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Imprensa e organizações do terceiro setor: uma relação que deve priorizar a cidadania

Autor original: Maria Eduarda Mattar

Seção original: Novidades do Terceiro Setor

Nos dias 29 e 30 de novembro, o Senac-SP promoveu o “2º Fórum Brasileiro de Imprensa, Terceiro Setor e Cidadania Empresarial”, encontro que reuniu representantes de ongs e da mídia para que, juntos, pudessem discutir seus interesses, formas de atuação e a ampliação do diálogo.


As boas relações entre terceiro setor e imprensa trazem resultados valiosos para toda a sociedade. De um lado, o terceiro setor tem a oportunidade de divulgar suas atividades e, com o reconhecimento da sociedade, desempenhar de modo cada vez melhor o papel político-social a que se propõe. Segundo Ruy de Goes, do Greenpeace, “a opinião pública é a principal via de acesso para influenciar o poder público”. Do outro, a imprensa desempenha seu papel de maneira eficiente e se alimenta de conteúdo.


Um dos principais pontos debatidos e corroborado pela imensa maioria, foi a importância da figura do assessor de imprensa. Como definiu Wellington Nogueira, diretor dos Doutores da Alegria, “nas ongs, esse profissional não é um luxo, é um investimento essencial”. É o assessor quem vai planejar estrategicamente quando, como e o que divulgar para a grande imprensa. Assim, fortalecem-se as ongs - que têm seu trabalho reconhecido por uma parcela cada vez maior da população - e fortalece-se a imprensa brasileira, que passa a retratar mais fielmente as atividades de um setor que cresce a passos largos.


Ser fonte para a grande imprensa ainda é um desafio para as organizações do terceiro setor e implica em diversas formas de divulgar o trabalho desenvolvido. Segundo Cecília Beltrão, da Academia de Desenvolvimento Social, algumas ferramentas valiosas são as home-pages, as comunidades virtuais, boletins convencionais e eletrônicos, clipping do terceiro setor, banco de dados. Wellington adicionou à lista um item fundamental, ”trabalho constante e responsável”. Cecília afirmou ainda que “para ser fonte, cada indivíduo do grupo deve estar informado da mesma maneira”, lembrando, assim, a necessidade de coesão e bom gerenciamento da informação dentro das ongs.


As transformações dentro da própria estrutura dos veículos de comunicação também foram discutidas. Nessa perspectiva, a formação do jornalista especializado em terceiro setor é uma necessidade cada vez mais evidente: um profissional que conheça em profundidade a atuação e o papel destas organizações e possa estabelecer uma visão crítica a respeito das relações entre empresas, governo e sociedade civil organizada. Outra hipótese levantada durante evento foi a criação de editorias específicas para abordar os temas do terceiro setor.


Houve consenso entre os palestrantes quanto ao grande interesse do público pelas ações e propostas desenvolvidas pelas ongs. Luciana Garbin, repórter do jornal O Estado de São Paulo, afirmou que o espaço para o terceiro setor está aumentando nos jornais, na medida em que aumenta o número de iniciativas e a conscientização da população. Rosvita Sauressig, representante do Jornal Valor, completou esse pensamento com dados: segundo pesquisa do Valor, em parceria com o Instituto Ethos, “31 por cento dos consumidores brasileiros prestigiam ou punem as empresas de acordo com sua responsabilidade social”. Para ela, esse número mostra que o nível de conscientização da população brasileira cresce em relação à responsabilidade social e às ações das ongs - e a imprensa colabora para esta conscientização.


A editora da Rets, Graciela Selaimen, esteve presente para falar sobre como os portais da Internet estão abordando o terceiro setor e a cidadania empresarial, numa mesa da qual também participaram Alexandre Le Voci Sayad, do Aprendiz, e Flavio Mogadouro, do Senac-SP. Graciela chamou atenção para o fato de que tanto jornalismo on-line quanto terceiro setor são conceitos que ainda estão em construção. “Segundo pesquisa realizada pela Abong e pelo Ibope, menos de um terço da população brasileira sabe o que são ongs, ou já ouviu falar sobre elas. E jornalismo on-line nós estamos fazendo no dia-a-dia, na experimentação. Nesse campo, tudo é novo, e de um dia para o outro, surge uma tecnologia nova, que torna o inimaginável possível”, afirmou a editora.


Graciela defende que a Internet é um ótimo meio para ser usado pelo terceiro setor, por seu caráter democrático, mas que, acima de tudo, o acesso universal e democrático a este meio deve ser objeto de atenção e reflexão. "Esta também é uma questão fundamental a ser debatida extensamente pela mídia, pelas organizações do terceiro setor e por toda a sociedade. "Menos de 3% da população brasileira têm acesso individual à Internet. Os outros 97% podem vir a representar uma nova classe de excluídos, e isso traz graves consequências sociais, econômicas e políticas para o país, a médio prazo" afirmou.


Em março de 2001, o Senac estará distribuindo os anais deste Segundo Fórum, e, segundo a organização do evento, a intenção é realizar o Terceiro Fórum no ano que vem, reunindo, mais uma vez, formadores de opinião da mídia e das organizações do terceiro setor.

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