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Brasil se prepara para o debate em Haia

Autor original: Flavia Mattar

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets

O Brasil está se preparando para participar, entre 13 e 24 de novembro, de mais uma Conferência da Convenção do Clima. O sexto encontro será realizado em Haia, na Holanda. Uma comissão brasileira, que tem participado ativamente de discussões para a diminuição da emissão dos gases poluentes responsáveis pelo aquecimento global, defenderá no encontro a Floresta Amazônica e a necessidade das nações desenvolvidas, conhecidas como Anexo 1, diminuirem suas emissões.


Caso não cumpram essa determinação da Organização das Nações Unidas (ONU), conhecida como Protocolo de Quioto, os países mais poluidores deverão pagar uma multa para o financiamento de programas que reduzam o efeito estufa e estimulem o desenvolvimento sustentável dos países periféricos. Essa espécie de bônus, conhecido como Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, cuja sigla em inglês é CDM, é o ponto mais controvertido do Protocolo.


"Na verdade, o principal foco desta conferência será a confirmação do que foi acordado no Protocolo de Quioto. O documento determina que os países em desenvolvimento devem reduzir em média 5% de suas emissões de dióxido de carbono aos níveis de 1990. Isso não foi cumprido até o momento", explica o integrante da comissão brasileira que defenderá o país em Haia, Luiz Pinguelli Rosa, durante um seminário promovido pela Coordenação de Programas de Pós Graduação em Engenharia (Coppe).


As nações desenvolvidas são as principais responsáveis pelo aquecimento global, principalmente os Estados Unidos e o Canadá, visto que começaram as atividades industriais, lançando gases poluentes no meio ambiente, muito antes dos países em desenvolvimento. O efeito estufa tem um efeito cumulativo, já que demora 140 anos para se manisfestar.


Uma das propostas que os países desenvolvidos pretendem apresentar na conferência é a de que a Floresta Amazônia seja preservada de atividades como desmatamentos e queimadas para que eles possam continuar emitindo gases poluentes. "Trata-se de um proposta indecorosa. Nós somos contra os desmatamentos e queimadas da floresta, mas não concordamos com esse seqüestro que estão propondo", afirma Pinguelli.


Segundo o coordenador da Comissão de Mudanças Climáticas da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Carlos Nobre, é preciso ficar atento para o fato de que, a partir do momento em que for reduzida a pobreza, haverá um aumento da emissão de gases poluentes no Brasil, que está entre os dez maiores emissores. "Apesar de ocupar essa posição no ranking, o país emite pouco, perto dos primeiros da lista", explica.


O principal fator desencadeante do efeito estufa no Brasil é o uso da terra, ou seja, os desmatamentos e a atividade pecuária. "É difícil controlar os desmatamentos, uma vez que mais da metade deles são ilegais. Apesar disso, depois que foi feito um decreto proibindo as queimadas em períodos críticos, aparentemente houve uma diminuição. Com relação à pecuária, abrir áreas para essa atividade é uma das formas mais freqüentes de desmatar. Segundo estudiosos, a Amazônia não tem vocação para esta atividade, visto que é muito úmida e o pasto não se desenvolve com facilidade. O ideal seria direcioná-la apenas para áreas secas e já degradadas", avalia Carlos Nobre.


Um dos fatores que mais assusta os especialistas são os transportes, uma vez que trata-se da atividade que mais contribuiu, até o momento, para o aumento do efeito estufa devido à grande emissão do dióxido de carbono. Uma das alternativas para o problema seria o carro a álcool, que está com as suas vendas praticamente paradas. "Mas é importante lembrar que as emissões do carro a álcool equivalem a ¼ das emissões do carro a gasolina, o que significa que dez milhões de carbonos deixam de ir para a atmosfera devido a esse combustível alternativo", avalia o coordenador de Mudanças Globais do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) José Miguez.


Outro fator que ajudaria a evitar o problema dos transportes, segundo Fábio Feldman, coordenador executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, seriam os rodízios, como os realizados em São Paulo. "A mudanca do clima é o tema global mais universal de todos, pois as alterações em curso envolvem o estilo de vida das pessoas em todo o planeta" , conclui.

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