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Um remédio chamado arte

Autor original: Flavia Mattar

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Tudo começou quando o artista plástico Antônio Veronese foi convidado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para pintar o painel Save the Children. O trabalho chamou a atenção da secretária de Cultura do Município do Rio de Janeiro, Helena Severo, que o convidou para trabalhar com crianças carentes. "Achei a idéia ótima, só que radicalizei e fui trabalhar com meninos presos", lembra o pintor. Foi assim que surgiu o Projeto Libertarte, que há um ano oferece oficinas de artes plásticas a 126 meninos no Centro João Luís Alves, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, com o apoio da Petrobrás.


O artista plástico implementou, anteriormente, o mesmo trabalho em outras entidades no Rio, em Brasília e em São Paulo. Desde a criação do projeto, há sete anos, 6.250 jovens de ambos os sexos foram assistidos pela iniciativa. "Antes de entrarem em contato com as oficinas, muitos deles jamais tinham ouvido música clássica, por exemplo. Acharam que era música de igreja. Com a ajuda do projeto, tiveram a oportunidade de participar de aulas de pintura, debates, visitar museus, teatros e shows de artistas famosos", conta.


Segundo Antônio Veronese, somente nos últimos dez meses seus atuais alunos foram cinco vezes ao Museu Nacional de Belas Artes, duas ao Teatro Municipal e assistiram ao show do Gilberto Gil, entre outras atividades. "O mais incrível é que eles saem do presídio e depois voltam sem jamais terem tentado qualquer fuga", anima-se.


O pintor diz que não advoga pela impunidade e acredita que alguns dos meninos detidos atingiram tal grau de septicemia moral que precisavam, realmente, ser afastados da sociedade. "O problema é a forma como esses jovens são tratados. Dói constatar que a imensa maioria dos internos pode ser salva e, no entanto, está sendo jogada no lixo". O idealizador do Projeto Libertarte quer justamente reverter esse quadro.


"Para isso, nada melhor do que a arte, capaz de emocionar e mexer com a cabeça. Eu sempre digo que estética é remédio. Quando um menino vê que é capaz de fazer alguma coisa que seja objeto de admiração dos outros, ele se reavalia. Isso aumenta a sua auto-estima e ajuda a restaurar a sua dignidade", avalia o pintor - que afirma que, mais do que ensinar alguma coisa, está tendo a oportunidade de aprender com seus alunos.

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