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TerrAmar estimula o olhar aguçado de jovens nordestinos

Autor original: Maria Eduarda Mattar

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Enquanto fazia uma matéria numa escola em Natal, Rio Grande do Norte, o jornalista Eugênio Parcelle viu crescer um desejo que já alimentava: o de realizar um trabalho voluntário na área de educação e formação de jovens. Foi a partir daí que o jornalista - que já havia recebido o título de Amigo da Criança pela Agência Nacional de Direitos da Criança (Andi) - criou no início de 2000 o Projeto "Redescobrindo o Brasil", assim como a Companhia TerrAmar, ong que atua com cultura, educação, comunicação e protagonismo juvenil. Hoje, a entidade conta com dois jornalistas, quatro educadores, uma pedagoga, uma historiadora, uma professora de educação física, uma arte-educadora e uma assitente social.


O projeto foi realizado em sete escolas potiguares: três particulares - CEI, COC Natal e Doméstica - e quatro públicas - Atheneu, União do Povo, Varela Barca e Floriano Cavalcanti. "Nós chegávamos nas escolas e dizíamos para as crianças: estamos trazendo pra vocês uma oportunidade de ler muito, discutir muito e trabalhar muito e nós sabemos que vocês não gostam de fazer nenhuma destas coisas", explica Eugênio. Os jovens que se interessavam pela proposta procuravam depois os organizadores. Ao longo de dez meses, foram realizados encontros semanais em cada uma das escolas, com alunos de 13 a 19 anos. Mas havia as exceções: em uma das escolas um aluno de 38 anos pediu para participar e foi prontamente atendido. Eram discutidos os mais variados temas relacionados à realidade brasileira contemporânea: Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), racismo, índios, aborto, idosos, globalização, Mercosul entre muitos outros.


Segundo Eugênio, a atuação do projeto sempre foi dentro da linha do Protagonismo Juvenil, ou seja, os jovens tinham autonomia de decisão e liberdade de criação. Desse modo, os temas e tópicos das discussões foram escolhidos pelos próprios meninos e meninas participantes. Uma vez escolhido o tema que nortearia os trabalhos, o mesmo era mantido em todos os encontros de um determinado grupo. A partir daí, os jovens liam em conjunto materiais trazidos pelos coordenadores (jornais, livros, textos da Internet), discutiam e produziam textos sobre os assuntos. "Esses jovens nos surpreederam com visão crítica, opiniões e olhares aguçados", conta o coordenador do projeto. Ao longo do Redescobrindo o Brasil, passaram a ser feitas reuniões entre os grupos, para que os alunos conhecessem o que estava sendo discutido por outros participantes do projeto e trocassem experiências num processo de "socialização da informação", como explica Eugênio.


Um dos momentos cruciais em todo o processo foi a viagem que os grupos fizeram pelos estados da Bahia, de Pernambuco e da Paraíba. 30 das 70 crianças do projeto puderam participar da viagem, principalmente as da rede pública de ensino, para as quais a Secretaria Municipal de Educação cobriu os custos. Na jornada, os jovens tiveram contato com a questão dos negros na Bahia, conhecendo o Pelourinho e os grupos Axé Bahia e Olodum. Em Pernambuco, a cultura regional foi explorada. "Lá, fomos muito bem recepcionados pelo grupo Daruê Malumbo, que nos proporcionou um espetáculo de danças folclóricas realmente emocionante", comenta Parcelle. Depois, a parada foi na Paraíba para verem de perto a tribo e o dia-a-dia dos índios potiguaras. "Foi muito enriquecedor e uniu ainda mais os meninos" diz Eugênio.


Todo o trabalho e os textos foram condensados em um livro, lançado no dia 17 de dezembro. Na ocasião, foi realizado um grande espetáculo com o nome "Que país é esse?", onde eram abordados, através de música e teatro, todos os temas discutidos ao longo de meses no Redescobrindo o Brasil. "Tinha a Mãe-Negra, a Mãe-Índia, o grupo de hip-hop da favela Guarapés, o Toré - dança típica indígena - e contamos até com a participação voluntária de dois atores profissionais aqui de Natal", afirma o jornalista. Quem estiver interessado em obter um dos dois mil exemplares da publicação pode ligar para a TerrAmar pelo telefone (84) 207-1084. Todo seu conteúdo e mais algumas informações vão estar presentes no site da ong, ainda em construção.


Para o futuro, a TerrAmar planeja a expansão do projeto não só por Natal, mas por todo o Rio Grande do Norte, além de parceiras com a Unicef e órgãos públicos. A atuação continuará sendo na área de educação e cultura da criança e do adolescente. A intenção é contribuir para que os jovens de hoje construam visão crítica e adquiram cidadania, assim como aconteceu com os participantes desse primeiro projeto. "Eu tenho certeza que estas crianças, tanto pobres quanto ricas, vão enxergar a realidade de um modo diferente daqui pra frente. Elas conheceram a realidade umas das outras e compreenderam muito melhor o que acontece no Brasil" - afirma Eugênio.


Contatos:

TerrAmar - (84) 212 1258

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