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Fé e cidadania

Autor original: Graciela Baroni Selaimen

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets

Uma das preocupações da antropóloga Regina Novaes no desenvolvimento do estudo sobre juventude e religião é perceber que repercussões a escolha espiritual traz em termos de sociabilidade, solidariedade e sentindo da vida. Segundo ela, uma coisa é certa: as religiões são locus de agregação social.


"A religião junta os indivíduos, cria laços entre eles e obrigações com o mundo circundante. Em minhas pesquisas tenho percebido uma maior predisposição para a participação social entre pessoas que escolhem suas religiões e delas participam. Nas favelas que tenho visitado, a religião produz formas de solidariedade local e produz lideranças religiosas que, muitas vezes, tornam-se lideranças civis locais. Na classe média, muitos "espiritualizados" se engajam em movimentos pela paz, contra a fome e etc", avalia.


O presidente da União das Sociedades Espíritas do Estado do Rio de Janeiro (Useerj), Gerson Monteiro, diz que desde os tempos mais remotos, as religiões promoviam o cuidado e a proteção dos mais fracos como comportamento ideal e correto para seus seguidores. "Essas práticas fazem parte dos quinhentos anos de história do Brasil, pois começaram com o advento da Santa Casa de Misericórdia de Olinda, em 1539. O espírita é um homem do mundo, portanto deve ser participativo, comunitário e solidário", acredita Gerson.


A Useerj coordena 500 instituições do Rio de Janeiro. A entidade foi criada em 1926 para divulgar a doutrina de Allan Kardec e para usar o espiritismo como um meio para práticas sociais. Entre as atividades desempenhadas por 10 mil voluntários, que atuam em entidades coordenadas pela instituição, estão a orientação sobre maternidade e higiene, cursos de pedreiro, cozinheira, costureira e cabeleireiro, distribuição de remédios, alimentos e roupas, creches, orfanatos e recreação com crianças.


"Quem tem religiosidade, fé e acredita em Deus, enxerga as coisas de outro jeito. Jesus falou que o que fizermos aos nossos irmãos, a ele estará sendo feito. Um trabalho de assistência com cunho religioso, realizado com fé, ilumina ainda mais a atividade voluntária", pensa a irmã Vera Nóbrega, diretora do Instituto São Vicente de Paulo, uma das entidades que integram a Associação São Vicente de Paulo, criada há trezentos anos na França e que reúne um total de 25 mil irmãs espalhadas por todo o mundo. Entre as atividades desenvolvidas pela associação estão doação de roupas, remédios, alimentos e encaminhamento a empregos; espaços criados para o oferecimento de refeições para pessoas carentes; escolas, asilos, hospitais e creches com pequena ou grande parte de suas vagas voltadas para os mais necessitados.


Ao invés de só mencionar nas salas de aula o fato de os negros terem sido escravos, a entidade Axé Ilê Obá, através de palestras, ajuda a disseminar uma outra história: a de que a civilização negra é a mais antiga do mundo, tendo 15 mil anos de tradição, e que os faraós, reis do Egito, eram negros. Contar um outro lado da história deste povo em escolas particulares e públicas foi uma das formas encontradas por Silvia Egydio, conhecida como Mãe Silvia de Oxalá, de aumentar a auto-estima das crianças afro-brasileiras e de evitar o preconceito das brancas.


Além das palestras, a entidade, de cunho religioso afro-brasileiro, desenvolve atividades sociais voltadas para crianças e idosos, como atendimento médico, odontológico, doação de roupas e, sempre que possível,de alimentos. São realizadas também oficinas de desenho, pintura, marcenaria, serralharia, dança afro, bandolim, violão e capoeira, entre outras. "As que fazem mais sucesso são as de bandolim e violão, com 250 alunos cada uma. A de capoeira atraiu 200 jovens. O nosso objetivo agora é uma orientação voltada para o marketing e a política, pois quero ver líderes negros atuando neste país", conclui Mãe Silvia.

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