua em parceria com líderes empresariais e comunitários que desenvolvem projetos inovadores na América Latina.


Rets- Que passos já foram dados?


Cristina Gramling - Na primeira etapa, elaboramos o Plano de Desenvolvimento Organizacional do Instituto Rio, que define o desenho organizacional, jurídico, financeiro e programático da nova entidade. Este plano foi o resultado de uma série de ações envolvendo pesquisa sobre os problemas sociais da cidade do Rio de Janeiro, aquisição de novos conhecimentos sobre fundações comunitárias, encontros com representantes de diferentes setores da sociedade e o diálogo com empresários cariocas, tendo sempre como eixo de discussão a busca de um formato de "fundação comunitária" adequado à nossa realidade.


Na etapa atual, já com infra-estrutura instalada em sede provisória, mecanismos operacionais elaborados, estamos concluindo a constituição do Conselho Diretor e Registro Jurídico.


Rets - Vocês enfrentaram algum tipo de dificuldade ao institutir a primeira fundação comunitária no Brasil?


Cristina Gramling - Acho que são 3 as nossas maiores dificuldades: uma está relacionada à novidade do conceito de fundação comunitária no Brasil e, principalmente, à nossa reduzida experiência na administração e gerenciamento de fundos e patrimônios voltados para o desenvolvimento comunitário.


A segunda dificuldade refere-se ao pouco estímulo oferecido pelas leis tributárias para que as empresas invistam no social. Os incentivos fiscais ainda são tímidos na área social. Nos Estados Unidos, por exemplo, as fundações comunitárias se beneficiam com incentivos fiscais que, de forma significativa, estimulam as empresas a aplicar recursos financeiros na área social.


No dia 20 de outubro, em um evento promovido pelo Núcleo de Responsabilidade Social da Firjan, esta questão foi colocada de forma enfática por empresários cariocas. Este tema aponta a importância de se pensar a Reforma Tributária e que papel tem o terceiro setor no processo de combate à pobreza no Brasil.


Finalmente, considero como terceiro desafio a necessidade de sensibilização do setor empresarial brasileiro para a responsabilidade social. Acredito que temos avançado muito aqui no Brasil nesta área. O Congresso Nacional sobre Investimento Social Privado do Gife agora em outubro, as ações do Instituto Ethos, a constituição do Núcleo de Responsabilidade Social na Firjan envolvendo mais de 30 empresas, são fatos extremamente relevantes. Mas é preciso ainda muito mais no sentido de disseminar o conceito de responsabilidade social entre os empresários brasileiros e criar mecanismos que permitam a tradução destes conceitos em práticas concretas de apoio e envolvimento em iniciativas de promoção social.


Rets - O Conselho do Instituto já está formado? Quem está participando dele até agora?


Cristina Gramling - Já fazem parte do nosso Conselho: Margarida Ramos, Diretora de Relações Comunitárias das Organizações Globo; Miguel Darcy de Oliveira, Presidente do Instituto de Ação Cultural e Membro do Conselho do Comunidade Solidária; Wanda Engel Aduan, Secretária de Ação Social do Governo Federal; Rosiska Darcy de Oliveira, Presidente do Centro de Liderança da Mulher; Claudia Jurema Macedo, Gerente Executiva do Associação Projeto Roda Viva e José de Sousa e Silva, Diretor Presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio de Janeiro, Isabella Nunes, coordenadora do Núcleo de Reponsabilidade Social do Sistema Firjan, Elianne Brenner, Diretora Presidente da Dermatus Cosmética Médica e Candance Maria Albertal Lessa, Gerente de Programas do Instituto Synergos.


Rets - Quais são as principais necessidades para o sucesso da implementação do Instituto Rio neste momento?


Cristina Gramling - Uma dimensão importante do trabalho é o de aglutinar pessoas no Rio de Janeiro que querem crescer e aprender com estratégias de desenvolvimento social. Neste processo é fundamental o envolvimento de lideranças empresariais da cidade do Rio de Janeiro. A consolidação deste grupo de lideranças em nosso Conselho e o diálogo rico e crítico com as experiências de fundações comunitárias nos Estados Unidos e outras partes do mundo são fatores fundamentais nesta etapa.


Rets - Quais são os próximos passos nas atividades do Instituto?


Cristina Gramling - Estamos inseridos, através da Fundação Ford, Fundação Avina e Instituto Synergos, numa rede internacional de contatos e conexões nesta área das fundações comunitárias. Vamos trabalhar na divulgação de conceitos e práticas destas experiências, ampliar a discussão junto ao setor empresarial carioca, e, a partir do Conselho, fazer um planejamento estratégico da constituição do fundo patrimonial que irá viabilizar o apoio técnico e financeiro a projetos comunitários na cidade do Rio de Janeiro.

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