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Apoteose da cidadania

Autor original: Graciela Baroni Selaimen

Seção original: Notícias exclusivas para a Rets

Por trás dos carros alegóricos, adereços e fantasias que encantam os olhos do mundo nos quatro dias de Carnaval, existe um movimento que não se percebe na avenida, mas que marca o ritmo de trabalho de um grande contingente de pessoas durante todo o resto do ano. Estamos falando dos projetos sociais que são desenvolvidos dentro da cultura do samba, que têm por objetivo levar propostas de educação, capacitação profissional e cidadania às populações de comunidades carentes.


Um bom exemplo deste tipo de iniciativa é a ong Planeta Golfinhos da Guanabara, que desenvolve um trabalho de capacitação profissional em comunidades de diversos morros cariocas – Cantagalo, Pavão-Pavãozinho, Chapéu Mangueira, Babilônia, Rocinha, Vidigal, Cerro-Corá, Dona Marta – e em alguns bairros do Rio de Janeiro, Niterói e São João de Meriti. O projeto tem como carro-chefe a Escola de Samba Mirim Golfinhos da Guanabara. Segundo Sergio Murilo Pereira Gomes, fundador do projeto, “a idéia é levar uma proposta de educação baseada no imaginário cultural, trabalhar com o viés da cultura local como âncora pedagógica. Para tal, são desenvolvidas oficinas, com base nos ofícios de Carnaval, que vão atender também outros mercados”.


O projeto surgiu em 1995, patrocinado pelo Conselho da Comunidade Solidária, pela Fase/SAAP e pela Unesco e atende a cerca de 400 jovens em oficinas de informática, dança, educação ambiental, cidadania, turismo local e idiomas, além de oferecer atividades esportivas. As capacitações especialmente orientadas para a produção carnavalesca são as oficinas de “Indumentárias e Adereços”, “Orquestra de Percussão” e “Arte - Cabeça em Perucas Especializadas”.


Nos dias de Carnaval, as crianças e jovens que compõem a Golfinhos da Guanabara fazem um intervalo nas suas atividades e vão para a passarela mostrar o que sabem: desfilam na Marquês de Sapucaí . Este ano, os 2.500 componentes da Escola de Samba Mirim vêm com o enredo “Naïf Carnaval”, baseado nas obras dos pintores de arte naïf do Morro do Cantagalo. Sergio Murilo explica que “a prática deste trabalho vem confirmar a tese inicial quanto à filosofia de método; quer dizer, com base na cor local, em respeito à própria identificação cultural, a educação se constitui num sistema promissor de cidadania. Aquilo que no início do século passado e até poucas décadas atrás não tinha espaço oficial, visto que não correspondia aos valores da cultura dos colonizadores, é hoje a fonte de brasilidade, que vai melhorar a auto-estima e cria perspectivas de um futuro seguro e saudável, e um presente prazeroso, alterando a ótica sobre a realidade. Hoje, o samba serve como referencial de uma pedagogia social”.


Batuque na Escola


No Ciep Dr. Bento Rubião, que fica na Rocinha (a maior favela do Rio de Janeiro), 700 jovens integram o projeto educacional "Macunaíma, um Batuque na Escola", que o núcleo Ecoar - Educando com Arte - desenvolve em parceria com a ong Roda Viva, o Instituto C & A e a Coordenadoria Regional de Educação do Rio de Janeiro.


Segundo Carla Strachmann, coordenadora do Ecoar e do projeto Macunaíma, a proposta do trabalho desenvolvido é fazer uma interface entre cultura, educação e arte. Segundo ela, "é através da apropriação da identidade cultural que se estabelece a noção da cidadania. E o samba é um elemento muito forte na construção desta identidade".


Atualmente, o projeto oferece oficinas de canto coral, percussão e artes plásticas. Carla conta que os alunos de artes plásticas confeccionaram fantasias e adereços para este carnaval, reciclando lixo. Já na oficina de percussão, 150 crianças de 6 a 14 anos estão sendo preparadas para integrarem baterias de escolas de samba. A partir de março, os jovens percussionistas começam a ensaiar regularmente na Acadêmicos da Rocinha. A longo prazo, o projeto visa implantar, gradativamente, um pólo cultural na Rocinha.


Neste ano, está sendo desenvolvido um sub-projeto chamado "O que é que a Rocinha tem?" Uma das atividades realizadas é uma pesquisa sobre a história da Escola de Samba Acadêmicos da Rocinha. Os alunos do CIEP Dr. Bento Rubião compuseram uma marchinha de carnaval sobre o tema e desfilaram pelas ruas da comunidade, num bloco pré-carnavalesco. Carla afirma que a pesquisa continua ao longo do ano, abrangendo a história da favela, desde sua origem.

Para saber mais sobre o projeto "Macunaíma, um Batuque na Escola", basta entrar em contato com Carla Strachmann através do e-mail ecoar_edart@bol.com.br .

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