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A vida sob um novo ângulo: projeto leva fotografia e cidadania a jovens da Febem de Tatuapé

Autor original: Graciela Baroni Selaimen

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Há um ano, os meninos da Febem de Tatuapé, São Paulo, estão aprendendo que a vida pode ser revelada por novos ângulos e lentes. O Projeto Senac de Fotografia e Cidadania surgiu com o objetivo de resgatar a auto-estima e a cidadania dos jovens da instituição através do aprendizado e da prática da fotografia. Para isso, o programa recebe o apoio do Instituto Brasileiro Pró-Desenvolvimento Social (Prodes), da Fuji Photo Film do Brasil, além da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, responsável pela Febem-SP, e é promovido pelo Centro de Educação Comunitária para o Trabalho do Senac-SP.


O projeto consiste em ensinar aos menores que estão na Febem a fotografar e permite que eles participem de todo o processo fotográfico, desenvolvendo o seu senso crítico e dando a eles a possibilidade de terem uma profissão quando sairem da Febem. O trabalho envolve a capacitação dos monitores da Febem como educadores de fotografia, a aprendizagem dos jovens, e uma última etapa prática, no laboratório fotográfico. Já foram formados 112 jovens. Da turma mais recente, composta por 11 menores, dois deles (que já estavam para deixar a instituição) saíram empregados.


Os ganhos profissionais não são apenas dos meninos. É o que garante o professor João Kulcsàr, responsável pelo programa. "Essa é uma oportunidade única. O monitor que se transforma em educador ganha mais respeito", constata Kulcsàr, após ter formado 80 monitores, sem esconder a dupla surpresa que teve durante a implantação do projeto:


-Uma coisa que me surpreendeu nos monitores é que eles têm uma visão muito aberta, pró-ativa, e integrada com relação ao jovem. E os menores que estão internos são interessados, espertíssimos, e carinhosos com os professores. Tudo o que for oportunidade eles agarram - diz o professor que também dá aula de fotografia no curso superior do Senac para alunos de classe média bem menos interessados, segundo ele.


Um dos exercícios que os alunos da Febem mais gostam é o do auto-retrato, conta Kulcsàr. "O jovem fotografa o que ele é, mostrando uma tatuagem ou uma parte do corpo, e o que ele quer ser. A gente trabalha com perspectiva, sonho, auto-afirmação", conta o professor, que já viu rebeliões acontecerem com a aula em curso.


O trabalho com imagem, segundo Kulcsàr, é a chave para os meninos que cumprem uma "medida sócio-educativa" aprenderem a ter um olhar crítico. "Às vezes, eu mostro uma foto que parece ser de uma mulher. Aí, eu digo para eles que não é uma mulher de verdade. Eles começam a ver que uma imagem engana e que eles têm que ser críticos", relata.


Não é só a imagem das fotos usadas durante as aulas que anda distorcida, de acordo com o professor. "A gente vê a imagem estereotipada que a mídia produz dos menores, e lá dentro vê a imagem que eles fazem deles próprios", compara, lembrando da oportunidade que eles têm de colocar legenda nas fotos que tiram.


A seleção de quem deve participar das aulas depende do critério da própria unidade. A cada mês, são selecionados 12 alunos para uma nova turma, e podem ser escolhidos os mais bem-comportados, ou mesmo os que estão mais agitados. Kulcsàr lembra que o próprio curso é usado para integrar o jovem com dificuldades. "No primeiro dia em que um fotografa o outro, aquele que vai bater a foto, às vezes, fica com medo de tirar foto de ´tal cara`. Aí a gente vai junto e ajuda", diz.


No final do curso, os menores ganham uma máquina fotográfica da Fuji, que pode ficar com eles, ou ser entregue à família em alguma das visitas periódicas. A empresa, que também fornece filmes para as aulas, ainda cedeu o material de revelação para a exposição que aconteceu no último dia 21 de setembro, quando foi inaugurado o laboratório. Mas o professor sabe que há o limite da própria empresa:


-Estamos buscando outras parcerias, para ampliar o projeto e encaixar esse jovem em empresas que queiram dar a eles uma chance - diz Kulcsàr, enquanto lembra que o projeto agora está sendo implantado na unidade de Itaquacetuba. Há a possibilidade de estender a inciativa para outras unidades, mas isso depende de apoio.


Como não podem sair da instituição nem durante as aulas, uma nova idéia que surge, mas ainda não foi viabilizada por questões burocráticas, é o projeto de estações de trabalho, que permitiria aos alunos iniciarem suas atividades como fotógrafos ainda enquanto estão internos, ao invés de terem de esperar por uma oportunidade apenas quando chegarem do lado de fora.

Para conhecer um pouco do trabalho dos meninos, clique aqui.


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