Autor original: Graciela Baroni Selaimen
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
Uma obra que relata o dia-a-dia da população de rua, ilustrada com frases de Gabriel, o Pensador e fotos da população que vive (habita e tira o seu sustento) nas ruas de Brasília e de outros grandes centros brasileiros, é o novo livro organizado por Marcel Bursztyn: "No meio da rua - nômades, excluídos e viradores" (Editora Garamond, 262 págs.). Com apresentação de Cristovam Buarque e prefácio de Carlos Lessa, em nove capítulos o coordenador de pós-graduação do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB apresenta com mais cinco pesquisadores da universidade um estudo aprofundado sobre uma classe de "novos pobres", que saem da pobreza para cair na miséria.
Elimar Pinheiro do Nascimento, Carlos Henrique Araújo, Sarah Escorel, Dijaci David de Oliveira e Tânia Ludmila Dias Tosta são os autores que apresentam o resultado de suas pesquisas. A constatação é que cerca de 1% da população de Brasília sobrevive dos restos de lixo dos outros 99%. Isso significa que há, proporcionalmente, mais gente vivendo na rua (e da rua) em Brasília do que no Rio ou em São Paulo. Para o organizador, existem diferentes categorias de moradores de rua. Os catadores de materiais recicláveis fazem parte da "elite", enquanto no outro extremo estão os "sem lixo".
- Não vai ter lixo suficiente, se todo mundo resolver catar - explica Bursztyn.
O que distingüe a capital federal dos demais centros é que, por ser uma cidade nova, a população residente nas ruas ainda tem uma estrutura familiar montada. No entanto, a quantidade de "excluídos" de Brasília também surpreende por se tratar de uma cidade totalmente planejada, "projetada para não ter pobreza". "O Brasil real se reproduz aqui, e aparece como se fosse uma vitrine, uma síntese do que acontece no país", diz o organizador.
Segundo Bursztyn, o Brasil é o país que mais recicla lata no mundo:
- Diferente dos EUA e do Japão, a gente recicla por miséria. Hoje temos uma população de 150 mil pessoas vivendo "de lata" no Brasil. As pessoas que estão na rua e ainda têm a cultura do trabalho vão ser apropriadas pela indústria, que se vale desses trabalhadores porque saem mais em conta. É uma perversidade, mas gera 150 mil empregos - considera o organizador, lembrando que, nessas condições, esses "catadores" chegam a receber três salários mínimos por mês, mais do que receberiam no mercado formal de trabalho.
Para o organizador, o que faltam são mecanismos para a reinserção destes indivíduos na sociedade de fato, o que é diferente de simplesmente reinserí-los por baixo, promovendo-os da miséria para a pobreza. "São pessoas fora do mundo oficial. O pobre, antes, era marginalizado, mas pertencia ao processo", analisa. Hoje, o que o Estado faz, segundo ele, é "ficar na rodoviária oferecendo dinheiro e uma passagem para o imigrante voltar para casa".
- Há dois anos atrás, foi promovido um movimento de desmigração aqui em Brasília, e 46 famílias foram mandadas para uma fazenda desapropriada na Bahia. Todas voltaram. Resolvemos perguntar "por que voltaram?", e eles responderam: "porque temos o hábito de comer todo dia" - conta o pesquisador.
Segundo Bursztyn, o terceiro setor tem um papel importante a desempenhar, no processo de reinclusão destes indivíduos. Para ele, cabe às organizações do terceiro setor "fustigar o poder público, não adianta só dar assistência direta". As organizações, de acordo com ele, cada vez mais têm o papel de parceiras nas decisões políticas.
Os interessados em adquirir a obra podem entrar em contato com a editora pelo telefone, no Rio de Janeiro, (21) 224-9088, ou ainda pelo correio eletrônico.
Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer