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NBA vai investir em projetos sociais no Brasil

Autor original: Graciela Baroni Selaimen

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Na semana passada, jovens de comunidades carentes do Rio de Janeiro foram assistir a uma partida de basquete entre a equipe do Flamengo e os jogadores da NBA, a Liga norte-americana. A equipe americana também esteve presentes na Mangueira para visitar o projeto social e esportivo desenvolvido ali. Em entrevista à Rets, o Diretor Geral da NBA para a América Latina, Arturo Nuñes, revela os planos que a Liga tem em relação ao Brasil. Além de montar um escritório brasileiro para coordenar seus projetos no país, há outras formas através das quais a organização pretende atuar: entre elas, apoiando projetos sociais que ajudem a promover o desenvolvimento humano e comunitário através do esporte.


Rets - O que vocês vieram fazer no Brasil além de jogar basquete? Que idéias e propostas que vocês vieram avaliar ?


Arturo Nuñes - A NBA está sempre tentando estimular o desenvolvimento do basquete mundial. A NBA é uma liga internacional, que leva espetáculos a todas as partes do mundo. E tem interesse agora, particularmente, no Brasil, Argentina e México. Eu sou Diretor Geral, e dirijo esforços lá no México e aqui na América do Sul. Realmente, vemos o Brasil como um mercado de muita importância para o basketball. Não só isso, mas nós também temos muitos parceiros globais, como a IBM e a Coca-Cola, que desenvolvem projetos em países como Brasil e Argentina. E, como eles são nossos parceiros nos Estados Unidos, queremos encontrar um jeito de trabalhar com eles mais a fundo na América do Sul. Nós estamos programando abrir um escritório na América do Sul. Eu acho que o país mais lógico para isso é Brasil.


Rets - Então,a idéia é montar um escritório da NBA no Brasil? E como a NBA pretende atuar?


Arturo Nuñes - Sim. E esse escritório terá várias coisas a fazer: desenvolver o basquete entre as crianças, os meninos e meninas brasileiros. Entendemos que o esporte é uma maneira de fomentar o desenvolvimento social, é uma forma de levar ajuda às comunidades. Além disso, tem muitos fanáticos pela NBA que vêem os jogos pela televisão. Nós temos muitos parceiros televisivos, como a PSN e a ESPN Internacional. E nós temos que estar aqui no país para prestar serviço a eles e promover o jogo de basquete. Queremos tirar o jogo da tela da televisão e fazer disso uma coisa real. É uma maneira de a gente prosseguir com essa emoção da NBA. Estamos pensando, para 2002, talvez a gente traga um jogo da NBA para cá, com duas equipes da NBA para jogar aqui. Eles também vão, no tempo em que estiverem jogando aqui, fazer um programa social, voluntário. Então, parte do nosso projeto é criar mais emoção com o esporte “basquete”. Além disso, trazer o jogo da NBA para a realidade no Brasil vai fomentar uma série de produtos e ajudas comunitárias. São, realmente, as gamas do projeto.


Rets - Vocês foram visitar o projeto esportivo da Mangueira e contaram com a presença dos meninos de Vigário Geral, do Chapéu Mangueira, do Morro da Babilônia, da Rocinha e de outras comunidades, que foram assistir vocês no jogo de basquete cnontra o Flamengo. Por que vocês convidaram esse público?


Arturo Nuñes - Nós achamos que isso é uma coisa muito, muito importante, e não fazemos isso só por causa da NBA internacional. Nós temos um projeto grande nos Estados Unidos para comunidades carentes também, que ajudamos a desenvolver. Trabalhamos não só com o basquete, mas com projetos comunitários. Existem jogadores que vão nos locais nos finais de semana e pintam escolas, fazem muitas coisas, muitos projetos sociais. Então, em qualquer projeto que nós fazemos em âmbito internacional, esse é um componente importante. A NBA vem há muito tempo trabalhando na América do Sul. No México, temos um escritório. Aqui, no Brasil, há um ano, trouzemos o Shaquille O´Neal, jogador da NBA e ele foi à Mangueira também, e fez um projeto social lá, fez um clínica para os garotos. São coisas importantes, mas a diferença é que essa entrada com as outras atividades marca agora uma presença fixa no Brasil. Porque entendemos que você chega hoje, fica dois dias, faz um projeto, faz um jogo e sai. E isso às vezes se esquece. Então, queremos ter uma presença permanente no Brasil, uma coisa de larga duração. Isso é importante. E nós achamos que, sempre, em qualquer projeto, a parte comercial - se você vem e faz o jogo, se você vem e vende alguma mercadoria - é uma coisa. Mas você querer fazer parte da comunidade é outra. Então, você tem que se oferecer para fazer alguma coisa boa, positiva para eles. Para nós, essa entrada é uma coisa importantíssima.


Rets – Então, na instalação do seu escritório no Brasil, é importante já manter esse diálogo e essa proximidade com as comunidades?


Arturo Nuñes - Com certeza. Nós temos uma boa relação, não só com as federações de basquete, mas, através de nosso trabalho com o Brasil, com muitas outras entidades e com toda a comunidade brasileira. Não queremos ser um escritório dos Estados Unidos com um satélite aqui. Queremos ser parte do Brasil: a NBA do Brasil.


Rets - Como está sendo a experiência da NBA no México?


Arturo Nuñes – Muito boa. Há dois anos, levamos jogos da NBA ao México. Todo ano, levamos dois times para jogar lá. Mas, além disso, temos um programa social comunitário. Somos parceiros do “Basquete de Rua”, três contra três, cinco contra cinco. Fazemos torneio todos os anos na Cidade do México. Temos um programa chamado True Ball, que é um programa para as escolas, onde nós ensinamos aos estudantes os fundamentos do basquete. E isso se faz com o Ministério da Educação do México. É um programa constante nas escolas do México. Damos apoio, assistência com recursos financeiros, mas damos uma atenção também para o desenvolvimento de talentos. Damos bolas, reestruturamos quadras, para que a gente tenha possibilidade de jogar. Nós sabemos que o esporte é uma coisa que ocupa o tempo das crianças de uma maneira positiva, boa, saudável. Diferente de outras coisas que podem acontecer. Esse é o objetivo desse programa.


Rets - E vocês pretendem seguir o mesmo modelo aqui no Brasil? Por exemplo, fazer uma parceria com as escolas públicas ou com organizações que desenvolvam projetos sociais nas comunidades carentes? Porque há comunidades não têm intimidade com esse esporte, às vezes nem ouviram falar direito do basquete. Vocês pretendem chegar às comunidades através das escolas ou procurando outras organizações?


Arturo Nuñes - Também. Para nós, é muito importante fazer isso. Não só em nome do esporte, mas para o desenvolvimento do talento humano. Nós temos projetos com as Nações Unidas. O que fazemos? Assinamos convênio com eles no ano passado e ainda não temos um projeto para América do Sul, mas temos para a Europa e para a Ásia. Esse tipo de coisa que tem a ver com o basquete, também tem a ver com o nosso apoio às comunidades e ao desenvolvimento pessoal. Então, nossa chegada aqui não se parece tanto com o modelo do México, que é um modelo esportivo, social e também comercial. Através das Nações Unidas, pretendemos fazer aqui um projeto mais voltado para a questão social.


Rets - E como foi a experiência dos meninos das comunidades assistindo à NBA?


Arturo Nuñes - Ah, foi legal, foi legal (entusiasmado)! A participação deles, o apoio, a torcida deles para a nossa equipe... Foi legal. A equipe não ganhou, e é muito difícil isso, mas os jogadores tiveram uma experiência aqui no Brasil muito positiva. E gostaram muito, muito, e ainda vão ficar para fazer uma clínica de basquete e conhecer melhor a Mangueira. Vai ter outra clínica na próxima semana, em São Paulo - com uma comunidade carente também. Uma parte da equipe, eu acho que a metade, vai voltar aos Estados Unidos, mas a outra parte vai a São Paulo conhecer outra comunidade.


Rets - Além do desenvolvimento humano e do esporte, existe alguma outra atividade, algum outro incentivo que vocês pretendem dar às comunidades?


Arturo Nuñes - Eu acho que a nossa relação com nossos parceiros comerciais, como Sprite, Coca-Cola e IBM, é sempre ter uma parte dos recursos de qualquer evento que nós fazemos dedicada às comunidades, para caridade. Então, acho que, quando o projeto da NBA estiver montado aqui no Brasil, vai ser assim que vamos fazer também.


Rets - E como é que vocês pretendem selecionar essas comunidades? Vocês chegaram e já conheciam o projeto da Mangueira. Isso provavelmente vai se estender a outros públicos no Rio de Janeiro. Como vocês pretendem selecionar esses parceiros?


Arturo Nuñes - Cada mercado tem um planejamento estratégico. Então, nós chegamos ao mercado e fazemos um estudo - não só um estudo de basquete, mas englobamos outros fatores. Aí, nós vamos adquirindo parceiros e entendendo quais são as necessidades das comunidades. A Mangueira é um projeto social muito importante, muito grande, mas é através desse modelo que nós vamos aprendendo as outras atividades que podemos desenvolver para ajudar. Então, a nossa primeira relação com o Brasil é conhecer as comunidades. Isso ajuda a entender bem quais são as necessidades e esses parceiros vão indicando quais as melhores oportunidades para nós ajudarmos.


Rets - Os jogadores da NBA já jogaram aqui antes?


Arturo Nuñes - Alguns deles já jogaram no Brasil em times brasileiros, mas para uma boa parte deles é a primeira vez na América do Sul.


Rets - E o que eles acharam?


Arturo Nuñes - A experiência foi legal, não só aqui no Brasil, mas na Argentina também, onde ficamos um tempo. O público ficou muito emocionado, gosta muito de basquete. Os jogadores ficaram impressionados. Mais do que tudo, amaram o Rio de Janeiro. Querem ficar, não querem voltar.


Rets - O esporte supera as diferenças culturais? É uma linguagem universal?


Arturo Nuñes - É exatamente assim. Existe a rivalidade inicial, mas aí os jogadores vão e se conhecem, se tornam amigos, fazem amizade com os outros jogadores. O esporte une as pessoas. Isso para mim é a melhor parte de tudo: ver como as culturas se misturam através de uma coisa positiva como é o basquete.


Rets - E quais são os próximos passos concretos que vocês pretendem dar, depois dessa chegada ao Brasil e da implementação desse escritório, com relação ao andamento dos seus projetos?


Arturo Nuñes - Estamos agora fazendo estudos de análise de mercado, e, para a próxima semana, já estamos entrando em contato com uma firma de recrutamento para ver quem vão ser os funcionários da NBA no Brasil. Então, eu estou entrevistando pessoas e começando a estabelecer relações, tanto com a Federação quanto com os clubes e nossos parceiros locais. Tudo é planejamento agora. Essa é a fase em que estamos. Eu pretendo, antes do final do ano, ter o escritório montado, com Gerentes Gerais do Brasil, Agentes de Marketing, e tudo o mais.


Rets - Então, você acha que para 2002 já vai haver projetos de basquete em andamento em comunidades carentes?


Arturo Nuñes - Com certeza, com certeza.

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