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Fórum Social Mundial - o mundo renovando esperanças em Porto Alegre

Autor original: Graciela Baroni Selaimen

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets

Neste final de janeiro, Porto Alegre é a capital da diversidade. Mesmo antes da abertura oficial do Fórum Social Mundial, no dia 25, a cidade já era palco de uma movimentação inédita. Nos arredores do Centro de Convenções da PUC-RS e em diversos bairros da capital gaúcha, grupos se encontram, se concentram e se reconhecem em seus propósitos.


No Acampamento Intercontinental de Juventude, moças e rapazes ávidos por diálogo e novas perspectivas. No Acampamento dos Povos Indígenas, cerca de 500 representantes de tribos vindos de sete estados brasileiros, além de quatro países da América Latina. Todos prontos para resgatar suas tradições na busca de uma nova possibilidade de integração de suas culturas ao mundo – já que a globalização os tornou quase invisíveis. No campus da PUC-RS, a Associação Livro das Pedras da Cidadania para o Século XXI recebe pedras de diversas origens mas com um mesmo destino: o Mosaico da Cidadania. A imagem não poderia ser mais adequada – o Fórum é um grande mosaico de pessoas, de idéias, onde a nota de fundo é a esperança, o respeito pelas diferenças, onde as línguas são muitas, mas o conteúdo dos discursos é basicamente o mesmo: é preciso mudar. Mais que isso, é preciso lutar – contra o neoliberalismo, contra a política de globalização liberal e da ditadura dos mercados, enfim, contra o sistema tão bem representado em Davos – no Fórum Econômico onde estão neste mesmo momento os construtores do modelo econômico nocivo que conhecemos atualmente: FMI, Banco Mundial, OMC.


Multiplicidade, diversidade, transdiciplinariedade – faz falta aqui a ubiqüidade, porque há muito para ver e ouvir, acontecendo em diversos espaços, simultaneamente.


Informação independente


Dentro da filosofia do Fórum Social Mundial, estará acontecendo durante todo o evento a Ciranda Internacional da Informação Independente. Nesta proposta, jornalistas de vários países estarão compartilhando sua produção, disponibilizando entrevistas, artigos, matérias, notas, crônicas e fotos para acesso e reprodução livre e gratuita. A idéia é mostrar que é possível se fazer um jornalismo ético e consciente, ao invés da mera mercantilização da informação.


A iniciativa é do jornalista Antônio Martins e será operacionalizada por uma rede de voluntários. Com o apoio da Rits, o site do Fórum Social Mundial foi adaptado e nele está funcionando o Publique! – software cedido pela empresa Fábrica Digital para a publicação dos conteúdos gerados pelos integrantes da Ciranda. Para conhecer os resultados da Ciranda da Informação Independente, basta acessar o site do FSM-2001.


Barulho


Antes da abertura solene, na manhã do dia 25 pensamentos diferentes se confrontavam próximo às escadas do Centro de Convenções da PUC–RS. Confronto pacífico, mas nada silencioso: um "apitasso" promovido por representantes do Movimento Estudantil Gaúcho manifestava o repúdio da organização ao Fórum e à política do Governo do Estado. Segundo Catílio Cândido, secretário geral do Diretório de Estudantes da Unisinos, o protesto era contra a suspensão do Crédito Educativo Estadual. O grupo de jovens – todos alunos de universidades privadas – recebeu como resposta uma sonora vaia dos primeiros participantes que chegavam para a solenidade de abertura do Fórum, marcada para as três da tarde.


A abertura


No auditório do Centro de Convenções da PUC, que tem capacidade para 2.500 pessoas, cerca de 4.000 assistiram à solenidade – segundo a organização do evento. As 120 delegações de países participantes do Fórum foram apresentadas, e Maria Edinalva Bezerra de Lima, da CUT, fez o primeiro discurso. Sucinta, Edinalva conclamou os presentes a "romper os limites das fronteiras coloniais". Em seguida falou Bernard Cassen, diretor do Le Monde Diplomatique e membro do Comitê Internacional do Fórum Social Mundial. Segundo ele, o evento serve para "mostrar ao mundo que um outro mundo é possível".


Seguiu-se o discurso do prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, que afirmou ser o momento de construir "uma humanidade conscientemente orientada, e não orientada pelo movimento da mercadoria e do capital". Para Tarso, constitui-se a partir de agora uma sociedade "mais próxima da igualdade e da liberdade".


O Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, fez o último discurso da tarde. Aplaudido de pé, Olívio afirmou que o Fórum Social Mundial é um evento "que pode representar um marco na construção de um novo tempo". O governador falou diversas vezes sobre individualismo e egoísmo e propôs a contraposição a estas posturas através da ética e da solidariedade, para resgatar o ser humano numa sociedade "que é encarada como uma selva, onde o sobrevivente não é o mais justo e solidário, mas sim o mais esperto e poderoso".


Ao final, uma apresentação do grupo musical Afro Tchê - com atabaques e surdos - e de representantes do Movimento dos Trabalhadores Desempregados - com bandeiras coloridas. A atriz Celina Alcântara – negra, de seios nus e com o corpo pintado – emocionou a platéia interpretando o texto do escritor uruguaio Eduardo Galeano "Um convite ao vôo".


O Fórum Social Mundial segue até o dia 30 e a Rets estará divulgando o que acontece em algumas das conferências dos quatro eixos centrais do evento: "A produção de riquezas e a reprodução social"; "O acesso às riquezas e a sustentabilidade"; "A afirmação da sociedade civil e dos espaços públicos" e " Poder político e ética na nova sociedade". Acompanhe as novidades através do nosso quadro de avisos, elaborado especialmente para a cobertura do Fórum, e na Ciranda da Informação Independente.

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