Autor original: Graciela Baroni Selaimen
Seção original: Artigos de opinião
Ignácio Ramonet*
Os organizadores do Fórum Econômico mundial que, a cada inverno, reúne uma boa parte da fina flor mundial da finança e das transnacionais (1), na estação suíça de Davos, não são sectários: eles tiveram sempre o cuidado de convidar para seus debates uma seleção de intelectuais, artistas e pesquisadores, até mesmo sindicalistas, bem como dirigentes políticos. A cada uma dessas duas categorias de participantes é designada uma função precisa: aos primeiros, cabe dar um aval, um pequeno suplemento humano e um verniz “cultural” e “social” a um encontro inteiramente voltado para a exaltação do lucro. A maioria dos outros, ministros ou presidentes, vem mostrar seu pedigree, curvar-se diante dos novos mestres do mundo.
Em 2001, Davos terá um concorrente muito mais representativo do planeta tal como ele é: o Fórum Social Mundial (FSM) que se reunirá nas mesmas datas (de 25 a 30 de janeiro), no hemisfério sul, em Porto Alegre, Brasil. Com efeito, trata-se de um público sensivelmente diferente: dirigentes sindicais, dirigentes de associações, fundações e organizações não-governamentais, representantes de redes de movimentos de cidadãos — culturais, ecológicos, feministas, de direitos humanos, etc. — de todos os continentes. Não apenas todos aqueles que estavam em Seattle ou poderiam ter estado, como também muitos outros: organizações de pequenas e médias empresas do Sul, destruídas pela “globalização”, igrejas. Políticos nacionais e locais. Entre dois e três mil participantes portadores das aspirações de suas respectivas sociedades.
O Fórum Social Mundial será um espaço de intercâmbios e de debates sobre as grandes escolhas econômicas, sociais, culturais, científicas, tecnológicas e políticas com as quais a humanidade está confrontada. Mas, diferentemente de Davos, elas serão abordadas numa perspectiva cívica -- isto é, do ponto de vista dos cidadãos e não do mercado financeiro (2). Os intelectuais e os criadores convidados não serão cartas marcadas, mas conferencistas de pleno direito. Os políticos poderão ver de perto o que está “se mexendo” num emergente contra-poder planetário. Quanto aos ministros e aos governantes que freqüentam Davos, eles terão a oportunidade, se assim o desejarem, de constatar que existem outros atores da vida pública internacional.
Por que Porto Alegre
Não é por acaso que o primeiro FSM se realize em Porto Alegre, capital do estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Desde as eleições de 1988, na cidade, e de 1998, no estado, a partir de 1999, foram postas em funcionamento formas de democracia participativa que são atentamente estudadas em numerosos países (3). São tais iniciativas que, modestamente, mostram que um outro mundo é verdadeiramente possível (4). O Fórum permitirá que conheçamos outros em escala nacional e internacional. Le Monde Diplomatique, que evidentemente estará em Porto Alegre, informará seus leitores. (Tradução de Maria Regina Pilla)
1. Ler Ignacio Ramonet, “Davos”, Le Monde diplomatique, março 1996. Ler também do jornalista americano Lewis Lapham, La montagne des vanités (Maisonneuve et Larose, Paris 2000), reportagem incisiva sobre os bastidores da sessão de 1998 do Fórum Econômico Mundial.
2. O FSM, que acontecerá todos os anos nas mesmas datas que Davos, está sob a responsabilidade de um comitê organizativo que reúne as grandes organizações associativas e sindicais brasileiras, sustentado por um comitê internacional de apoio. Contatos : www.forumsocialmundial.org.br; na França : attacint@attac.org
3. Ler o suplemento “Quand la ville est porteuse des espérances de citoyenneté”, Le Monde Diplomatique, maio 2000.
4. Ler Manières de voir nº 41, Un autre monde est possíble”, setembro-outubro 1998 e Manières de voir nº 52, “Penser le XXIe siècle”, julho-agosto 2000.
* Ignacio Ramonet é editor do Le Monde Diplomatique
A Rets não se responsabiliza pelos conceitos e opiniões emitidos nos artigos assinados. |
Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer