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Organizações do terceiro setor como agentes do protagonismo juvenil

Autor original: Flavia Mattar

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets

Três meninos de classe média se reuniram, em 1993, para desenvolver um trabalho social em Vigário Geral. Justamente quando tomaram essa decisão, ocorreu a chacina nesta comunidade. Assim, começaram a desenvolver atividades que recuperassem a auto-estima dos jovens que moravam na favela. O objetivo era desviá-los do narcotráfico e do subemprego e estimular o surgimento de lideranças juvenis dentro da comunidade. Assim surgiu o "Afro Reggae".


"O Afro Reggae sempre se preocupou em formar lideranças. Uma vez que é aumentada a auto-estima, que é estimulada a cidadania do jovem, ele se sente capaz de ser um líder. Existem jovens que participaram ativamente do trabalho do Afro Reggae e atualmente estão em postos de liderança. Um deles, Anderson Sá, morador de Vigário Geral, coordena o Centro Cultural da comunidade. Outro, Altair Martins, virou braço direito do coordenador-executivo do grupo", explica Écio de Salles, coordenador de projetos especiais da organização.


O Grupo Afro Reagge oferece oficinas de instrumentos musicais, capoeira, dança e futebol, entre outras. "Vigário tem uma ligação muito forte com a música. É isso que queremos aproveitar", diz Écio. Com a ajuda da instituição, foi criada a Banda Afro Reggae, que se profissionalizou e, em janeiro, estará lançando um CD. Outros conjuntos musicais, não profissionais, também surgiram graças ao Afro Reggae. Um exemplo é o Afro Lata, que reúne crianças e a grande novidade é um trabalho desenvolvido pela instituição na Cidade de Deus, chamado Banda Afro Reggae 2, que reúne adolescentes e idosos em um mesmo grupo musical. Além de estimular o contato com a música, a organização criou um programa chamado Trupe da Saúde, em que os jovens usam o teatro e o circo para passar informações sobre doenças sexualmente transmissíveis e aids, entre outras, na comunidade de Vigário Geral.


Mas o Afro Reggae não foi a primeira experiência, em se tratando de protagonismo juvenil. Alguns anos antes - em 1991 - integrantes de quatro ongs (Fase, Idac, Iser e Ibase) já haviam se reunido e criado a organização "Se Essa Rua Fosse Minha". A instituição trabalha com arte-educação, ensinando crianças e jovens que vivem nas ruas. Muitos dos que foram beneficiados pelo projeto estão atuando como multiplicadores, transmitindo aos mais novos o que tiveram a oportunidade de aprender.


"Nós temos exemplos de meninos e meninas que fizeram parte do Se Essa Rua Fosse Minha, e que hoje, adultos, estão fazendo a sua parte. Alguns voltaram para a comunidade da qual fazem parte e passam os conhecimentos que adquiriram, outros estão trabalhando nos Abrigos da Prefeitura. Temos um exemplo, de um jovem que fez parte da organização, chamado Rodrigo Porcino, que hoje em dia integra a trupe do ator Marcos Frota e dá aulas para jovens carentes", diz José Ventura Filho, arte-educador do Se Essa Rua Fosse Minha.


Segundo ele, a arte tem um poder de transformação muito grande. "A arte é uma linguagem lúdica, que atrai os jovens, que faz com que queiram participar. Além disso, é desafiadora, e o desafio é algo com que já estão acostumados. As crianças e adolescentes absorvem essa linguagem muito melhor do que se tivessem sido colocados diante de um quadro negro", avalia José.


O Se Essa Rua Fosse Minha atua em quatro fases. A primeira etapa é na rua, onde são oferecidas atividades lúdicas, como contadores de histórias, futebol e desenho. Em um segundo momento, os jovens interessados são encaminhados para o Centro de Formação e Informação da organização, localizado em Laranjeiras. Lá, os jovens entram em contato com oficinas de circo, teatro, informática, dança e capoeira. Os adolescentes e crianças já trabalhados nessas duas etapas são encaminhados à Casa Lar, localizada em Vila Isabel. É nessa fase que começam a entrar em contato com compromissos sociais e de cidadãos, ou seja, começam a trabalhar e estudar. Na última etapa existe um trabalho de resgate do convívio familiar, quando há todo um empenho para que o jovem retorne ao seu lar ou tenha autonomia para caminhar sozinho, dando o seu lugar para outra criança ou adolescente no projeto.


"Nós queremos que esses jovens sejam multiplicadores. Por isso temos um trabalho de monitoria que os ajuda a refletir sobre o social, a ter um melhor discernimento da realidade e da necessidade de atuar dentro da comunidade da qual fazem parte", conclui José.


Contatos:


Afro Reggae
http://www.afroreggae.com.br


Fase (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional)
http://www.fase.org.br


Iser (Instituto de Estudos da Religião)
http://www.iser.org.br


Idac (Instituto de Ação Social)
Tel: (021) 511-0142


Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sócio-Econômicas)
http://www.ibase.org.br

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