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Na onda da reciclagem

Autor original: Maria Eduarda Mattar

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor










Quem pensa que aquelas garrafas plásticas velhas de refrigerante só servem para guardar água na geladeira ou material de limpeza está muito enganado. O nome exato daquele tipo de embalagem é PET, um material não-biodegradável cuja reciclagem tem dado o que falar. Com a palavra, Alfredo Sirkis: "Reciclar este material é uma forma de gerar emprego, cuidar do meio ambiente, prevenir inundações e de promover a educação ambiental, tudo ao mesmo tempo". Sirkis é vice-presidente da Ondazul, ong que desde abril está presente em Vigário Geral, desenvolvendo o projeto Reciclagem e Cultura. A iniciativa é financiada pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente (ligado ao Ministério do Meio Ambiente) com o patrocínio da Petrobras, conta com a parceria da ong Uerê e da empresa de consultoria ambiental EcoPet.


O projeto começou a operar de fato em junho e será desenvolvido durante um ano. "Nesse período pretendemos formar 40 adolescentes, em turmas de oito aprendizes, com duração de dois meses cada uma", explica a coordenadora do projeto, Vanini Lanzillotti. A idéia é simples e abrange três objetivos simultâneos: conscientizar a comunidade para a importância ambiental da reciclagem; capacitar os moradores do lugar para um ofício - conferindo-lhes cidadania e emprego - e produzir peças inusitadas no processo. Resultado: hoje o projeto conta com seis catadores e treze artesãos, cujo trabalho transforma garrafas de plástico em poltronas, pufes e colchões. Isso mesmo, móveis.


A metodologia de construção artesanal dos móveis, através de encaixe, foi criada pelo Prof. Feijó da EcoPet. O processo de produção envolve quatro etapas: corte, acoplamento, agrupamento e estofamento. Segundo Vanini, no intervalo de uma hora, uma poltrona é construída por um grupo de quatro a oito pessoas. A fabriqueta onde funciona o programa foi batizada de Usina da Reciclagem e fica na antiga Casa da Paz, cedida pelo Uerê. No dia 1º de novembro, o local recebeu a visita do ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, que assistiu a toda a linha de montagem e pôde experimentar alguns dos produtos.


Eduardo Nascimento, da Ondazul, dá voz ao maior orgulho dos organizadores: "Hoje em dia não se vê uma só garrafa plástica nas ruas de Vigário Geral". Em pouco mais de três semanas após sua implantação o projeto recolheu mais de 30 mil garrafas. Nesse início, só os catadores do projeto colhiam as garrafas. Com o passar do tempo, toda a comunidade se integrou e, por conta própria, leva as peças para a Usina. Isso se deveu muito a uma permuta feita com os moradores: um determinado número de garrafas dava direito a um colchão, pufe ou poltrona. Assim, as pessoas equipavam suas casas, contribuíam para a limpeza das vias públicas e o projeto dava vazão aos móveis que, apesar do pouco tempo, já estavam se acumulando.


A conscientização ambiental nunca é deixada de lado, sendo realizados encontros mensais acerca do tema. Sob a batuta do coordenador de eventos do Reciclagem & Cultura, Flavio Lazaro, acontecem exibições de filmes, palestras, conversas, atividades de animação cultural e de educação ambiental. A intenção é desenvolver na comunidade uma nova postura frente ao tratamento do lixo e, consequentemente, melhoria da sua qualidade de vida.


Como o Reciclagem e Cultura só será tocado pela Ondazul durante o período de um ano (previamente estipulado), a entidade já está organizando as pessoas envolvidas para que, ao final desse período, o projeto tenha prosseguimento. "Nós estamos formando as bases para que a própria comunidade tome a frente e desenvolva o projeto. Pretendemos que uma cooperativa auto-sustentável seja formada", esclarece Vanini. E a coordenadora completa: "É justamente com a venda dos móveis no circuito comercial - o que ainda não é feito - que provavelmente será viável a auto-sustentabilidade da cooperativa".


Mas até lá a Ondazul ainda planeja melhorias: otimização do processo de produção, reduzindo o tempo de montagem das peças, para se chegar o mais perto possível de uma linha de montagem do tipo industrial; áreas alternativas, entrepostos para coleta e estoque de lixo reciclável, além da construção de outros objetos a partir do PET, como vassouras.


Outro ponto que está sendo estudado é o aperfeiçoamento estético, de acabamento e diversificação de design, área que está recebendo a colaboração da arquiteta Ana Borelli. Ana articulou a exposição dos móveis no Rio Design Center e no shopping Barra Point e já desenvolveu um "modelo de pufe que poderá atingir um mercado mais sofisticado", afirmam os organizadores. Como se vê, as possibilidades são inúmeras. Se depender da Ondazul, os resultados também.


O endereço da Usina de Reciclagem é Rua Antônio Mendes, 13, Parque Proletário de Vigário Geral. Mais informações podem ser obtidas no site da Ondazul, www.ondazul.org.br, ou pelo correio eletrônico ondazul@ondazul.org.br.


Contatos:
Ondazul ::
533-3619, www.ondazul.org.br, ondazul@ondazul.org.br.
Ecopet :: ecopet@bol.com.br
Projeto Uerê :: projeto-uere@infolink.com.br.

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